Fotos: LucasFilm/Divulgação
É um tempo sombrio para a Rebelião. Apesar da Estrela da Morte ter sido destruída, as tropas imperiais expulsaram as forças rebeldes de sua base escondida e as perseguiu pela galáxia. Escapando da temida Frota Estelar Imperial, um grupo de lutadores da liberdade liderados por Luke Skywalker estabeleceu uma nova base secreta no planeta gelado remoto de Hoth. O senhor do mal Darth Vader, obcecado em achar o jovem Skywalker, enviou milhares de sondas remotas nos lugares mais afastados do espaço…
Direto ao ponto: O Império Contra-Ataca (1980) é o Star Wars definitivo e uma das aventuras mais perfeitas da sétima arte. Não à toa, foi eleito o melhor filme de todos os tempos em recente pesquisa feita pela revista Empire, deixando para trás pesos-pesados como Cidadão Kane, 2001 – Uma Odisseia no Espaço e O Poderoso Chefão. Exageros à parte, a votação apenas reforça o fascínio que a produção ainda exerce sobre fãs ao redor do globo.
Curiosamente, o filme tinha tudo para dar errado. George Lucas desocupou a cadeira de diretor e, numa decisão que todos viam como um tiro no pé, chamou o desconhecido Irvin Kershner para assumir a missão. Revelado pelo lendário produtor Roger Corman, Kershner vinha de títulos pouco expressivos como A Vingança de um Homem Chamado Cavalo (1976) e o telefilme Resgate Fantástico (1977), com Charles Bronson. As filmagens na Noruega também foram complicadas, com a equipe enfrentando a pior nevasca local dos últimos 50 anos. E o que dizer do grande herói do filme, Mark Hammill, que acabara de ter seu rosto desfigurado após sofrer um grave acidente de carro?
Com tantas adversidades, ninguém em sã consciência suspeitava que Kershner acabaria entregando uma das grandes sequências do cinema. No Episódio V, tudo é maior e mais rico em detalhes, da variedade de cenários e efeitos ao design dos personagens e elementos de cena. Não menos importante é a sofisticação de um roteiro que soube dosar como poucos ação, humor, emoção e uma insuspeitada dose de filosofia.
E aí entra o que talvez seja o grande trunfo do projeto. Lucas tinha um argumento original e, para ajudá-lo a organizar suas ideias no papel, convocou uma reclusa escritora de sci fi: Leigh Brackett. Esta distinta sessentona publicava à época contos pulp para a revista Planet Stories, porém sua experiência cinematográfica trazia roteiros para Howard Hawks (À Beira do Abismo) e Robert Altman (O Perigoso Adeus). “Apenas” isso. Com todo seu talento e autoridade, Leigh injetou um tom mais humano nos personagens, aprofundando cada persona e, assim, os colocou em situações mais extremas que em qualquer outro episódio da saga. Luke (Hammill) é um herói com “H” maiúsculo, Leia (Carrie Fisher) passa de dama em perigo a mulher de ação, e Han Solo (Harrison Ford), mesmo seguindo irresistivelmente canastrão, mostra-se mais engajado com a causa rebelde. Ao outro roteirista, Lawrence Kasdan, coube aparar as arestas deixadas por Leigh, morta antes do início das filmagens.
O filme abre com os típicos letreiros iniciais da saga, situando o espectador alguns anos após a Batalha de Yavin, que fechou o Episódio IV com a destruição da Estrela da Morte. São revelados o fortalecimento das tropas imperiais sob o comando do temível Darth Vader (Dave Prowse) e a localização da nova base rebelde. Nossos heróis Luke Skywalker, Leia e Solo encontram-se refugiados no planeta gelado Hoth.
Cada vez mais obcecado pelo jovem Luke, Vader o procura por toda a galáxia; sua missão é convertê-lo para o Lado Negro da Força antes que ele se torne um cavaleiro jedi. A jornada levará Luke ao encontro de Yoda (Frank Oz), o diminuto mestre jedi que irá iniciar o seu duro treinamento em um planeta inóspito.
O filme mantém um tom de urgência que gruda o espectador na poltrona e só irá soltá-lo no último frame. O clima sombrio leva a momentos desconcertantes e tem na tão citada revelação de Vader a Luke (“I am your father”), próximo ao final, um momento de carga dramática digno de Shakespeare. Essa aura dark produz cenas que podem chocar os menores, como aquela em que Solo aquece Luke, ferido, nas entranhas de um tauntaun em meio a uma forte tempestade de neve.
O Império Contra-Ataca é também o filme em que Vader é finalmente VADER. Em outra sequência bastante sutil mas visualmente impactante, ele recoloca o capacete e temos um rápido vislumbre do monstro grotesco que se esconde por debaixo da veste negra. Brrrr! O quinto episódio ainda introduz a célebre música-tema “Marcha Imperial” de John Williams, que passou a ser uma das marcas registradas do vilão. Num desses vacilos da Academia, a trilha sonora perdeu o Oscar para Fama, mas o filme foi premiado por seus efeitos visuais e som (derrotando o favorito Touro Indomável).
De toda a hexologia, este é disparado o longa que melhor envelheceu. O visual é um arraso, orquestrado pela fotografia de Peter Suschitzky, que se tornaria um fiel colaborador de David Cronenberg. Em uma época onde efeitos digitais eram um sonho distante, também é um alívio acompanhar criaturas e robôs ganhando vida em efeitos artesanais e charmosas trucagens em stop-motion. Sob o controle do ator e diretor Frank Oz, Yoda é certamente o boneco de látex mais expressivo das telas, lado a lado com o E.T. de Spielberg. Misto de samurai, duende e Sun Tzu, é o tipo de personagem que poderia cair no ridículo com suas orelhas pontudas e 75 centímetros de altura, mas que graças aos talentos de Oz e sua equipe de manipulação, tornou-se um dos ícones da série.
O final abrupto e que deixa várias perguntas no ar ainda é uma lição para os preguiçosos roteiristas do cinemão de Hollywood. Por tudo isso, Império permanece absoluto como o grande momento da saga, a obra-prima de Star Wars. Será ele batido esta semana por O Despertar da Força? Logo saberemos. Que a Força esteja com JJ Abrams.