O mago e suas poções

Por Riccardo Facchini* 

Ed Motta trouxe seu show para Porto Alegre (Crédito: Divulgação)

Ed Motta pode ser descrito como um mago do som. No seu caldeirão sonoro, vão infinitos ingredientes: muito jazz, soul e funk, com temperos de blues, rock, música brasileira, standards americanos e pop. Essa mistura –homogênea– foi apresentada com vigor no Opinião, na noite de quinta-feira, 9, em show que foi recebido com calor pelo bom público presente.

A apresentação, marcada para as 23h, iniciou às 23h34min, mas nenhum dos presentes pareceu se incomodar com o atraso. A banda, formada pelo fiel escudeiro Paulinho Guitarra, no instrumento que o apelida, Vitor Cabral, na bateria, Cláudio Andrade, nos teclados, e Adriano Vasconcelos, no baixo, recepcionou seu maestro com uma abertura calma, para quando este entrasse no palco rechear com muito suingue.

O repertório permanecia sempre um mistério, já que Ed e cia trouxeram uma lista enorme de ingredientes e depois escolheram na hora qual botar no caldeirão. Logo na segunda música, o sobrinho de Tim Maia levantou o público com Cidade Nua, cantada a plenos pulmões por todos na casa. Na sequência, sem deixar a peteca cair, foi a vez da clássica Manuel. Ao longo do show, a qualidade dos músicos foi de cair o queixo. Não erraram uma nota e, durante seus solos e improvisos, mostraram uma capacidade impressionante. O mais perto de um erro foi quando o baterista deixou cair a baqueta, durante o hit Baixo Rio, trocando risadas com o baixista, mas mesmo assim ele segurou perfeitamente a música, sem que ninguém nem percebesse o que havia acontecido.

Ed, por sua vez, é com certeza um dos maiores artistas de sua geração. Completo e criativo, por vezes bancou o maestro da própria banda, ‘regendo’ os músicos em trechos instrumentais. Além disso, parece que sabe tocar suas músicas em todos os instrumentos, afinal, acompanhava-as tocando air instruments sempre que só cantava ou quando se colocava no canto do palco para dar deixar os músicos brilharem. Suas aptidões vocais também impressionam, indo do som grave do baixo até notas agudas afinadíssimas, e sempre equilibrando de forma ímpar essas características. O vocal, em um show de Ed Motta, é mais um instrumento à disposição. Isso ficou claro em uma espécia de dueto que ele fez com o baixo, solfejando as notas que o baixista solava. Além disso, interagindo com o público, fez a plateia solfejar junto com ele.

Daqui pro Méier, Tem Espaço na Van e o sucesso Colombina também apareceram durante o show. Ao término, Ed e sua turma nem saíram do palco para o bis, o que fez ele conversar com a audiência, dizendo que achava muito chato ir para o camarim pra ficar cinco minutos e voltar. Também comentou que está terminando um novo disco de estúdio, que começou a gravar em julho, e uma trilha sonora, toda composta por ele, para uma minissérie que deve estrear em novembro. Nesse pequeno intervalo, um fã demonstrou seu carinho pelo músico presenteando-o com discos do cantor preferido do pai dele, que agora vão se juntar aos impressionantes 30 mil álbuns da coleção particular do músico.

No bis, pediu a permissão para fazer um improviso de jazz, e foi atendido. Depois, foi a vez do público requisitá-lo, querendo ouvir a música Caso Sério. Ed primeiro hesitou, dizendo que essa era música do show solo, mas logo pegou a guitarra de Paulinho e tocou-a, só voz e guitarra, para delírio dos presentes. Ainda houve tempo para mais suingue, encerrando as duas horas de show.

Ed mostrou que leva para o palco seu profundo conhecimento de música e sem deixar de ser acessível, em uma apresentação cujo única ressalva talvez tenha sido uma certa extensão nos improvisos, mas isso está longe de ser defeito ou demérito.

*Estudante de Jornalismo da UFRGS

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