Desonra, do Nobel de Literatura de 2003, J.M. Coetzee, é tema do terceiro episódio dessa temporada. Para esta conversa, a jornalista Gabriela Mayer, apresentadora do Põe na Estante, recebe o estudante de geografia Anderson de Jesus Sousa, e a mestranda em literatura com uma pesquisa sobre Desonra Patrícia Ditolvo, autora do perfil Críticas Instântaneas no Instagram.
David Lurie é um professor universitário. Um homem branco, dono de um espaço até há pouco intocável. Detentor do conhecimento, da autoridade, da propriedade. Lurie estupra uma aluna, mas não vê razão para escândalo. A universidade, no entanto, não pode deixar passar batido e, apesar da tentativa de outros professores de abrandarem a violência e darem continuidade ao direito soberano de Lurie de ocupar o espaço e poder na academia, ele é confrontado, prefere silenciar, nega um acordo e é demitido. Deixa a universidade e deixa a Cidade do Cabo – para a qual volta para visitar a família da aluna que estuprou para saciar sua curiosidade e praticar uma pouco mais de violência. O agora ex-professor vai viver com a filha, Lucy, no interior, em uma propriedade rural onde ela cuida de bichos, vende vegetais em um mercado e divide a terra com um sócio, Petrus, homem negro da região. Os espaços ficam confusos nessa mudança de ares. Os papéis sociais deixam de ter contornos limitados para terem linhas esfumadas, o território deixa de ser meu para ser nosso, os enfrentamentos históricos e sociais deixam de ser silenciosos para serem escancarados.
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