Por Pedro Palaoro
Saído de Jaguarão e agora estabelecido em São Paulo, Bruno Bandido, além do apelido curioso, leva consigo as intensas experiências que expõe em forma de seu característico lirismo cru. Em “Tem um palhaço agressivo e um hooligan triste em algum lugar aqui dentro”: a sinceridade da narrativa em primeira pessoae um hooligan triste em algum lugar aqui dentro, seu primeiro livro de contos e poemas, ele expõe suas reflexões sobre sexo, drogas e rock, sem culpa ou medo, mas com toda a sinceridade que podemos esperar da narrativa em primeira pessoa.
E foi pela exploração densa dos cenários de Porto Alegre e Salvador, onde também já viveu, que Bandido exprime o que há de mais vivido na solidão e nas memórias sob à espreita dos tristes goles de bebida. Em 28 peças ele disseca a desolação, e sem detalhes acessórios ilumina a presença humana do que é essencial.
É selvagem, mas com profundidade e sensibilidade. Enumera um protagonista primitivo, mas astuto. Embora com mais atividade que reflexão, é clara a dependência dele pelo escarro culpa intrínseca que constantemente o consulta.
Os contos são repletos de referências pop como a outros escritores, cartuns e músicos, e principalmente aos cotidianos por onde circulou, mantendo assim o leitor sempre no mundo real. Não há espaço para o absurdo, pois tudo é muito verdadeiro, mesmo que possa parecer um delírio adolescente.
Claramente influenciado pelo desleixo de Bukowski e pelo olhar de Kerouac sobre as mulheres, ele realmente poderia ser aceito no mesmo balcão de bar. Não usa o mesmo tom dos outros, pois é bem mais direto e nem possui os adjetivos vagos da língua inglesa. E se para alguns toda a devassidão descrita por ele poderia ser considerada chula isso só mostra o quão digna é esse tipo de obra.
O texto de Bandido é sólido como o meio fio, pois vive à flor da pele os conflitos da rua. Se é real não se sabe, mas ele consegue acertar com força e precisão a atenção do leitor, assim como o protagonista faz na face de alguém que o desafia.