Fantaspoa 2016: O natal mórbido e claustrofóbico de “Follow”

Akasha Villalobos tem boa performance como a última sobrevivente de um massacre
Akasha Villalobos tem boa performance como a última sobrevivente de um massacre

Depois de Natal Sangrento, Gremlins e outros menos cotados, mais um título chega para engrossar a seleta lista de filmes natalinos com alma dark. Follow é a estreia do norte-americano Owen Egerton em longas. Mesmo irregular, a modesta produção vem figurando em diversos festivais de cinema de gênero dos EUA e também teve sessões disputadas no Fantaspoa.

Faltando 5 dias para a noite de Natal, Quinn (Noah Segan) troca carícias com a namorada Thana (Olivia Applegate) na casa deles. Ela exibe um comportamento estranho após um jantar regado a uísque, e tem a ideia de presenteá-lo com um artigo um tanto insólito: um revólver. Thana garante que a arma não está carregada e propõe a Quinn um torneio de roleta-russa. Lógico que as coisas dão errado: na manhã seguinte, o homem desperta (desmemoriado, como manda a cartilha) e logo encontra a amada morta no chão do quarto.

O que vem a seguir não é exatamente um estudo aprofundado das emoções humanas, como sugere o ponto de partida; Egerton passa a comandar um desfile de situações rocambolescamente bizarras, onde o protagonista vai perdendo a sanidade enquanto tenta manter o cadáver apresentável para a ceia natalina. Através de flashbacks, somos informados que Quinn trabalha em um bar e é artista plástico nas horas vagas, num ateliê improvisado no sótão de casa. O espectador vai juntando as peças e descobre também que Thana não era exatamente a pessoa mais equilibrada da paróquia, e que isso pode ajudar a solucionar o mistério do crime.

Nos quesitos técnica e narrativa, não há do que reclamar do trabalho do cineasta. Ele sequer parece um estreante: o visual é cativante e imersivo em seu crescente realismo mágico, há planos de câmera elaborados e a trilha sonora está no lugar, intercalando temas orquestrados e as mais alegres canções de fim de ano. O elenco também se esforça, com o carismático Segan (de Looper e Starry Eyes, já exibido pelo Fantaspoa) dominando quase todas as cenas.

Mas o que poderia se tornar um thriller memorável jamais ultrapassa a linha do mediano. A culpa é do roteiro esquizofrênico, escrito pelo próprio Egerton com base em dois contos de sua autoria. Os personagens vão se atropelando e tomando decisões impetuosas e sem sentido, e por vezes a mirabolância de algumas sequências chega a incomodar. O pano de fundo da trama é frágil e também não chega a convencer.

Follow sobrevive graças ao toque de humor negro que permeia o script (Quinn não sabe o que fazer com o cadáver e as moscas vão tomando conta; o vizinho deficiente que bate à porta pedindo doações em troca de música). É em cenas como estas que o filme mostra vida, e que poderia ter sido algo mais. Do jeito que está, é apenas mais um título casual restrito ao circuito indie.

 

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