A dançante estreia da Banda do Mar

Texto Júlia Corrêa

Fotos Michel Cortez

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Porto Alegre foi a cidade escolhida pela Banda do Mar para receber seu show de estreia. Desde o anúncio de formação da banda, em maio deste ano, os fãs de Marcelo Camelo e Mallu Magalhães esperavam com ansiedade para ver o resultado desse projeto inédito, que conta ainda com a parceria de Fred Ferreira, músico e produtor lisboeta.

Na noite da última sexta-feira, 10 de outubro, em um Auditório Araújo Vianna quase lotado, os músicos fizeram questão de ressaltar a escolha da capital gaúcha para o lançamento da turnê. Camelo já demonstrara anteriormente seu gosto pela cidade, ao escolher o Theatro São Pedro como local de gravação de Mormaço (2012), o último DVD de sua carreira solo.

As canções da banda, liberadas na web para os fãs, já adiantavam um clima mais solto e animado do que o das carreiras individuais de Camelo e de Mallu. O clipe da música Mais Ninguém, por exemplo, surpreendeu ao mostrar o trio a dançar despojadamente, seguindo a coreografia de FezinhoPatatyy, garoto hit da internet. No show, o tom informal ficou aparente logo na primeira música, Hey Nana, quando a plateia levantou dos lugares marcados e foi para mais perto do palco, assim permanecendo até o final da apresentação.

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Músicas das carreiras solo dos artistas também fizeram parte da setlist.

Me sinto ótima foi a primeira música cantada por Mallu. A cantora demonstrou estar bem menos tímida do que já foi: carismática e dançante, interagiu com mais desenvoltura com o público. A música seguinte, Cidade Nova, parece fazer referência a Lisboa, nova residência do casal e local de formação da banda. Nessa faixa, o músico português se destacou na bateria, mostrando também sua importância no grupo.

Na sequência, as músicas Solar, Mais Ninguém e Pode Ser endossaram a atmosfera romântica do show.  Mas, apesar das letras e melodias simples do repertório, o público mais dançava do que cantava. Tanto que, depois de Faz tempo, Camelo brincou com Fred sobre a pouca participação da plateia, porém reconhecendo que com disco novo é assim mesmo.

Se o público permanecia contido de alguma maneira, sem estar inteirado de todas as letras, a partir da nona faixa, pôde entoar músicas conhecidas da dupla. Camelo tocou desde Doce Solidão, de seu primeiro (e mais melancólico) disco, Sou (2008); Casa pré-fabricada, do grupo Los Hermanos; até Vermelho, do álbum Toque dela (2011). Mallu optou por tocar apenas canções de Pitanga (2011), seu terceiro disco, empolgando a plateia com o hit Velha e Louca e canções como Sambinha Bom. A bonita música Cena ficou prejudicada pela roupagem dada pela banda, com arranjos muito acelerados em relação ao ritmo suave da original, resultado talvez de uma euforia que não foi bem dosada no repertório, podendo ser confundida até mesmo com certa afobação.

Por fim, depois de muitos pedidos da plateia, a banda tocou Janta, a primeira parceria do casal, presente no disco Sou. No bis, a banda reforçou o tom alegre e romântico que permeou a apresentação, com Morena, clássica do Los Hermanos, e com a inédita e agitada Muitos Chocolates, com seu quê de Jovem Guarda.

Quando Marcelo Camelo lançou o disco Toque dela, em 2011, alguns críticos apontaram a presença de Mallu como inspiração para as letras das canções. O mesmo ocorreu quando a jovem cantora lançou, meses depois, Pitanga, que inclusive foi produzido pelo ex-hermano. Agora, aquilo que eram discretas influências entre ambos concretizou-se em um trabalho em comum, com a mão do amigo português. A Banda do Mar, ainda que recente, parece ter chances de firmar um sólido trabalho, conquistando um público mais amplo do que aquele que já acompanhava a trajetória casal. É o que ficou evidente em seu show de estreia, na última sexta-feira.

 

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