A Teoria de Tudo: entre dois pontos de vista

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Teoria de tudo foi baseado no livro A Viagem ao infinito, escrito por Jane Wilde Hawking

Por Raphael Carrozzo

Quando se pensa em Stephen Hawking, duas coisas vem à mente: a primeira é a doença que o fez perder praticamente todos os movimentos, fazendo com que viva em cadeira de rodas e se comunique por meio de um computador. A segunda é sua profissão, a cosmologia, estudo da formação do universo e dos buracos negros, entre outras coisas. Tudo isso o tornou um dos maiores gênios da história. Porém, por algum motivo a maioria das pessoas não consegue atribuir a ele uma faceta mais humana, de alguém que ri, chora, sofre e vive uma vida repleta de emoções.

Baseado no livro A viagem ao Infinito, de Jane Wilde Hawking (ex-esposa do cientista) e adaptado para o cinema por Anthony McCarten, esta produção apresenta Hawking (Eddie Redmayne) como um jovem estudante do programa de doutorado em Cambridge. Durante o curso, Hawking conhece Jane Wilde (Felicity Jones), estudante de Literatura na mesma instituição, e se apaixona à primeira vista. É nessa mesma época que o cientista começa a ter problemas nos seus movimentos corporais e descobre ser vítima de uma doença rara: Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), popularmente conhecida como Esclerose Múltipla.

A Teoria de Tudo, porém, não é inteiramente sobre Hawking. O longa, na verdade, é sobre outra pessoa: Jane Wilde. Assim que descobre a doença, o cientista tenta afastar-se da moça e viver sozinho, já que a previsão era de que ele só teria mais dois anos de vida. Jane, porém, insiste no relacionamento e se mantém ao lado dele. A forma como Felicity encarna a personagem é belíssima e nos mostra a alegria e a dor do amor. No início vemos uma mulher alegre, expressiva, doce e meiga – mas isso não significa que ela seja uma personagem frágil. Pelo contrário, sua decisão de permanecer ao lado de Hawking reflete toda a força e disposição que ela possui para enfrentar todos os percalços que a doença dele vai acarretar. É durante os anos de casamento que a figura de Jane muda para pior.

Tendo que se encarregar da casa e dos filhos, Jane tem como primeira incumbência cuidar do marido. Isso, na verdade, ocupa a maior parte do seu tempo e de suas forças, fazendo com que a personagem passe a ter um semblante mais sério e triste, pois, além dessas “obrigações”, Jane não pode fazer as coisas que tanto deseja. Isso se reflete no figurino da personagem. Se  antes usava  cores claras, ela passa agora a usar roupas de tom marrom (cor do figurino de Hawking), o que demonstra quão imersa ela está no universo do marido, deixando de viver sua própria vida. Não é à toa que, vendo um possível romance entre Jane e o maestro do coral da igreja, Jonathan Jones (Charlie Cox), o público não fique com raiva da personagem mas, em vez disso, acabe torcendo por ela e desejando que ela conquiste momentos de felicidade, mesmo que isso seja fruto de uma traição.

a teoria de tudo 2Porém, se o filme é em sua maior parte a respeito de Jane, Redmayne impressiona no talento, ao encarnar tão bem a figura de Hawking. Nos primeiros anos de faculdade o ator consegue mesclar a personalidade alegre, confiante e expressiva de Hawking – algo que foge dos padrões quando se pensa em um “nerd”, o que torna sua deterioração ainda mais chocante – com os movimentos típicos do início da doença: os dedos tortos, a dificuldade para escrever, o pé se arrastando no chão e um ombro mais baixo que o outro. Durante o casamento, Redmayne mostra o estrago que a doença causa em Hawking, além de, em alguns momentos, expressar apenas com o olhar a aflição do personagem por estar piorando a cada dia. Já em tempos mais recentes, Redmayne consegue demonstrar com perfeição o estágio atual da doença, com o rosto quase que completamente congelado, movendo apenas as sobrancelhas, parte das bochechas, piscando os olhos e expressando-se tão somente com o olhar.

Apesar disso, o filme parece ter um sério problema: evita antagonismos ou situações que gerem conflito, fazendo com que a história pareça um tanto superficial, já que nenhum dos dois personagens – Hawking ou Jane – esboça alguma reação mais tensa ou nervosa passivamente aceitar a vida como ela é. Até mesmo no momento que poderia ocorrer algum conflito – por exemplo, quando Jane teoricamente passa a noite com Jonathan – logo em seguida Hawking adoece e fica entre a vida e a morte.

O fato de o filme se dividir entre dois pontos de vista, – o de Hawking e o de Jane – além de dificultar que o público crie vínculo com o personagem, acaba refletindo que apenas Jane sofreu com a doença, enquanto Hawking, no final da história, obtém sua ascensão e afirmação como um dos maiores gênios da história. Já quanto a fotografia, Benoit Delhomme utiliza tons tristes e dessaturados com tons mais vivos, refletindo a dor da doença e a felicidade de o casal estar juntos. Essa técnica poderia ser eficaz, se o diretor não utilizasse as duas paletas em uma mesma cena, além de soar aleatório, deixa o desenvolvimento da história um pouco confuso.

É uma pena que A Teoria de Tudo fracasse nessas questões e se firme apenas por ter atuações inspiradíssimas, aparentando ser um filme produzido tão somente para ganhar um Oscar na categoria de atuações. Mesmo assim, o longa valoriza a importância de Jane na vida do protagonista, demonstrando não o amor à física – mas, sim, a física do amor.

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3 comentários em “A Teoria de Tudo: entre dois pontos de vista

  1. O filme estava até bacana, porém a traiçao eu tenho certeza que é muito pior que a doença de Stephen… Quem ja foi traido confirma… Preferia ter sofrido com a doença de Stephie… Dor que me assola a mais de 10 anos… E parece que nunca vai ter fim… Hj tenho uma esposa que amo e me ama… Filhos maravilhosos…. Porém infelizmente não consigo controlar as lembranças e a dor ainda é intensa… Comentem ai…

  2. Oi, Carolina, tudo bem? Nas nossas políticas de uso, está claro que não aceitamos comentários que ofendam e desrespeitem os direitos humanos. apagamos não por sua opinião sobre o filme, mas pela menção ao deputado Bolsonaro, que advoga fere diariamente nossos princípios.

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