Antes de mais nada, um aviso: isso aqui não é uma resenha de show.
Não vivi a Porto Alegre dos anos 80, e, mesmo que tivesse vivido, não teria idade para frequentar os bares da Osvaldo Aranha. Minhas únicas referências sobre a efervescente cena daquela época são relatos de “sobreviventes”, vídeos e artigos de jornal. Dizer que sinto nostalgia por algo que não vivenciei seria ridículo. Mesmo assim, após alguns pares de anos morando no Bom Fim, compreendo perfeitamente a mística que se criou em torno do bairro, e, principalmente, do Ocidente.
Um dos primeiros lugares que quis conhecer quando me mudei do interior para cá foi o famoso bar na esquina da João Telles. Achei legal. Fui a vários shows, festas, saraus elétricos. Mas aquele “espírito” underground de que eu tanto havia ouvido falar parecia não ser mais tão underground. Aos poucos, o bar foi mudando, atraindo um público mais amplo. Assim como grande parte das casas noturnas da Cidade Baixa, virou um daqueles lugares em que você precisa chegar cedíssimo e encarar uma fila gigante para – talvez – conseguir entrar.
A realização do Paraiba’s Festival, no chuvoso domingo de 24 de maio, resgatou um pouco dessa aura para aqueles que, como eu, não conheceram as noites daquele Bom Fim boêmio. Entre uma cerveja e outra, conversando com amigos e conhecidos, tive a certeza de que não era o único a pensar assim. Havia algo acontecendo ali, naquela hora. No presente, não no passado.
Com shows iniciando a partir das 16h e terminando depois da meia-noite, foram poucos os que ficaram do começo ao fim. A rotatividade é comum nesse tipo de festival, e tendo uma segunda-feira pela frente, dificilmente alguém iria se dispor a encarar uma maratona dessas na íntegra. Afinal, eram 20 (20!!!) atrações, divididas em dois palcos, um invariavelmente mais pesado – no espaço Ox – e o outro, no andar de cima, com bandas de estilos diversos. Entre o hardcore do Real $ociedade e o bate-estaca de Madblush, marcaram presença as bandas RooTsnR, Enchente, Pupilas Dilatadas, Geriatrio, Reverba Trio, Os Torto, Julio Igrejas, Lugh, Monstro Motor, Mary O and the Pink Flamingos, Motor City Madness, Thriatlon, The Paradise Sessions, The Tape Disaster, Space Guerrilla, Lautmusik, Dating Robots e Phantom Powers.
Como sempre havia alguém tocando em algum dos palcos, fazer uma análise de cada show seria humanamente impossível para um sujeito só. Mas uma avaliação pessoal banda por banda, nesse caso, não faria nenhuma diferença. O que é importante saber é que em Porto Alegre tem gente fazendo música nova e gente querendo ouvir música nova.
Fica a torcida para que o Paraiba’s Festival não morra nessa edição. E que o Ocidente honre sua história, abraçando mais eventos como esse.