Recortes | Música – Velhas e novas descobertas

Há descobertas que tem o poder de mudar as coisas.

Descobrir que o Papai Noel ou o Coelinho da Páscoa não existem às vezes tem efeito aterrador, mesmo que temporário, nas crianças; a descoberta de uma traição amorosa pode acabar com namoros e casamentos de forma traumática; os avanços da ciência, por sua vez, geralmente alteram a realidade de uma maneira avassaladora: a máquina a vapor, por exemplo, fez com que o mundo nunca mais fosse o mesmo. Mais tarde, a criação da bomba atômica também alterou o curso da história humana de forma imprevisível.

Os avanços da ciência e tecnologia nas últimas décadas têm provocado espanto; a expectativa pela descoberta da cura de doenças como o câncer e a aids é permanente e parece estar cada dia mais próxima.

Eu, por exemplo, espero estar vivo para o momento em que a ciência anunciar a cura para a praga do sertanejus universitarius, que assola milhões em todo o Brasil.

Mas deixando de lado os narizes-de-cera e as piadinhas, a música talvez seja a forma de arte em que o momento da descoberta seja mais prazeroso. A grande maioria das pessoas, se não todos, lembram de algum momento em que ouviram alguma canção e esta ficou na memória de forma irreversível.

Para os curiosos que se empolgam com esses momentos e logo saem querendo ouvir mais músicas daquele artista e procurar todas as informações possível a respeito, grupo no qual eu me incluo, a coisa é mais séria e passa a fazer parte da própria vida de forma irreversível. É como uma bola de neve: começa pequena e, quanto mais vai rolando, mais aumenta de tamanho.

Não que isso seja ruim. Como é bom descobrir uma banda ou um disco novo e comentar com os amigos sobre o “discaço” do fulano. Como é bom ter um nome a mais na lista dos artistas preferidos.

Recentemente, alguns discos que ouvi me fizeram ter essa vontade de espalhar para o mundo o bom e velho “você PRECISA ouvir isso”. Alguns são de artistas já renomados, outros nem tanto.

Por isso, aí vão cinco discos imperdíveis que descobri recentemente para que, quem sabe, você compartilhe a experiência:

David Bowie – The Next Day (2013)

O inesperado retorno do veterano Bowie, após 10 anos do último disco e desde 2004 sem fazer turnês após ter um problema cardíaco, não poderia ter sido mais bem-sucedido. Desde já, candidatíssimo a figurar no topo das listas de melhores discos do ano. Com vitalidade de sobra e calcado em guitarras, o britânico entregou ótimas canções do começo ao fim. O mais incrível é que o álbum vinha sendo gestado há dois anos e ninguém ficou sabendo, algo impressionante numa época com tanto fluxo de informação.

Dave Brubeck – Time Out (1959)

Esse disco já foi citado por inúmeros, sejam músicos, jornalistas, cineastas, audiófilos, etc, como o responsável pela iniciação no jazz. Ouvindo-o, não é difícil compreender o porquê. De uma musicalidade absurda, suave e ao mesmo tempo complexa, é difícil não se apaixonar pelo Time Out logo de cara. O pianista Dave Brubeck faleceu em dezembro do ano passado, mas em 2059 provavelmente ainda vai ser muito lembrado.

Trombone Shorty – For True (2011)

Se tivesse que fazer uma lista apontando quem serão os grandes artistas das próximas décadas, nem piscaria para incluir o nome de Troy Andrews, o Trombone Shorty. For True, seu segundo álbum, tem funk, jazz, blues, rock, hip-hop misturados de uma forma homogênea poucas vezes vista. No álbum, o rapaz canta, toca trombone, trompete, guitarra, baixo, bateria, órgão e sabe-se lá mais o quê. Ainda há participações de artistas como Jeff Beck, Warren Haynes e Kid Rock. “Só pode ser sacanagem”, você deve estar pensando. E é.

Blackberry Smoke – The Whippoorwill (2012)

Essa banda de southern rock lançou um dos melhores discos de 2012 e, segundo alguns críticos, hoje faz um trabalho melhor que o do Lynyrd Skynyrd, icônica banda que praticamente fundou o estilo – e que também lançou um disco no ano passado, chamado Last of a Dyin’ Breed. A única certeza é que os rapazes de Atlanta têm mesmo muito futuro pela frente com seus riffs certeiros e canções contagiantes. Como música não é uma competição, ouça The Whippoorwill sem medo de perder o campeonato.

Jonathan Wilson – Gentle Spirit (2011)

Recomendo esse disco a todos que eu acho que podem se interessar já faz um bom tempo, mas não custa reforçar. Jonathan Wilson faz uma espécie de folk-progressivo sem paralelos na música atual – e provavelmente na do passado também. Com muita consistência, há lugar tanto para o experimentalismo na medida certa quanto para estruturas mais tradicionais. Depois de ouvir uma única vez, não consegui não repetir – mil vezes – a experiência.

Tulipa Ruiz – Tudo Tanto (2012)

Da nova safra de artistas da música brasileira, é quem eu apostaria mais fichas. Dona de uma voz estupenda e com uma melhora grande do primeiro para o segundo disco, o que não é fácil, Tulipa tem todas as credenciais para ser uma das grandes artistas brasileiras do século XXI. Neste último disco, disponível para download gratuito no site da cantora, é duro passar incólume pelas ótimas Víbora, É, Dois Cafés e Like This.

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