Foto: divulgação

Artistas são presos pela PM durante apresentação na Cracolândia

A Polícia Militar realizou uma operação violenta na tarde desta quinta-feira (1), na Cracolândia, em São Paulo. Várias pessoas foram detidas, incluindo dois artistas que realizavam um espetáculo de palhaçaria no local. Os artistas tiveram sua peça censurada e sofreram violência por parte da polícia, conforme relata em áudio a palhaça Andréa Macera. 

“A gente estava trabalhando na cracolândia e teve uma ação da polícia mega violenta, a mais violenta de todas que já vimos, com muito tiro e bomba. Chegou um carro gigante e uns policiais atirando. Não tinha como sair correndo”, diz. “Um policial veio para cima armado e falou pra gente sentar no chão. Quando todos sentaram, eles pegaram os palhaços, eu e o [meu colega] Flavio [Falcone]”, relata a artista. 

Andréa conta que eles decidiram pegar os integrantes do projeto que acompanhavam a peça – em torno de 17 pessoas – para não deixá-los sozinhos com a polícia. Todos foram levados à 77ª Delegacia de Polícia de SP e  estão com assistência jurídica. A Ponte Jornalismo informou que o fotógrafo João Leoci também foi preso na operação.

A ação artística é realizada toda quinta-feira no local, mas esta foi a primeira vez que eles sofreram uma detenção. A iniciativa integra o projeto “Teto Trampo e Tratamento”, que atende pessoas em situação de vulnerabilidade na região da Cracolândia realizando intervenções com técnicas da arte da palhaçaria e “com Teto, Trampo e Tratamento para Redução de Danos”, segundo a descrição. Andrea também integra o Teatro da Mafalda, escola de palhaças que ajudou na repercussão do caso.

Já Plataforma Brasileira de Política de Drogas, da qual o psiquiatra Flávio Falcone faz parte, soltou uma nota nas redes sociais comentando o caso: “A arbitrariedade aconteceu durante mais uma ação irresponsável da Prefeitura de São Paulo que desde o início do ano tenta desmantelar a cena de uso de maneira violenta. Já basta, essa guerra NUNCA foi contra as drogas!”

Em depoimento em vídeo, Flávio contou que a alegação para a prisão foi que os artistas estavam “perturbando a ordem”. “Nossa atividade estava acontecendo às  duas da tarde, mas a gente sabe claramente que isso é uma tentativa de criminalização do campo da redução de danos e das pessoas que defendem os usuários e estão denunciando as atrocidades e as violações constantes de direitos humanos que essa operação está fazendo na cidade de São paulo”. 

A redução de danos é uma estratégia ético-clínico-política, com base nos direitos humanos voltada para a redução dos riscos e danos sociais, econômicos e da saúde das pessoas que não querem ou não conseguem deixar de usar drogas.

O caso será incluído no Observatório de Censura à Arte, plataforma do Nonada que mapeia casos de censura artística no Brasil. Desde setembro de 2017, quando ocorreu a censura ao Queermuseu, mais de 70 casos de censura direta a artistas forma registrados pelo projeto.

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Nortista vivendo no sul. Escreve preferencialmente sobre políticas culturais, culturas populares, memória e patrimônio.
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