Nem mesmo a nostalgia salva Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros

Jurassic World – O mundo dos dinossauros (Jurassic World, Estados Unidos, 2015)

Direção: Colin Treverrow

Roteiro: Rick Jaffa

Com: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Vicente D’Onofrio, Ty Simpkins, Irrfan Khan, Nick Robinson, Jake Johnson

O parque dos dinossauros abriu o portão novamente (Crédito: Universal Pictures)
O parque dos dinossauros abriu o portão novamente (Crédito: Universal Pictures)

Dizem que somos capazes de criar falsas memórias. Isso é mais comum quando tentamos lembrar de algo que aconteceu durante a nossa infância. Eu lembro, como se fosse ontem, que vi Jurassic Park no cinema. Lembro do personagem vivido por Sam Neil espantado, quase chorando, ao ver um dinossauro na sua frente. Ou a cena do Dilofossauro, que por muito tempo, me deu medo, me impossibilitando de revê-la. E eu fiquei encantando e com medo desse passeio a que fui levado. Mas levando em conta que o longa é de 1993, e eu tinha 5 anos, acho bem impossível que isso tenha realmente acontecido. Provavelmente eu tenha visto em casa e tenha sentido as mesmas coisas. A música tema criada por John William ainda me emociona. Com tudo isso, é uma pena ouvir a mesma trilha no novo longa da saga, Jurassic World, que consegue ser igual ou pior do que os duas outras continuações.

Dirigido por Colin Trevorrow, o longa retorna, 22 anos depois, à ilha de Nublar, cenário dos acontecimentos do primeiro filme. Só que dessa vez, o local virou o tão realizado sonho de John Hammond (Richard Attenborough): um parque de diversões onde os dinossauros são a atração. Funcionando a 10 anos, o parque é administrado pelo bilionário Simon Masrani (Irrfan Khan) e atrai milhares de pessoas. A investida, mesmo assim, está sofrendo uma queda de público. Para conquistar mais visitantes, a gerente Claire (Bryce Dallas Howard) autoriza a criação do dinossauro Indominus Rex, que mistura o DNA de vários outros dinossauros, além de alguns animais modernos. Após ficar um tempo em cativeiro, esperando o momento exato para apresentá-lo ao mundo, a criatura foge e vai em direção a parte mais cheia do parque. Para contê-lo, Masrani solicita que Owen Grady (Chris Pratt), um ex-militar que reside na ilha treinando velociraptors, ajude na captura do animal.

Tendo uma criatura híbrida, que mistura DNA de diversos animais, como um dos pontos para desenvolver sua trama, Jurassic World tenta abordar um tema que já foi discutido no primeiro longa: manipulação genética e o poder da natureza. Mas enquanto em Jurassic Park essa discussão, mesmo como pano de fundo, consegue ser bem desenvolvida pelos personagens principais Alan Grant (Sam Neil), Ellie (Laura Dern), Ian (Jeff Goldblum) e Hammond, possibilitando o telespectador refletir sobre o tema “manipulação genética”, nessa continuação o debate fica raso, tendo em alguns momentos soado como uma repetição de diálogos do primeiro longa. E é preciso deixar claro que, em 1993, esse assunto era completamente novo para a sociedade, o que permitia discussões mais profundas, dando prós e contra da manipulação genética e, por fim, dando a liberdade para o público pensar se concorda ou não. Em pleno ano 2015, já conseguimos realizar a manipulação genética em muitas áreas, o embasamento teórico e prático é muito mais amplo do que há 22 anos, mas nada disso é usado em Jurassic World para se criar uma trama no mínimo atual.

E é dentro dessa discussão que se via o verdadeiro motivo para a criação de um parque de dinossauros: a possibilidade de reviver animais já extintos há milhões de anos. E era possível ver os olhos de Hammond brilhar com o fato de ter conseguido realizar isso e ter o prazer de mostrar ao mundo. A sua motivação era unicamente movida pela paixão. Duas décadas depois, percebe-se como as coisas ficaram triviais e antigas. Mesmo com tanto visitantes, acionistas percebem que o público diminui a cada ano e que é preciso trazer algo novo, mesmo que seja a repetição de algo velho, só que maior ou com algum incremento. Não existe nem a mínima preocupação em criar algo diferente, interessante e inovador. O que vale é atrair público e, consequentemente, o dinheiro que elas vão gerar. No final, essa “metáfora” cai como uma luva no princípio de criação deste quarto longa.

Chris Pratt encara o caçador (Crédito: Universal Picture)
Chris Pratt  interpreta ex-militar que reside na ilha, treinando velociraptors (Crédito: Universal Picture)

E com um enredo desse, não é difícil de se imaginar que os personagens também sejam rasos. Os protagonistas Grady e Claire são completamente opostos a Grant e Ellie, que eram bem construídos e interessantes (repare como até o nome dos personagens masculinos são parecidos). Pratt encarna o clichê dos filmes de ação: o ex-militar bonzinho que salva todo mundo. Não que Pratt não consiga encarnar bem o papel, o ator já demonstrou muita versatilidade nos diversos filmes que fez, mas o esforço que faz para tornar o personagem no mínimo interessante é em vão por culpa do roteiro que não oferece muito para o ator. Já Claire, sendo gerente de um empreendimento como Jurassic Park, mostra completa infantilidade.

E se, por um lado, as crianças do primeiro filme, Alex (Ariana Richards) e Tim (Joseph Mazzelo) eram carismáticas e serviam como um gancho narrativo para a mudança de personalidade de Grant, em Jurassic World somos apresentados a dois irmãos completamente bobos e desnecessários. Gray (Ty Simpkins) é uma criança fascinada por dinossauros, assim como Tim. Mas enquanto este protagonizava cenas engraçadas com Grant e os dois criavam um vínculo no decorrer da historia, aquele só fica correndo de um lado para o outro durante o longa inteiro. Zach (Nick Robinson), seu irmão mais velho, poderia até ajudar a criar uma trama de aproximação tendo em vista a situação em que eles estão, mas no fim, o jovem só está interessado em flertar com meninas durante o passeio. Essa aproximação entre dois até acontece no longa, mas é em uma única cena, o que soa completamente desnecessário para toda a trama.

Ainda temos os coadjuvantes Masrani, que tenta ser um chefe carismático, mas que nem de longe consegue se igualar ao cativante Hammon, o vilão Hoskins (Vincent D’Onofrio), também não foge de ser outro clichê: um homem que tem o objetivo de usar as criaturas como armas do exército americano. Esses personagens só reforçam a falta de criativa de um roteiro que foi escrito a 10 mãos.

Mesmo com tudo isso, não posso negar que foi nostálgico ver os portões originais do parque se abrirem, rever alguns objetos usados no primeiro filme – como o binóculos que Tim brinca e o jipe usado pelos personagens para passear pelo parque. Até Henry Wu (B.D, wong) reaparece como o geneticista-chefe do parque e responsável por esse feito. Por sinal, é triste ver a trama no qual o personagem é inserido.

Em 1993 Jurassic Park era novidade não apenas pelo tema, mas também por seus efeitos especiais, já Jurassic World não tem efeitos especiais tão impressionantes, como por exemplo, Planeta dos Macacos – O Retorno. E mesmo sendo um filme que tenta vislumbrar pelos efeitos, não alcança, por exemplo, o feito de Mad Max 4, que, mesmo com uma trama simples, possui uma loucura de visual que se encaixa no universo alucinantes dos personagens. Como amante de cinema e da saga Jurassic Park, eu espero, de todo coração, que se for para fazer um filme desse nível, os portões do Parque nunca voltem a se abrir.

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