Late Phases (Idem, EUA, 2014)
Direção: Adrián García Bogliano
Roteiro: Eric Stolze
Com: Nick Damici, Ethan Embry, Lance Guest, Erin Cummings, Tom Noonan, Rutanya Alda, Tina Louise e Dana Ashbrook.
Apesar de ainda enfrentar certa resistência pela comunidade “intelectual”, o horror sempre esteve entre os gêneros mais ricos do cinema. Neste universo habitado por vampiros, demônios, fantasmas, serial killers, zumbis e aliens, as possibilidades são infinitas. Dentre esses subgêneros, um dos mais complexos e arriscados em termos de realização é certamente o filme de lobisomem. Um mero deslize pode fazer a coisa descambar para o ridículo em questão de segundos, e aí já era: os sustos dão lugar ao riso involuntário e tudo vai pelo ralo.
Não é exagero afirmar que a recente escassez de bons títulos sobre licantropia é culpa, em grande parte, de um par de clássicos lançados há mais de 30 anos. Com um nível quase insuperável de excelência técnica e narrativa, Grito de Horror (1980) e Um Lobisomem Americano em Londres (1981) ajudaram a definir a cartilha do homem-lobo nas telas. Nada do que se fez depois chegou aos pés deles, A Companhia dos Lobos (1984) e Dog Soldiers (2002) incluídos. E agora vem a grande notícia: Late Phases, estreia do espanhol Adrián García Bogliano nos EUA, é um sensacional filme de lobisomem como há muito não se via e fará a alegria dos fãs do gênero.
O diretor conta a história de Ambrose McKinley, veterano de guerra solitário que acaba de mudar-se para Crescent Bay, uma comunidade para aposentados. Aos poucos, o carrancudo ex-combatente vai percebendo que o a vizinhança vem sendo alvo de uma série de supostos ataques de animais vindos da floresta que rodeia a cidade. Claro que os crimes acontecem em noite de lua cheia, e logo McKinley terá de retomar o treinamento dos tempos do Vietnã (e renovar seu estoque bélico com balas de prata) para enfrentar o inimigo de igual para igual.
Late Phases é sóbrio em sua proposta e por vezes até comovente, ao tratar de assuntos como velhice, redenção e o desgaste nas relações familiares. O roteiro equilibra ação, drama e suspense na medida, traz algumas sutilezas a um gênero surrado – o herói, por exemplo, é cego – e até reserva espaço para tiradas cômicas, como o porteiro que lê uma revista chamada Devoured. O jovem Bogliano (ABC da Morte) faz jus ao material com uma direção elegante, entregando planos elaborados e fortes atuações do elenco.
Sim, o longa perderia metade do impacto sem atores que acreditassem no seu potencial. O protagonista é o carismático Nick Damici (o caçador de vampiros de Stake Land), que com seu jeitão de poucos amigos vem se confirmando como um Charles Bronson do terror indie. Ele tem a companhia de outros veteranos do cinema de gênero, entre eles Tom Noonan (Fogo Contra Fogo), Lance Guest (O Último Guerreiro das Estrelas) e Dana Ashbrook (A Volta dos Mortos-Vivos).
Mas e a grande estrela do filme, os lobisomens, convencem? Pode ficar sossegado, afinal, ainda existem produtores que entendem do riscado. Uma das exigências do estúdio Dark Sky, revelou Bogliano na sessão comentada do filme durante o Fantaspoa, eram efeitos visuais com o mínimo de computação gráfica. Aqui o lobisomem ganha uma aparência mais artesanal, old school, próxima da realidade; a equipe técnica supervisionada pelo experiente Robert Kurtzman (Predador, Uma Noite Alucinante, Um Drink no Inferno) também investe pesado no gore, com eviscerações e membros decepados. O resultado é um verdadeiro oásis em meio ao CGI capenga dos Crepúsculos e Underworlds da vida.