Clarissa Mombelli estreou com o álbum Volta no Tempo, em 2010, ocasião em que o Nonada conversou com a artista sobre o seu trabalho. Cinco anos depois, mais madura, ela lança nesta quinta-feira, 16 de abril, no Ocidente às 22h o álbum Nessa Estrada e no Fim , cujo nome remete ao tempo de produção, que foi de cerca de três anos. O trabalho começou a ser gravado em 2012 e através de um financiamento coletivo atingiu o valor necessário para a masterização, prensagem e distribuição.
Durante esse período, a cantora participou do Festival South by Southwest, que aconteceu em março na cidade de Austin, no estado do Texas, nos Estados Undos. Para essa viagem, Clarissa conseguiu o incentivo do Ministério da Cultura e do Governo Federal. Como a cantora afirma nesta entrevista, ela gosta de passar seu sentimento nas composições e avalia que o tempo a deixou mais madura musicalmente. “Acho que a emoção está sempre presente na minha criação, seja por experiências minhas, seja de pessoas próximas. Eu observo, sinto e coloco no papel”, diz.
Nonada – O seu primeiro álbum é de 2010. Como você avalia as suas mudanças artísticas durante esses cinco anos? Ficou mais fácil compor ou mudou o seu processo?
O ato de compor em si permanece o mesmo, o que mudou daquele tempo pra cá foi a experiência musical, e a maturidade que vem com ela. Eu percebo que agora quando componho já penso em elementos que podem entrar na música, instrumentos que posso incluir, pausas que posso fazer. Deixo mais espaço para os arranjos já na hora da concepção musical, o que antes eu sentia ser um processo muito mais emocional do que musical. Acho que a emoção está sempre presente na minha criação, seja por experiências minhas como de pessoas próximas. Eu observo, sinto e coloco no papel.
Nonada – O disco começou a ser gravado em 2012, e conta com participações especiais como compositoras Carmen Corrêa e Lara Rossato e do compositor Uruguaio Sebastian Jantos. Como surgiu esse contato e as parcerias musicais?
Então, Nessa Estrada e no Fim é o nome do meu álbum, e este nome remete exatamente à essa caminhada toda que eu vivi desde 2008, quando comecei a produzir o primeiro disco até agora. Para o segundo álbum eu já pensava em fazer algo diferente, que não seguisse regras nem fórmulas, que me desse muita liberdade de criar, me reinventar e me descobrir. Pra chegar nesse resultado, eu entreguei músicas para seis diferentes produtores, de Porto Alegre, São Paulo e também do Uruguai, e isso aconteceu bem naturalmente, foram pessoas que foram cruzando meu caminho neste período de tempo.
Dentro desse momento, participei também dos grupos Escuta o som do Compositor e Autoral Social Club, quando eu conheci a Lara e a Carmen. A gente inclusive fez alguns shows juntas, mas depois cada uma seguiu o seu rumo. Mesmo assim eu quis registrar esse nosso encontro no meu álbum, e as convidei para gravar algumas faixas comigo. O Sebastian Jantos eu conheci pela internet, e um dos produtores do álbum, o Diego Janssen, também produziu o disco dele. Por causa dessa ligação surgiu a parceria e ele acabou gravando comigo em uma das faixas. Sou grande admiradora do trabalho dele.
Nonada – O disco transita por vários gêneros musicais, mas continua com uma pegada folk e também da chamada nova MPB. Você vê semelhança do seu trabalho com outros artistas da sua geração?
Eu creio que tudo o que eu ouço me influencia, desde minha infância até agora. Esses gêneros citados são muito fortes dentro de mim e me dão toda a base da minha composição. Quanto aos artistas da minha geração, eles são também parte dessa base, e se não bebem da mesma fonte, me suprem de ideias pra me reinventar cada vez mais. Não vejo muitas semelhanças explicitas, mas com certeza, eles me influenciam também.
Nonada – Como foi a participação no Festival South by Southwest?
Foi uma experiência fantástica. Fui convidada pelo selo do meu disco Worldhaus Music e recebi incentivo do Ministério da Cultura, do Governo Federal. Pra começar, esse incentivo me fez sentir um super orgulho do meu trabalho, afinal eu estive lá representando o país, com a minha música. No mais pude cantar com o Marcelo Fruet que tem um trabalho incrível e que já vai há anos pra lá, sendo um dos convidados oficiais do festival em 2015. O festival me deu a oportunidade de ver muita gente grande com trabalho já consolidado e muita gente que como eu está louca pra mostrar a sua a música e gerar oportunidades de negócios. Viver a cultura de Austin me fez acreditar que temos chances de ter mais apoio da mídia local aqui também, para construir um mercado musical forte, como acontece lá. Assisti de camarote a artistas incríveis, inclusive a minha musa inspiradora (de musicas que estão nesse novo disco inclusive), Laura Marling, cantora inglesa com quem pude conversar pessoalmente e entregar meu disco pra ela conhecer. Com certeza esse networking eu não teria como conseguir em outra ocasião. Foi sensacional.
Nonada – E a questão de distribuição do álbum, como é? Para o artista ainda é melhor lançar em CD físico, ou só na mídia online?
Por enquanto as vendas vão acontecer nos shows e também pelo meu e-mail clamombelli@gmail.com. Com certeza em breve o disco estará em lojas também. Eu acho que a mídia online é excelente, nos traz grandes oportunidades de mostrar a nossa música e de que as pessoas tenham interesse em procurar mais sobre nós, por isso disponibilizei gratuitamente o meu álbum novo pelo site www.clarissamombelli.com.br O CD físico é na verdade algo tangível. Um cartão de visitas e um produto ainda passível de comercialização. Acho que tudo é valido pra mostrar o trabalho e conseguir oportunidades de sobrevivência e cavar oportunidades dentro do meio musical.
Nonada – Muitas das temáticas de seu novo álbum parecem bem pessoais, como a faixa de abertura “Casa da vó”. Para ti, é mais fácil compor sobre esses assuntos ou é necessário fazer certo esforço?
Por incrível que pareça, a faixa “Casa da Vó”, é um assunto bem pessoal sim, mas não diz respeito à minha experiência pessoal. Essa música foi feita em homenagem à uma das vítimas da tragédia de Santa Maria. Minha cidade (Tapera) perdeu três jovens lindos naquela situação, e a irmã de uma das meninas passou a escrever no Facebook as coisas que estava sentindo. Foi incrível porque eu estava compondo e tinha escrito as palavras: “quero te ver, aqui… sentada me olhando…” e nesse momento surgiu na minha frente mais um texto da Julia. Eu parei de compor e li tudo o que estava escrito naquele texto, e foi tão emocionante que eu entendi que era um recado pra que a temática da música que eu estava compondo fosse aquela: a ausência, a falta e a saudade.
Usei várias expressões que ela usou no texto para compor a letra, uma forma de homenagear a ela também, que foi a fonte da minha inspiração. A casa da vó, é uma música que é muito forte pra todo mundo que escuta ela, porque fala daquela casa que todos já estiveram e que é repleta de lembranças, mas nesse caso, fala da casa da Júlia e da Paula, e do quanto ela pra sempre caberia lá.
Eu gosto de passar emoção no que eu escrevo, e gosto de dizer verdades também, verdades que as pessoas nem sempre tem coragem de falar. Várias músicas trazem esses aspectos dentro deste disco, e eu me sinto representante dessas pessoas. São doze faixas que contam muitas histórias e falam de muitos sentimentos, sejam meus ou não.