Foto: Anna Ortega/Nonada

Thiago Pirajira e a potencialidade de ser múltiplo

Em um domingo de manhã ensolarado de outubro, Thiago Pirajira entoa cantos festivos no ensaio do Bloco da Laje no recanto africano, área localizada dentro do Parque da Redenção, o mais popular de Porto Alegre. Há quase três anos, eles não realizavam encontros abertos, então, o público compareceu em peso, enérgico e dançante, muitos vestidos com as cores vermelho, azul e amarelo, que representam o grupo. Trata-se do mais conhecido coletivo teatral carnavalesco do estado, com mais de dez anos de existência, e que colocou a cidade no mapa dos festejos de blocos de rua do Brasil. 

A atuação na Laje é só uma das atividades que Pirajira exerce. Além de ator e dramaturgo, co-fundador do prestigiado grupo Pretagô, ele é professor substituto no departamento de Arte Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), mesma instituição em que realiza o doutorado, e na qual se formou no curso de Teatro. É também um dos curadores do Festival Porto Alegre em Cena deste ano, um dos maiores eventos da área no País. E segue participando ativamente de diversos outros projetos.

Mas nem sempre Pirajira se sentiu tão bem fazendo várias atividades ao mesmo tempo. “Por um longo período foi uma questão para mim, a de que eu precisava me definir. A gente vive nesse mundo que é organizado a partir de uma lógica de que é necessário se especializar em algo e que você é isso”, explica. 

Tudo muda ao se reconectar com a sua ancestralidade e com questões de religiões de matriz africana. “Quando entendo que exu é movimento, multiplicidade, o incapturável, o mistério, a ruptura, a subversão, tudo que é múltiplo, plural, eu entendo essa minha particularidade de ser muitas coisas. Então, passo a viver de uma maneira ampla, potente”, diz. 

Um ponto importante foi a peça Ayê, de 2012, que mostra a trajetória de luta e resistência livremente inspirada no primeiro quilombo urbano titulado do país, o da Família Silva, que constantemente sofre tentativas de deslegitimação em Porto Alegre. Esse trabalho foi realizado a partir de um programa da Fundação Palmares.

“Foi a minha porta de entrada para o letramento artístico e racial, de pensar a temática e a estética negra no processo de criação. O edital tinha também esse cuidado de ter maioria de pessoas pretas, então ali foi um processo intenso com essas atrizes e atores”, comenta. A peça estreou em setembro daquele ano, ocupando espaços públicos abertos como praças e parques, antigamente moradia da população negra antes de seu deslocamento forçado para regiões periféricas da cidade.

Ensaio aberto do Bloco da Laje no parque da Redenção em 2018 (Foto: Guilherme Santos/divulgação)

Paralelamente – porque, como diz o próprio Pirajira, ele trabalha melhor “em movimento, na coletividade, e tudo acontece ao mesmo tempo” – era gestado o Bloco da Laje. O grupo nasceu inspirado por diversos fatores, como o de trazer a cultura de blocos de rua de volta, mas também influenciado pela  fervura dos anos iniciais da década passada, que viu  manifestações e a tomada da rua por eventos proliferarem mundialmente, e no Brasil não seria diferente. “Em 2011, nós começamos os ensaios na Redenção, ‘meia dúzia’ de maluco com uns baldes, uns tambores, e em fevereiro de 2012 tem a primeira saída. Era um momento efervescente, muitos movimentos acontecendo e tudo, culturalmente, se contamina e se influencia”, diz. 

E como uma corda com diferentes nós que se unem, foi no mesmo Bloco da Laje que os laços da atriz Camila Falcão foram se estreitando com o artista. “Eu já o conhecia dos corredores da Ufrgs, e quando vi a peça Ayê, achei lindo e então já vinha pensando nele para dirigir o meu espetáculo de final de curso”, comenta. 

O espetáculo viria a ser o celebrado Qual a diferença entre o charme e o funk?. Pirajira lembra que os estudantes eram oriundos da primeira leva das ações afirmativas da Universidade. “Então, tinha todas essas pessoas pretas querendo trabalhar juntas a partir do trabalho final da Camila. Começamos em maio de 2014 e a estreia foi no final do ano”, comenta. No ano seguinte, eles montaram a peça AfroMe, no Boteco do Paulista, tradicional bar de Porto Alegre, e se definiram como grupo Pretagô.

Segundo Camila, Pirajira trouxe, desde o início, um rumo para o trabalho do grupo. “Ele sempre guiou os nossos caminhos, a partir de várias pesquisas, fomos trilhando nossos trajetos dentro do Pretagô, então nos unimos ali no primeiro espetáculo, até a gente se tornar uma grande família, e ele ser o padrinho do Joaquim, o meu filho”, diz. 

Noite Pretagô (Foto: Anelise de Carli/divulgação)

A atriz e diretora Silvana Rodrigues, que também compõe o grupo Pretagô, lembra da época da realização do Charme e o Funk. “Falamos para ele que queríamos abordar a realidade dos jovens negros brasileiros e diante disso ele falou o óbvio: falar de jovens negros é falar de vocês, falar de nós. E a partir desse óbvio que não está dado, começamos uma investigação para aprofundar os processos artísticos e pedagógicos, que ele chama de arqueologia pessoal e que norteia a forma como criamos arte juntos desde então”, explica. 

O crítico teatral e dramaturgo Diego Ferreira diz que o surgimento do grupo Pretagô por si só já foi um acontecimento. “Apenas por reunir um grupo de pessoas pretas dentro da universidade pública nas artes. Lembro de conhecê-los ainda dentro do DAD e me causou um grande impacto por reconhecer naquela oportunidade o aquilombamento de artistas pretos”, diz. Ele também recorda do arrebatamento que a peça Qual a diferença entre o charme e o funk? lhe provocou. “Esteticamente, politicamente e principalmente de pertencimento, de enxergar naquele coletivo a reflexão de identidades e subjetividades que apenas um coletivo negro poderia me provocar”, aponta. 

Ferreira também diz que é importante salientar a importância da educação e da pesquisa públicas. “Campos artísticos tão atacados pelo governo federal só foram viabilizados por estar vinculados a universidades públicas e gratuitas como a Ufrgs e a Uergs que nos últimos anos têm capacitados artistas que têm feito a diferença para nosso teatro”, diz. 

Refletindo sobre todo esse processo, Pirajira acredita que todos esses encontros contribuíram para reforçar a poética e a potência negra em seu trabalho. “Tem algo de obsessão, de uma busca, acho que é por isso que eu faço teatro, sabe? A arte é um lugar onde eu consigo me sentir inteiro, pleno. Onde eu consigo inventar possibilidades”, conclui. 

Criança em performance 

Foto: Anna Ortega/Nonada

Desde que era criança, Thiago Pirajira já tinha facilidade de se expressar. E isso veio de forma natural. Toda sua família, por exemplo, costumava participar ativamente do carnaval. “A minha infância gira em torno das escolas de samba, dos desfiles, dos ensaios, das muambas. Minha mãe era uma pessoa muito sincrética, uma mulher do Santo, mas também era toda mística, católica, então cresci observando diferentes ritos e os corpos em estados extra cotidianos”, diz. 

A performance, então, sempre esteve presente. “Estar em cena para mim era algo que eu procurava. Dançar, fazer coreografias, até fazendo drama em casa, quando eu brigava com minha mãe e chorava imitando as atrizes nos dramas das novelas das nove”, conta.  

Foi nessa época que também conheceu, ainda que brevemente, a Nega Lu, uma das grandes figuras da cena cultural de Porto Alegre. “Ela era amiga de todo mundo e a minha mãe também. Foi no fervo do carnaval, ela era madrinha da banda da Saldanha, eu me lembro das duas conversando. E eu me impressionava porque ela parecia uma figura assim extra humana, tinha isso de um espanto, mas também de se identificar com a pessoa”, diz. Ele diz que Nega Lu é uma referência e que está pensando artisticamente em seu trabalho e processos a partir da vida e da obra dela. 

Nascido em Porto Alegre, no dia 4 de fevereiro de 1984, ele passou boa parte da sua infância no bairro Santo Antônio. “Era uma área residencial, tinha essa ideia de dimensão do quintal da casa que se expande um pouco para a rua, então, se tem mais intimidade com os vizinhos, a casa deles vira um pouco da extensão da tua casa”, aponta. Ele lembra de ter muitas amizades, principalmente amigas.

“Desde pequeno eu tenho consciência de ser gay. E, pelo fato de ser afeminado, de ter sido uma criança gorda, de não estar em um padrão, além da questão do racismo, então no colégio eu era uma criança perseguida, que sofria bullying”, diz. Pirajira conta que sempre encontrou uma espécie de refúgio no estudo. “Por ser um lugar em que eu poderia forjar uma experiência minha e que muitas vezes não estavam encaixadas nas relações estabelecidas entre amigos, era também uma maneira de escapar dessas tensões”, conta. 

Apesar desses desafios que aconteciam apenas por existir, ele diz que nunca teve problemas em casa nesse sentido. Sua família era organizada pelas mulheres, e elas tiveram uma forte influência na sua trajetória. Maria Heloísa, sua mãe, trabalhou muito tempo na área da saúde. “O jeito dela era muito acolhedor, acolhia as diferenças todas. As grandes amigas dela eram lésbicas, mulheres profissionais do sexo, travestis. É esse povo que tá no batuque, no carnaval, ela dizia que era essa gente que é legal e que sabe viver”, aponta. 

Nesse sentido, ele acredita que isso fez com que a sua infância fosse permeada e naturalizada com a diferença. “Vendo as amigas lésbicas da minha mãe, vendo as travestis, eu também pude entender desde muito cedo a minha sexualidade”, diz. Maria Heloísa sempre foi uma de suas grandes incentivadoras. Depois, também se emocionou quando o filho entrou para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2004.  Sua mãe faleceu em 13 de março de 2015, segundo Pirajira, em uma “sexta-feira 13, noite mística”. 

Caminho para o palco

O caminho para chegar aos palcos passa pela influência e o apoio de duas professoras. A primeira delas foi Gabriela Rodrigues, da área da História na época do ensino médio, e que era uma grande entusiasta para que Thiago seguisse nas artes. “Ela viu meu potencial artístico, quando eu ainda tinha receio. Muito devido a essa narrativa de que arte não dá dinheiro, que é muito difícil”, explica. Então, na época ele tentou o curso de Publicidade. 

Ao mesmo tempo, o futuro ator e diretor começava a participar das oficinas de teatro da descentralização da cultura, que surgiu dentro do orçamento participativo durante o governo do PT em Porto Alegre. “Posso dizer que eu sou uma pessoa privilegiada de ter começado a fazer teatro e a minha primeira professora ter sido uma mulher negra. Isso marca a minha vida, inclusive, nas escolhas que eu tenho feito no meu caminho”, diz. 

A atriz e professora era a Dedy Ricardo, e eles mantêm a relação até hoje sendo colegas de trabalho e grandes amigos. Ela recorda de ficar comovida com a intensidade dele já nesses primeiros momentos. “Lembro do Thiago entrar em cena e pensar, mas esse menino nunca fez teatro e o teatro está todo aí nele dentro dele, nos olhos, no corpo”, diz. 

O ator lembra que o primeiro espetáculo que o grupo apresentou foi O que os olhos não veem, a partir de um texto da escritora Ruth Rocha, autora de livros infantis. “Foi a minha primeira experiência teatral, com direção da Dedy, e seguimos apresentando por um ano”, diz.

Foto: Anna Ortega/Nonada

Thiago acabou não passando para o curso da área da Comunicação naquele ano intenso, mas as artes se abriram de vez para ele. E surgiu a professora Gabriela novamente, perguntando sobre o vestibular para o curso de Artes Cênicas. “E eu respondi que sim. Aquele ano passei estudando em casa. Importante dizer que esse ano continuei fazendo a oficina de teatro com uma nova montagem. E a minha mãe continuou pagando a passagem, super apoiadora”, diz. 

Então, em 2004, Thiago Pirajira, que na época morava no bairro Cohab, na Cavalhada, atende o telefone e recebe a informação de uma emocionada professora Gabriela que ele tinha passado no vestibular da Ufrgs. 

Formação de ator

Na universidade, novas oportunidades começaram a aparecer. “A gente sabe que quando se está em espaços que nem todos tem a possibilidade de estar, aparecem mais chances. Por isso a importância de ter cotas, de colocar as pessoas nos lugares de produção de conhecimento”, aponta. No curso de Teatro começou a ampliar a rede e a fazer projetos com colegas do semestre, como o grupo Barraquatro, formado por alunos que entraram em 2004, e que acabou sendo um embrião para trabalhos futuros. Thiago, então, foi produzindo, atuando e sempre articulando.

Por essa época, Silvana Rodrigues conta que viu uma peça encenada pelo grupo BarraQuatro, Projeto Picasso: um sonho, com direção da Júlia Ludwig. “Foi muito marcante para mim a primeira vez que vi o Pirajira em cena, porque no espetáculo ele trazia uma qualidade de atuação que chamamos de econômica, fazendo o estritamente necessário e numa cena específica ele conversava com o público no proscênio e aquilo me pareceu tão mágico, tão encantador, tão sem ilusão, tão perto, tão para mim”, diz. 

Para ela, isso posto em perspectiva acaba contrastando com a personalidade do ator. “É engraçado e curioso pensar nisso agora, porque o Pirajira é gigante e irradia em cena atuando ou como diretor e essa memória é uma fatia da mística que acompanha ele, de não querer ser preso na retina, de não estar fixo num único lugar como artista”, diz. 

Em 2005, foi um dos atores selecionados no Festival Porto Alegre em Cena para a montagem da peça A Dama do Mar, do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, considerado um dos criadores do teatro realista moderno. Era um intercâmbio promovido pelo Festival, que trouxe as diretoras norueguesas  Catherine Kahn e Anne Klovholt para montarem o espetáculo. “Apresentamos aqui e em 2005 fizemos uma turnê por três cidades na Noruega. Ainda fomos para o Paquistão para apresentar em um Festival subsidiado com recursos do governo norueguês”, conta. O começo da carreira no sentido de uma profissionalização foi muito rápido para Pirajira. 

No final daquele ano, aconteceu outro fator importante para sua trajetória. Ele foi convidado a participar do tradicional grupo Usina do Trabalho do Ator (UTA) de Porto Alegre, que completou 30 anos agora em 2022. Ele diz que essa foi a sua grande escola de teatro como ator. “A UTA é esse lugar onde eu aprendo sempre com os meus colegas, por ser um grupo que tem uma trajetória e um rigor de trabalho muito intenso. Então  muito disciplinado delineado nos seus objetivos metodologicamente. Isso faz com que a gente consiga articular também o próprio trabalho de ator dentro da universidade, assim como o trabalho de pesquisa”, explica. 

Dedy Ricardo já fazia parte do UTA e lembra da entrada de Pirajira.  O grupo atualmente é formado também por Gilberto Icle, Celina Alcântara, Ciça Reckziegel, Gisela Habeyche e Shirley Santos Rosário. “Na Ufrgs, ele foi aluno de colegas meus do UTA, e quando nós precisamos de um ator foi consensual. As outras professoras já conheciam o trabalho dele também”, diz. Gilberto Icle, professor da Faculdade de Educação da Ufrgs, e que também orientou Pirajira no mestrado, diz que ele é um ator muito minucioso. “Acho que ele tem a capacidade, o detalhamento e a sensibilidade de um grande artista”, aponta. 

Professor compromissado

Foto: Anna Ortega/Nonada

Com tantos professores envolvidos na sua trajetória, parece quase natural Pirajira buscar essa posição. Ele fez mestrado na área da educação da Ufrgs em 2019  analisando o processo de criação de quatro artistas cênicos negros que fazem parte do bloco da laje. Mas essa não foi sua primeira incursão na pós-graduação. 

Na realidade, ele começou a fazer mestrado em 2011 no programa de pós-graduação em artes cênicas da mesma universidade, só que acabou não concluindo. “Somente anos mais tarde entendi que foi racismo acadêmico, porque fui negligenciado nesse espaço por conta das minhas escolhas artísticas, por estar pesquisando a minha trajetória como artista dentro de um grupo”, diz. No caso, Pirajira aponta que houve negligências, na ordem do ‘não visível’, e das relações. 

“Não é um caso isolado. Esse tipo de racismo faz parte da estrutura das instituições brasileiras. Em pleno 2022, alunos pretos, alunos indígenas, alunos que entraram por cota social por muitas vezes estão com matrícula precária e essa é a justificativa delas serem desligadas na universidade. É preciso de cotas para permanecer e políticas para o aluno ter a capacidade de concluir”, comenta. 

Ele vê como estratégico a sua posição de professor dentro da Universidade, e justemente por isso resolveu voltar para cursar doutorado nas artes cênicas, em que segue pesquisando os processos criativos de atores negros. “Quando eu vou me letrando cada vez mais racialmente a partir das minhas criações, dos processos criativos, das articulações com temáticas e estéticas negras, também vou entendendo, como uma pessoa preta, que estar na universidade é estratégico”, explica. Para ele, é importante se colocar como uma referência para outros que estão chegando. 

Como professor substituto no curso de Teatro, ele leciona uma disciplina obrigatória de atuação e um laboratório de composição, mas as cadeiras costumam variar dependendo do semestre. “É um lugar estratégico, porque estou articulando a linguagem desse espaço ao mesmo tempo em que estou propondo e criando para que outras pessoas também possam articular junto. Por exemplo, agora tem mais alunos pretos no curso e muitos deles me procuram, para terem disciplinas  comigo”, diz. 

Saberes e heranças 

O ator, dramaturgo e também gestor cultural Jessé Oliveira, à frente do pioneiro grupo Caixa-Preta desde a sua criação, em 2002, conta que a arte e os aspectos culturais e valores negros são heranças recebidas pelos ancestrais, sejam as comunitárias, familiares ou políticas. 

Ele relembra também do intelectual e artista Oliveira Silveira, que certa vez escreveu para o programa da peça Hamlet Sincrético, de autoria do grupo, sobre o legado dos teatros negros no Rio Grande do Sul. Impressionado com a profundidade do mapeamento, Jessé sugeriu que Oliveira escrevesse um livro sobre o tema. “Ele, calmamente, como lhe era peculiar, disse sorrindo: eu não, quem deve fazer é tu. Uma década após a morte dele, eu entendi o significado desta fala. Nossas lutas são como uma corrida de bastão em que sempre estamos entregando o bastão para um/a irmã/irmão negro/a que conseguirá avançar em nossas conquistas. Digo isso para falar do Thiago Pirajira, um dos artistas desta cidade que vem desempenhando um papel fundamental em diversos campos dos saberes com a compreensão de que estamos nesta luta juntos”, diz. 

Para Jessé,  Pirajira tem pontuado sua trajetória artística de maneira singular. “Ator, diretor, produtor, professor, pesquisador das artes cênicas e carnavalescas e um provocador em todas as esferas que se envolve. Tenho muito orgulho de ser contemporâneo deste artista que desafia o mundo racista com seu deboche e com sua estética… negra”, aponta.  

O dramaturgo e crítico de teatro Diego Ferreira, diz que o surgimento do Pretagô impactou fortemente a comunidade teatral. “Nós artistas pretos da cidade tínhamos até então uma forte referencia, que é o grupo Caixa Preta, que durante muitos anos foi ponta de lança do teatro negro gaúcho de modo coletivo, pois temos vários artistas que conduzem seus trabalhos e carreiras, mas de modo avulso ou individual, e a força do Pretagô residia justamente por ser mais um coletivo para produzir e refletir o teatro negro gaúcho”, comenta. 

Para ele, o impacto do grupo também ajudou na criação de novos coletivos, como é o caso do Espiralar Encruza, que assim como o Pretagô também tem origem dentro do Departamento de Artes, da Ufrgs. “Então Porto Alegre passa a ter outras visões e possibilidades de pensar o teatro preto com suas especificidades e pluralidade e isso impacta toda uma geração de artistas e espectadores”, aponta. 

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Jornalista, Especialista em Jornalismo Digital pela Pucrs, Mestre em Comunicação na Ufrgs e Editor-Fundador do Nonada - Jornalismo Travessia. Acredita nas palavras.
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