Cada vez mais ouvimos músicos falando da dificuldade de continuar suas carreiras. A indústria fonográfica perdeu força na sua parte física, na venda de discos. Hoje, quem faz sucesso investe na internet e na qualidade de seus shows. Então, cada ano a mais de “vida” deve ser comemorado. Na noite de domingo (22), a Banda Calote pode celebrar seu sétimo ano. O local escolhido pela banda porto-alegrense foi o Espaço Cultural Vila Flores, um dos novos – e já principais pontos de cultura na Capital. O ingresso custava R$10 e dava direito ao EP Roendo Osso.
Nem a chuva conseguiu conter a comemoração da Calote e de seus fãs. Foram cerca de 1h30min recheados de homenagens às influências da banda e performance de músicas autorais. Conforme o evento, o show estava marcado para às 19h, mas os minutos de atraso não causaram nenhum tipo de problema, visto que DJ Anderson, da Ultramen, estava aquecendo a noite com clássicos da música brasileira e internacional. Destaque para “Deixa Girar”, do gaúcho Bedeu, confirmando que era uma noite de samba rock.
Ovacionados pelos amigos, conhecidos e parceiros, Brunno Bonelli (guitarra e voz), Leonardo Baptista (contrabaixo), Kelvin Koubik (percussão), Renato Dall Ago (trompete) e Leno Fernando (bateria) subiram ao palco montado em uma das casas do Vila Flores. Por maior profissionalismo que a banda quisesse passar, naquele momento, a Calote era uma criança muito feliz pela comemoração de seu aniversário de sete anos, e pela presença de todos que fazem parte da sua história.
As influências da banda consistem em nomes fortes da música brasileira, do passado e do presente. “Mariô”, de Criolo, deu início à apresentação com uma dedicação ao instrumental, característica da Calote. “Sem Compromisso”, de Chico Buarque, estava nas escolhas e, óbvio, foi bem aceita por quem assistia. Entre as homenagens, as autorais “Cigana” e “Jogo Duro” foram cantadas em uníssono, prova de ser uma reunião entre amigos. Na segunda, a banda incorporou “Tristeza”, de Vinicius de Moraes, expressando sua vontade de estar ali: (La ra rara/Quero de novo cantar). Continuando no instrumental, a Calote esqueceu um pouco do vocal e tocou como a Banda Black Rio, grupo formado nos anos 70 que mistura jazz, funk, samba e gafieira. Na sequência, Luis Melodia foi lembrado com “Mistério da Raça”.
A Banda Calote foi vencedora do Festival Palco PUCRS 2013 com a originalidade de suas composições. “O Céu Chora” é uma das músicas que fez parte dessa conquista, tanto que essa canção foi apresentada junto da Orquestra Filarmônica da universidade. Gênero presente na história da banda, o samba foi representado. Eles cantaram “Batendo a Porta”, de João Nogueira, e “Se Acaso Você Chegasse”, de Lupicínio Rodrigues, o rei da dor-de-cotovelo. A politizada “Moro no Brasil”, do Farofa Carioca, também estava na lista. Outras duas músicas autorais vieram ao palco, “Amanhã”, presente no EP distribuído na noite, e “Centroavante”, do projeto Aqui é o País do Futebol, uma compilação de músicas sobre futebol que a banda fez durante a Copa do Mundo de 2014.
Novidade no repertório, mas não na boca de todos que estavam no Vila Flores, “Não Vem Que Não Tem”, de Wilson Simonal, sempre gera reciprocidade entre o artista e o público. Assim como “Réu Confesso”, de Tim Maia, que só no ato de falar “Salve Tim Maia!”, é possível ouvir gritos. Uma lembrança interessante aconteceu na canção “Me Deixa em Paz”. Ela é conhecida na voz de Milton Nascimento, entretanto é do sambista carioca Monsueto Menezes, muito bem lembrado por Bonelli.
Na saideira, a Calote foi com a autoral “Duro, Sem Love, Sem Nada”, canção em parceria com Luis Vagner Guitarreiro. E no sempre pedido bis, mais Tim Maia, agora com “Não Vou Ficar”. No final, a banda solicitou que o público levantasse seus EPs para uma foto. Um belo registro para um aniversário. Esse foi o show para celebrar o sete anos da Banda Calote, uma celebração entre rostos velhos e novos, que fizeram, fazem e farão parte dessa trajetória. Fato consumado nas palavras de Bonelli: “mais um ano de vida ao lado de vocês é muito melhor”.