O triunfo do Cavaleiro das Trevas

Filme encerra trilogia de forma satisfatória e sugere novos rumos (Crédito: Divulgação/ Warner)

É fato: The Dark Knight Rises fecha com maestria a melhor trilogia baseada em um herói dos quadrinhos já realizada. 

Sei que é complicado começar com uma afirmação dessas, mas é compreensível se analisarmos a qualidade dos dois excelentes filmes predecessores, incluindo aí a marcante atuação de Heath Ledger como o Coringa, vilão dos vilões da DC Comics em The Dark Knight, de 2008 . É arriscado, mas o que faz de Dark Knight Rises grande é justamente ele trazer sentido para a série como um todo, criando uma verdadeira unidade narrativa para os três filmes. Fora isso, outro fator muito importante e um diferencial em relação aos outros filmes da série é que The Dark Knight Rises é mais divertido. E quando digo divertido não é no sentido filme pipoca, com tiradas engraçadas a cada 5 minutos, como Os Vingadores fez tão bem. É divertido, porque estamos presos a um roteiro complexo, mas também cativante, que é capaz de nos surpreender com pontos de virada na trama que, em qualquer outro filme, soariam demasiadamente óbvios, ou clichês.

Primeiro encontro entre Bane e Batman é batalha épica e seca. (Crédito: Divulgação/ Warner)

E, cada vez mais, me convenço que é justamente essa a “mágica” do cineasta Christopher Nolan. Poucos diretores conseguem lidar com as situações de uma trama de um modo abrangente para um grande público sem deixar de soar refinado. Desse modo, Dark Knight Rises não é um filme tão pesado ou fechado como os seus antecessores. Ele, finalmente, assume um diálogo maior com os quadrinhos e os seus fãs (há maiores referências) e também com a plateia geral. Essa franqueza, inclusive, se traduz na secura das lutas.  Aqui, tudo é basicamente resolvido no soco, atenção para a ótima sequencia do primeiro encontro entre Bane e Batman, frente a frente. Não há nem trilha no momento, só o barulho dos punhos, pontapés e o diálogo brutal. Bane, aliás, é um vilão que faz jus aos complexos problemas de Batman (fato que une os antagonistas dessa trilogia). Não é justa a inevitável comparação com o Coringa de Heath Ledger. Apesar de ambos personagens terem semelhante motivações, Bane age mais por vingança do que qualquer outra coisa. Logo, é um vilão que tem uma razão, além de querer ver o mundo queimar, como diria o Coringa. Fora isso, ele é um dos meios que a produção encontrou para fazer ligação com o primeiro filme da série, Batman Begins, de 2005.  É importante rever os filmes anteriores para um perfeito entendimento desse – apesar do visível esforço para deixar o público a vontade.  

Nolan, pelo menos nessa trilogia de Batman, trabalha com ecos, com unidades e sentidos que guiam todos os capítulos da saga. E nesse não é diferente. O sentido aqui é ascensão, ressurgimento, memória. E tudo isso é reafirmado nos diálogos, seja nas entrelinhas, ou abertamente mesmo – e isso pode incomodar um pouquinho, deixando tudo evidente demais. Conforme o tempo vai passando, se o público prestar bem a atenção, já pode imaginar o que vai acontecer… apesar de, em alguns casos, o roteiro brincar isso, empurrando o público para um caminho, enquanto o verdadeiro está escondido, só esperando para dar o bote. Há um pouco de Inception também nesse novo Batman, por que não?

Anne Hathaway cumpriu bem o papel da ambígua Mulher-Gato (Crédito: Divulgação/ Warner)

É necessário falar dos excelentes coadjuvantes, além dos já conhecidos e sempre ótimos Michael Caine e Morgan Freeman, agora há também Anne Hathaway muito segura como Mulher-Gato, um dos personagem mais ambíguos dos quadrinhos. Esperava-se que seria mais complicado para ela manter o pique o filme inteiro, mas nessa produção sua personagem parece tomar lados, o que deixa suas motivações mais fortes. Joseph Gordon-Levitt já não parece mais o apaixonado sem limite de 500 Dias Com Ela, está firme no papel do policial John Blake, alguém que entende os sentimentos de Bruce Wayne, e que reconhece as virtudes do herói Batman.

Deve se pensar em The Dark Knight Rises como o fim épico de uma trilogia que foi calculada nos detalhes e  feliz em sua realização. Nolan ao incorporar a sua visão sobre o personagem, adaptando certas temáticas e características que achava mais interessante, acabou produzindo a melhor série já realizada de um herói de quadrinhos. Mais do que isso,  respeitou a motivação e a evolução dos seus personagens, e isso é muito visível nessa última parte da trilogia. Ao mesmo tempo, ainda conseguiu criar um “novo” universo para a série. Um universo que aposta em heróis. E isso é uma coisa para se celebrar.

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Jornalista, Especialista em Jornalismo Digital pela Pucrs, Mestre em Comunicação na Ufrgs e Editor-Fundador do Nonada - Jornalismo Travessia. Acredita nas palavras.