New Kids Turbo (Idem, Holanda, 2010)
Direção e roteiro: Steffen Haars e Flip Van der Kuil
Com: Huub Smit, Tim Haars, Wesley van Gaalen, Steffen Haars, Flip Van der Kuil, Nicole van Nierop, Ruud Matthijssen, Lars Boekhorst, Bart de Rijk, Daan van Dijsseldonk, Guido Pollemans, Filip Bolluyt e Jody Bernal.
New Kids Turbo é estrelado por figuras egoístas, intratáveis e estúpidas. Também é hilário – e, não sendo fácil estabelecer uma narrativa inteira em personagens detestáveis, o feito tem grande mérito. Inspirado numa série de sucesso que começou na Internet e depois passou ao Comedy Central da Holanda, o filme aposta desde o início num estilo nonsense, cuja abordagem acaba funcionando quando percebemos que o grupo que acompanhamos não é só o fio condutor da narrativa, mas a causa dos risos – e a eficiência de seu humor grosseiro é tanta que, por mais que gostemos do filme, é bem possível sentir um pequeno constrangimento por essa reação.
Mas é preciso entrar na brincadeira e aceitar que aquele mundo nada tem de verossímil (mesmo que use a crise europeia como vago motor para a narrativa); afinal, seus personagens são tão caricaturais que nunca poderiam ser tomados por humanos reais. Contando com cinco protagonistas quase intercambiáveis em sua idiotice e senso estético atroz (todos tem um visual meio setentista com seus mullets e bigodes, mas ainda mais ridículo), o filme jamais economiza no fato de que o grupo é, mais do que todos, o grande objeto de riso – o tipo de caras que, ao serem demitidos, não conseguem pensar em nada melhor para fazer com o seguro-desemprego do que gastá-lo em toneladas de cerveja. Quando percebem que não conseguirão mais dinheiro do governo, decidem que não vão pagar por mais nada, estimulando diversas ações de revolta pelo interior da Holanda.
E é isso. Daí em diante, segue uma série de gags brilhantes à medida que a situação vai se tornando cada vez mais insana, começando com um jornalista que, desejando fazer uma reportagem sobre o grupo (que só aceita participar mediante pagamento, o que ele prontamente atende), não hesita em dar um viés “Davi vs. Golias” em seu tratamento que só deixa a matéria ainda mais cafona e piegas. Esse estilo de sátira, que provavelmente seria desastrosa em um projeto que se levasse mais a sério, frequentemente surpreende por suas brincadeiras com trilhas sonoras melosas ou heroicas e com clichês de filmes de ação que o filme insiste em ridicularizar (como as câmeras lentas “imponentes” ou “dramáticas”). O nonsense é tamanho que nem percebemos de cara quando eles fazem coisas idiotas mais básicas, como fumar enquanto abastecem o carro – ora, algo apenas trivial quando mesmo tiros são tratados como banalidades (quando se aplicam aos “mocinhos”, claro).
Embora não atinjam o mesmo refinamento de um Edgar Wright, os diretores também recheiam New Kids Turbo com um humor visual eficaz – e mesmo que por vezes as gags se repitam (como o atropelamento), conseguem surpreender pela maneira aleatória com que surgem. Além disso, Haars e Van der Kuil incluem “espectadores” à jornada do grupo que, embora também não sejam exatamente humanos normais, reagem às besteiras que testemunham (nem sempre de maneira razoável). Além disso, há uma bizarra quebra da quarta parede envolvendo a dificuldade de filmes independentes com orçamento que, embora se prolongue mais do que o recomendado, é eficaz em sua proposta. Também divertem a valer os interlúdios que lembram as cenas de J.K. Simmons em Queime Depois de Ler – com a diferença que, enquanto no filme dos irmãos Coen Simmons era a única criatura do longa a fazer sentido, aqui o Ministro da Defesa surge integrado àquele caos: basta dizer que, para controlar a revolta dos New Kids, a primeira ação do sujeito é ordenar a destruição de sua pequena cidade – e o fato de o míssil atingir o local errado é tratado como mero inconveniente.
Politicamente incorreto até o limite do bom gosto (o destino do cão é um bom exemplo), talvez o única falta maior de New Kids Turbo seja pouco diferenciar seus cinco protagonistas – que são quase três, na verdade (o “líder”, o “mais burro” e o “apaixonado”; os outros dois – vividos pelos diretores – pouco tem a fazer). Confesso que demorei um pouco para entrar no espírito da coisa, mas depois ri até o último segundo. No entanto, se você não é fã de humor negro ou absurdo, este definitivamente não é seu programa ideal.