No show do CPM 22, todo mundo pode brilhar

Eu sempre quis fazer um stage diving, subir num palco e me jogar na multidão. Ficar mais próxima dos meus ídolos, tocar neles para ver se eles existem e depois me jogar num mar de pessoas, flutuando por alguns segundos. Muitas vezes o diving é confundido com o mosh, a roda punk. Na última quinta-feira (1º), no Bar Opinião, o CPM 22 lançou o CD comemorativo CPM 22 20 anos. A banda mostrou que, apesar de fazer sucesso por todo o Brasil, ainda mantém o espírito da música underground, onde plateia e artista se misturam sem restrições. Nessa noite, dezenas de pessoas fizeram o stage diving – sim, dezenas – e realizaram meu sonho.

Fotos: Isadora Heimig

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Badauí levou os fãs ao delírio com canções clássicas do CPM 22

Meia hora antes do show, o vocalista Badauí e o guitarrista Phil cumprimentaram a plateia calorosamente. Badauí estava vestindo uma camiseta do NOFX, uma das influências da banda hardcore brasileira. O público era formado majoritariamente por pessoas que viveram sua adolescência entre as décadas de 1990 e 2000, época em que o CPM surgiu e cresceu. Observei pelas vestimentas que ali havia muitos fãs de Green Day, Offspring, Red Hot Chilli Peppers e Charlie Brown Jr.

Com o Opinião já bem lotado, a banda começou o show com os hits “O Mundo Dá Voltas”, “Não Sei Viver Sem Ter Você” e com um de seus primeiros sucessos, “Anteontem”, lançada em 2000 no disco A Alguns Quilômetros de Lugar Nenhum. A democlipe (videoclipe feito para demonstração e/ou divulgação) da música concorreu ao prêmio Video Music Brasil (VMB) daquele ano. As rodas punk já estavam se formando e todos já cantavam em coro forte as músicas. A sequência seguiu com “Vida ou Morte”, com a clássica “Regina Let’s Go” e com “Entre o Céu e o Inferno”. Nessa última música, um rapaz subiu no palco, abraçou o vocalista e logo depois se jogou nas pessoas. Fiquei feliz por ele, já que achei que era difícil conseguir – mas por que ele não ficou lá em cima por mais tempo? Por um momento, fiquei sem entender.

Um dos momentos mais emocionantes do show foi, com certeza, “Dias Atrás”. Faixa do disco Chegou a hora de recomeçar, a música entrou na trilha sonora de Malhação em 2003 e logo se tornou hit nas rádios. O álbum também lançou sucessos como “Sonhos e Planos” e “Atordoado”. Depois, uma das músicas mais singulares e queridas do público jovem, “Um Minuto Para o Fim do Mundo”. Badauí deixou o Opinião cantá-la a capella durante um minuto. Emocionou a todos. Após, veio a “Irreversível”.

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O show da banda paulista teve duas horas de duração

A partir de “Inevitável”, uma pessoa subiu no palco, depois outra, depois outras. Nesse momento, todo mundo queria cumprimentar, abraçar e tirar selfies com os integrantes Japinha, Phil, Luciano, Heitor e Badauí. Chegou a ficar insuportável para mim ver tanta gente podendo fazer o que eu sempre quis, visto que grande parte dos músicos mainstream não prezam por essa interação intensa com o público em seus shows. Com até oito pessoas em cima do palco, a apresentação continuou com “Tarde de Outubro”, “Apostas e Certezas” e os covers de Bob Marley (1945-1981), na famosa “Three Little Birds” e Ramones, com “Sheena is a Punk Rocker”. O final do show foi anunciado pela clássica “Desconfio”.

Com o tempo, fui entendendo que, melhor do que estar perto dos artistas que admira, é poder se aventurar num pulo que eterniza um momento raro em que qualquer um, sem restrições, pode se tornar uma estrela, nem que seja por alguns segundos. Com duas horas de duração, o show de CPM 22 — com bateria acelerada, solos de baixo crus e vocais gritados — nos desperta uma grande nostalgia de um tempo brilhante.

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