Everton Ribeiro/divulgação

Conheça a Batalha São Hell, movimento que expressa cultura e desperta o senso crítico

Gabriel Reis*

Sendo uma manifestação cultural que emergiu das problemáticas sociais enfrentadas pelos subúrbios dos Estados Unidos, o movimento Hip-Hop se caracteriza como uma arte orgânica. Através das quatro correntes do movimento Hip-Hop – rap, break-dance, grafite e MC ‘s -, a subjetividade dos envolvidos é exteriorizada artisticamente mediante a vivência nas ruas. Entre a politização, a formação cidadã e o afloramento da cultura: o movimento Hip-Hop é uma expressão cultural das ruas que une arte, subjetividade e empoderamento do senso crítico. 

No cenário local de São Leopoldo, Braian Aparecido de Almeida Gehlen, cientista social, presidente do Conselho Municipal de Cultura de São Leopoldo e organizador da Batalha São Hell, figura como um dos principais representantes do movimento Hip-Hop na cidade. Braian aponta para a necessidade do movimento se politizar para construir junto com a juventude debates sobre pautas progressistas. Para o sociólogo, a formação cidadã de uma pessoa advém dos seus meios de convívio. Deste modo, o movimento Hip-Hop de São Leopoldo se apresenta como um ambiente de construção do senso crítico, de conhecimento dos próprios direitos e reconhecimento do próprio espaço que ocupa na sociedade.

Conversamos com Braian após a última edição do evento para compreender mais do trabalho de base realizado pela Batalha São Hell, os futuros desdobramentos do projeto e das políticas culturais para o movimento.

Confira a entrevista: 

Como a sua história se cruza com a história do movimento Hip-Hop de São Leopoldo?

Eu nasci na Campina, região economicamente excluída de São Leopoldo. Durante a minha adolescência o meu tio ouvia muito rap. Por vezes íamos ao camelódromo de Porto Alegre comprar fitas cassete de rappers e roupas que fazem menção à cultura Hip-Hop, principalmente da Pixain e da Fobu. A gente ouvia muitos artistas como Face da Morte e Sabotage e desde essa época – meados de 2003 – criei um apreço por esse estilo musical. 

Até certo tempo não havia produzido nada referente ao rap, o que foi mudar em 2010, quando comecei a frequentar mais o centro de São Leopoldo. Nessa época, já estava mais velho e trabalhando. Comecei a ir até a praça da biblioteca – praça Vinte de Setembro – e nesse momento fiz amizade com um pessoal da minha faixa etária na época – 18 anos – que frequentava o espaço. Dentro desse grupo havia alguns integrantes que faziam rima no improviso. Com o tempo começamos a fazer rodas de rima que foram se popularizando. Nesses momentos eu dei as minhas primeiras arriscadas e percebi que tinha bastante facilidade. 

Em meio a esse processo, conheci o Valter, um cadeirante que mora no bairro Feitoria, hoje tem seus 50 anos de idade, e é um dos precursores do Hip-Hop aqui da cidade. Quando estava no Ensino Médio, tive o meu primeiro contato com a arte de rua. Saindo da escola um dia um grafiteiro chamado Mino, que infelizmente já faleceu, fazia um grafite no muro da escola, e ele me chamou para ajudá-lo. 

Meu processo de entrosamento com a cultura Hip-Hop veio a partir desses três contatos: os grupos da praça da biblioteca, do Valter e com o Mino. Claro, isso além das minhas histórias com o meu tio. E as batalhas de rima na praça da biblioteca foram fundadas pelo Jovem Malcolm, Léo Javiel, Valter, Diego Vela, o Romarinho (uma pessoa em situação de rua que cuidava dos carros que ficavam estacionados próximos das batalhas) e eu.

Como foi o processo de ocupar o espaço do palquinho que fica atrás da estação de trem de São Leopoldo para fazer os eventos?

A Batalha São Hell começou na praça de biblioteca com outro nome – Batalha do Linho Cânhamo. Tem pessoas que dizem que a história da Batalha São Hell não tem muita relação com outras que acontecem na cidade. São narrativas que apontam serem linhas distintas. Mas, para mim, que participei do processo de construção de mais de uma batalha na região, diria que tem sim. 

Com o tempo pensamos que, em caso de dias de chuva, por exemplo, não seria bom realizar os eventos em espaços não cobertos. Com isso, foi sugerido por um dos envolvidos do movimento fazer a chamada Batalha no Trilho da Rima, sendo a primeira batalha de MC´s na estação de trem. 

Aquele palquinho que fica atrás da estação São Leopoldo é muito referenciado e utilizado na cultura de rua leopoldense. Inclusive, estamos planejando fazer um processo de tombamento daquele espaço como um patrimônio cultural da cidade. Ali sempre tem uma presença frequente de jovens, sobretudo em função de ser um bom espaço para andar de skate. O palquinho é um lugar consagrado da cultura na cidade. Outra questão é que, com os eventos ocorrendo na estação, fica fácil para o público e para os MC’s da região metropolitana virem para cá. O palquinho da estação é um elemento fundamental no sucesso da batalha.

É um espaço localizado bem na região central da cidade. Vocês devem ter resistido a muitos casos de repressão.

De início, a gente fazia o evento até bem tarde. Passando das 22h a lei já não permite mais som alto e perturbações e mesmo assim ignoramos por um tempo. Até que aconteceu uma abordagem policial no meio de um evento em 2015, que contou com a participação de muita gente de Porto Alegre. Duas viaturas pararam e revistaram muitas pessoas, vindo com muitas acusações, como corrupção de menores, por exemplo. O fato de termos todos os equipamentos emprestados do DCE da Unisinos e sem nota fez com que recolhessem tudo, além de levarem algumas pessoas detidas por perturbação da ordem. O Jovem Malcolm, que apresentava o evento, responde um processo por isso até hoje. Se o evento tivesse sido na periferia de São Leopoldo com certeza a repressão teria sido mais intensa.  

Após isso ficamos um tempo sem fazer o evento. Retomamos aos poucos e sem equipamento. Nossa relação com o DCE da Unisinos ficou abalada. Por um tempo, tomamos muito cuidado para que isso não acontecesse de novo. O próprio Jovem Malcolm participou bem menos dos eventos, mas os mais jovens foram chegando junto com muita intensidade. Teve vezes que o João Wesley, meu parceiro e atual apresentador dos eventos da Batalha São Hell, carregou o evento nas costas. Ele é um cara bastante comprometido. Com toda a rotatividade que tivemos na produção do evento ao longo da história, ele é um cara que sempre esteve ali como um dos grandes responsáveis por fazer acontecer. 

Com o tempo, as batalhas de MC´s passaram a ter uma grande projeção no estado, inclusive na mídia, sendo abordadas em matérias de televisão inclusive. Gradativamente a proporção do evento foi aumentando, com pessoas vindo de todas as regiões do estado e, até mesmo, de outros estados. Inclusive, houve um dia que alguns policiais nos pararam e pediram para  gravarmos um vídeo fazendo uma rima para mostrar aos filhos. Contudo, ainda assim sempre dá um certo medo, até porque o pessoal que frequenta costuma beber e fazer consumo de maconha, itens muito acessíveis à juventude.

Todo o saudosismo e referenciamento da cultura alemã em São Leopoldo complica o crescimento e a legitimação do movimento Hip-Hop na região?

Diria que parcialmente. E acredito que isso vale para toda a manifestação de rua, não só o Hip-Hop. Não sei bem se pela questão da imigração, mas pela questão de ser uma cidade operária, São Leopoldo acaba tendo uma vida noturna pouco ativa. Aqui praticamente todos estão em casa às 22h. Devido a isso nós acabamos sofrendo bastante repressão e, até mesmo, perseguição.

Todo movimento de rua acaba gerando conflito, sobretudo entre a juventude e a sociedade civil trabalhadora que quer descansar. É difícil conciliar todos esses interesses. Por exemplo, aqui no bairro Campina há um espaço abandonado que antigamente reunia o pessoal que curte carros e motos. Juntava umas três mil pessoas nesses encontros e isso gerava muito barulho e conflito com os moradores do entorno.
Com a gente do movimento Hip-Hop de São Leopoldo não foi diferente, tivemos muita reclamação de moradores com o tempo. Acaba sendo substancial a reclamação, já que fazemos um barulho ali entre nós, afinal é natural do movimento Hip-Hop ter música, dança e vibração. 

Aos poucos, com o amadurecimento do nosso projeto, após mais de dez anos de batalha, fomos fazendo algumas concessões: trocando data e horário dos eventos. Antes a batalha São Hell rolava no sábado à noite e acabava por volta da meia-noite. Hoje, os eventos acontecem nos domingos e iniciam às 16h. Isso justamente para conciliarmos estes interesses com os moradores do entorno.

Em algumas batalhas eu te vi com um boné do MST, demonstrando ser um movimento bastante politizado. 

Em 2007 eu tive a oportunidade de cursar ensino superior na Unisinos. Consegui bolsa científica que custeou algumas cadeiras do curso de Ciências Sociais até eu me formar no ano de 2016. Com a formação, fui admitido aos ofícios de professor, sociólogo e cientista político. Em especial pela minha origem periférica, sempre estive vinculado a esses temas. 

Na época do ensino médio no colégio Olindo Flores eu tinha um forte contato com uma professora de filosofia e sociologia. A considero uma agente especial na minha formação de senso crítico.  Toda a complexidade das Ciências Sociais é simplificada nos movimentos de rua, então eu consegui muito bem aliar as duas coisas: a cultura Hip-Hop e o conhecimento acadêmico. Meus trabalhos acadêmicos sempre estiveram associados a temas sobre a juventude. Seguidamente estou trabalhando e estudando a cultura de rua. 

Durante o período de surgimento da Batalha São Hell eu tinha uma vinculação política mais anarquista, no que se diz respeito à autogestão e organização para fora do Estado. Substancialmente, os eventos que fazíamos eram completamente independentes e, certas vezes, até precarizados pela falta de recursos. No começo das batalhas não tínhamos nem 16 MC´s para rimar. A gente via as pessoas passando na rua e convidava para rimar. 

Por vezes tivemos apoio do movimento estudantil da Unisinos e chegamos a fazer algumas batalhas na Unisinos. Na época eu era estudante de graduação e participei do movimento estudantil da universidade. O pessoal do Hip-Hop sempre respeitou muito a minha movimentação nesse meio, sobretudo por eu conseguir coligar todas essas atividades. A minha parte teórica e a prática sempre estiveram interligadas. 

A nossa relação com o governo municipal se deu de forma gradativa, principalmente, após a retomada da gestão petista. Ao longo da atual gestão do prefeito Ary Vanazzi, pessoas do PT de São Leopoldo nos convidaram para remontar o Fórum do Hip-Hop de São Leopoldo, e esse processo começou no início deste ano e está dando muito certo. Conseguimos aparar as arestas que haviam dentro do movimento e eu acabei me projetando como liderança justamente por articular todas as gerações. Muito em função de uma boa relação com o pessoal das antigas do movimento e com os mais jovens que estão começando. 

A gente enquanto cúpula organizativa se deu conta que o evento foi tomando proporções cada vez maiores com o passar do tempo, e como todos da equipe são trabalhadores assalariados, não temos condições de bancar esse tipo de evento. O suporte da gestão pública municipal é essencial.

Poderia contar mais das contribuições do João Wesley (JW) e do Valter para o movimento e das tuas atuais contribuições?

O Valter é um dos maiores veteranos do Hip-Hop de São Leopoldo. Ele formou toda uma geração de envolvidos com o movimento e sempre foi da linha de frente, um grafiteiro ligado à educação – passando os fundamentos do Hip-Hop para as gerações mais novas. Por ser uma pessoa muito envolvida e centralizada na comunidade em que vive, ele não é mais um participante tão ativo. Contudo, ele sempre nos incentivou e auxiliou na fortificação do nosso projeto. E ele é o cara que me incentivou a fazer a articulação política, para não só politizarmos o movimento, mas também para obtermos um retorno do poder público municipal para salvaguardar nossos encontros e nossa presença na cidade.

O João Wesley, mais conhecido por JW, é um MC. Ele começou nos vendo batalhar e com o tempo se inspirou no nosso trabalho e passou a incorporá-lo. É um jovem periférico, da Vicentina, que começou a chamar a gurizada dele para adentrar nosso movimento, ajudando no rejuvenescimento da batalha. Ele, juntamente do Bruno TX e do Bruno Kayser, filho do vereador Nestor Schwertner do PT, fundou a batalha com o atual nome – Batalha São Hell.

O JW é um cara que nunca nos largou, e por ele ir rimar em batalhas fora de São Leopoldo acabou atraindo gente de outros lugares para cá. Ele é um cara muito por dentro da cena do rap. Enquanto nós circulamos mais em outros setores do Hip-Hop, ele é o cara que se antena no cenário da batalha de MC´s. Além de ser o grande articulador e apresentador do evento, e provavelmente o melhor apresentador de evento de batalha de MC que eu já vi, quiçá do país. É um jovem extremamente talentoso. 

O JW sempre vem com ideias grandiosas, propôs em abril deste ano trazer os dois melhores MC´s nacionais para batalhar – NEO e a Levinsk -, direto de São Paulo e do Rio de Janeiro. Fizemos a nossa maior edição em abril, que juntou em torno de 300, 400 pessoas. A partir deste tipo de expressividade dos nossos eventos, fortalecemos nosso vínculo com a gestão pública municipal. 

O movimento tem crescido bastante ultimamente?

Este ano, por eu ter um envolvimento maior e poder articular algumas coisas que os guris tinham uma certa dificuldade, e em função do meu vínculo mais direto com o poder público, acabei assumindo a função de planejador, sendo responsável por propor estratégias para o movimento. 

Tem crescido muito, e não só aqui, mas também a nível estadual. Em São Leopoldo mesmo, não tem só a nossa batalha, tem também a dos Andarilhos e a da Visão, que é organizada por mulheres. Todo o estado possui um circuito de batalhas ativo que tem se unido. 

Recentemente tem começado a pintar ideias como organizar eventos de desafio entre movimentos de batalhas de MC entre diferentes cidades. Desde aquele grande evento de abril, pessoas de cidades que não compõem a Região Metropolitana começaram a aparecer por aqui nos nossos eventos – Igrejinha, Gravataí, Pelotas, Santa Maria, Caxias do Sul etc.  Estamos tendo um expressivo apoio da Mari Marmontel, uma grande ativista da cultura de rua e principal articuladora do Rap In Cena – festival de rap que ocorreu em Porto Alegre nos dias 15 e 16 de outubro. Ela também possui vínculos com a organização Família de Rua, coletivo que constrói o campeonato nacional de MC´s, o grande objetivo de todos os rimadores de batalhas de rima. 

Inclusive, conseguimos levar alguns campeões da Batalha São Hell para esse evento, como o Nicolas Walter e o Yago Zandrio de Porto Alegre – maior vencedor de edições da Batalha São Hell – e que foi o nosso representante este ano na batalha estadual.  Nossos próximos passos são fazer show off [shows de rap sem duelo de rimas] e ampliar ainda mais o evento, sonhando em conseguirmos gerar renda com o evento, sobretudo agora que ganhou uma proporção grande. Estamos articulando também o Baile da São Hell, que vai ser uma festa para além da batalha, e isso em grande parte por sentirmos que falta em São Leopoldo uma festa de rap para celebrarmos a cultura de rua.

Levando em consideração a expressividade do fenômeno político bolsonarista, vocês chegaram a sofrer algum tipo de repressão vinda desse movimento político?

A relação que temos com o bolsonarismo é muito politizada e espontânea. Ninguém da coordenação da batalha diz que o movimento é antifascista. A própria gurizada envolvida com a batalha começou a colocar essa pauta dentro do evento. Ao natural, nas puxadas de cada round sempre vem um coro anti-bolsonarista. Por vezes também antirracista e anti-homofobia. Em uma visita feita em nosso evento, o primeiro comentário que o secretário de cultura do município fez foi “Como essa gurizada é politizada. Não imaginei que esses jovens seriam tão politizados”. 

É um processo que temos tentado evoluir, na última edição mesmo fiz uma aula pública sobre os cortes na cultura, o veto à lei Aldir Blanc, e na lei Paulo Gustavo – que por sua vez freou milhões em recursos que viriam para o município e poderiam qualificar ainda mais o nosso movimento. 

Então quem compõe o nosso evento, em grande maioria pertencente a um estrato de classe média para baixo, sabe a dificuldade que foi esses últimos anos e segue sendo. São membros de um setor da sociedade que sofreu muito com a política bolsonarista. São conscientes que nas gestões federais anteriores era muito mais fácil entrar numa faculdade, conseguir um bom emprego e ter um acesso melhor ao consumo. 

Em relação ao jovem, a gestão de Bolsonaro não correspondeu a nada. E aí com isso aconteceu um processo orgânico de politização. O evento, não por auto-pregação, mas sim por uma construção coletiva, é anti-Bolsonaro. Somos o maior movimento de juventude dentro da cultura na cidade que puxa essa pauta. Este ano convidamos alguns candidatos progressistas para conhecer mais o nosso movimento – ainda sem perder o caráter independente. Contudo, repressões vindas de bolsonaristas não ocorreram de pessoas declaradamente bolsonaristas. Foram casos isolados em que os envolvidos apenas possuíam o arquétipo reacionário que conhecemos. 

Houve também tentativas de cooptação nossa por parte de membros desses grupos conservadores, mas recusamos todas. O bolsonarismo executa como movimento uma articulação social muito contraposta à nossa – que se pauta não só pela politização, mas pela formação cidadã dos envolvidos, além do acolhimento.  Nosso espaço é um espaço democrático e de manifestação artística plural. Somos completamente contrários à pauta conservadora. Somos um movimento de caráter completamente progressista.  Contudo, tenho certeza que se ganhar um governo de oposição em eleições municipais futuras, primeiramente tentarão dialogar conosco. Não tendo êxito, provavelmente partirão para a repressão. 

Você diria que o movimento, para além da formação cidadã que você comentou, gera uma formação política e um engajamento político? Há pessoas que ingressaram no movimento e se politizaram aos poucos?

Totalmente. Estou participando da seleção para o Mestrado em Educação na Unisinos e o meu projeto é justamente sobre o levante contra-hegemônico do movimento das batalhas de MC´s e esse caráter de politização do jovem fora do ambiente escolar e dos espaços institucionais.  Existe um sistema de conhecimento e um sistema de valores na rua – códigos próprios – que também fomentam o conhecimento e a educação. Pretendo estudar isso para justamente compreender melhor quais são esses códigos e como funciona esse sistema de valores – sistema esse que garante a própria sobrevivência do movimento. 

Tais sistemas envolvem: como se portar numa situação de repressão, como se portar diante de uma pessoa que está numa condição de dependência química, como se portar em relação ao público LGBTQIA+ que participa dos eventos, como ter uma desconstrução do machismo e demais papéis de gênero socialmente impostos.  Todos esses processos estão passando pelo movimento. Consideramos muito importante também a formação dos envolvidos, para além das instituições vigentes – vindas através do diálogo, do companheirismo, e da vivência da rua. 

Eu mesmo estou com 33 anos, mas tem gente de 14 anos que comparece nos eventos e queremos que todas essas projeções que fazemos sejam levadas para essas gerações mais novas. Acabamos nos tornando referência para os mais novos. Muitos escutam falar mal do Bolsonaro e na batalha descobrem mais histórias e motivos para esse desgosto para com a imagem do presidente – de modo a empoderar essas pessoas à politização através da construção de um senso crítico sobre a política. 

A Batalha de MC´s é uma metáfora de muita coisa que acontece na política: ela tem a malandragem – tem o grupo de cada MC que, às vezes, perde na rima, mas o grupo faz barulho para que ele ganhe -, têm o processo democrático em que o público elege o vencedor da batalha e sequencialmente o melhor MC da noite. Há vários processos da política institucional nesse meio. 

A nossa intenção é politizar cada vez mais o movimento. Pensamos em distribuir material contra a violência doméstica, contra o extermínio da juventude etc. Está nos nossos planos também: fazer projeção de vídeos nos eventos, trazer pessoas de fora para abordar temas como justiça racial e construir lideranças políticas jovens que estejam interessadas em nos apoiar e propor uma política inclusiva e progressiva. Muito ao contrário do que diz o senso comum, o jovem gosta sim de política, o que ele não gosta é ver os caras de terno e gravata monopolizando o tema. 

*Estudante de Jornalismo da Unisinos. Essa entrevista é uma parceria do Nonada com a Beta Redação, portal experimental do curso de Jornalismo da Unisinos, e foi realizada sob supervisão dos professores Débora Lapa Gadret e Felipe Boff.

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Editoria de cultura da Beta Redação - Agência de jornalismo experimental da Unisinos