Não é só no terreno da música que os artistas do rock imprimem a sua marca. Como se não bastasse arrebatar milhares de fãs show após show e disco após disco, muitos deles embrenham-se pelo mundo das artes plásticas. É certo que o sucesso musical empresta valor e público aos trabalhos de pintura e desenho dos rockstars – alguns empunhando pincéis nem tão bem quanto seus instrumentos no palco. Mas, que seja! Não dizem que, para além de um estilo musical, o rock’n’roll é uma postura? Pois bem: selecionamos alguns nomes que constroem, ou construíram, pontes entre a expressão sonora e a visual, fazendo rock com tinta, papel, tela e lápis.
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Para começar, ninguém melhor do que Ronnie Wood, guitarrista dos Rolling Stones que pinta e desenha desde criança. Antes mesmo de iniciar sua carreira musical, ele recebeu treinamento formal em arte na Ealing College of Art, nunca largando essa sua paixão – ou método terapêutico. Como ele mesmo afirmou: “não há terapia melhor do que começar uma imagem e vê-la tomar forma até o fim”. Inspirações? Van Gogh, Matisse, Picasso, Schiele. Alguns de seus trabalhos podem ser vistos atualmente na galeria Castle Fine Art de Londres – a mostra “Raw Instinct” apresenta telas inspiradas em momentos da banda no palco.
Outra figura emblemática do rock que, quando jovem, teve contato com as artes plásticas, foi a eterna Janis Joplin. A maioria dos desenhos e pinturas de sua autoria de que se tem notícia foram feitos quando ela tinha entre 12 e 20 anos, ou seja, antes da consolidação de sua curta e intensa carreira na música na segunda metade dos anos 1960. Os trabalhos incluem desenhos a caneta, esboços de moda e telas. Os seus desenhos de personagens do mundo de Oz foram feitos quando ela era criança, com base nas ilustrações de John R. Neill para a obra de Frank Baum. Uma pena que esse seu lado não seja mais conhecido.
Já a carreira nas artes plásticas do Bob Dylan, o artista que é mil em um, é um pouco mais famosa. Ele chegou a lançar em 1994 um livro intitulado “Drawn blank”, com retratos, nus, paisagens urbanas e naturezas mortas em desenhos, todos feitos em suas excursões musicais, ou nos estúdios. Na ocasião de uma exposição desses trabalhos em 2008 (Londres), ele afirmou em entrevista para o The Times: “pretendo deleitar o espectador, não se deve buscar nada mais profundo. E se, pelo contrário, causar repulsa à vista, também está bom”. Soa um pouco como a sua música, não?
Porém, a última mostra de Dylan, “The asian series”, promovida pela Gagosian Gallery em 2011, envolveu o músico em uma polêmica: alguns fãs encontraram semelhanças entre os desenhos da série, que pretendia apresentar impressões dele de suas viagens pela Ásia, e fotos de Henri Cartier-Bresson, Dmitri Kessel e Léon Busy. Plágio? Pode ter sido simplesmente inspiração. Para garantir, a galeria alterou a descrição da exposição de “um diário visual” para um “reflexo visual” das viagens. Vejam as imagens e tirem as suas próprias conclusões.
E já que não basta ser ex-beatle e talvez o mais idolatrado músico vivo da história do rock, Paul McCartney ataca também como pintor. Mas esse talento não se mostrou cedo: sentindo-se inibido por não ter formação acadêmica na área, ele deixou as artes plásticas de lado na maior parte de sua vida, apesar de apreciá-las. Chegou a conviver com grandes nomes das artes visuais como Andy Warhol, Claes Oldenburg, Peter Blake e Richard Hamilton, mas foi apenas no final da década de 1990, quando ele se aproximava de seus sessenta anos, que essa sua faceta tornou-se pública, em uma exposição em Siegen, na Alemanha. Variando entre paisagens, rostos e o abstrato, Paul chegou a retratar o colega do quarteto, John Lennon, e David Bowie. No seu site há uma seção com as suas séries de quadros.
Longa vida às incursões de músicos pelo mundo das artes plásticas!
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Na última sexta-feira, dia 19, o rock perdeu um dos importantes artistas que lhe deram aspecto visual: Storm Thorgerson, famoso pela parceria com o grupo Pink Floyd, faleceu aos 69 anos em decorrência de um câncer. É dele a memorável capa do disco The Dark Side of the Moon, o prisma atravessado pelo feixe de luz. As capas de Wish You Were Here – com o homem de negócios em chamas – e Animals – o porco sobrevoando a usina termelétrica de Battersea, também foram feitas por Thorgerson. No seu currículo estão ainda trabalhos com Led Zeppelin, Peter Gabriel e Muse. David Gilmour manifestou-se sobre a morte do amigo através de comunicado: “Nós nos conhecemos no começo da adolescência. Nos reuníamos em Sheep’s Green, um lugar à beira do rio em Cambridge, e Storm estava sempre na ativa, fazendo barulho, cheio de ideias e entusiasmo. Nada mudou ao longo dos anos. Ele foi uma força constante em minha vida, tanto no trabalho como na vida privada. Ele foi um ombro para chorar e um grande amigo. Eu sentirei sua falta”. Falando da relação entre rock e artes visuais, impossível deixar de mencioná-lo.