Foto: Faísca/divulgação

Bienal das Amazônias: Conheça artistas dos países amazônicos presentes na mostra

Em seu nome, a Bienal das Amazônias já diz a que veio. O plural que lhe dá origem é também o centro da proposta curatorial aberta na semana passada, em Belém (PA). A expectativa é que as Amazônias sejam vistas em suas múltiplas perspectivas e possibilidades, para além do bioma, a partir do trabalho dos mais de 121 artistas e coletivos presentes na mostra aberta até novembro. 

Nessa primeira edição, a Bienal das Amazônias tem como tema “Bubuia: Águas como Fonte de Imaginações e Desejos” e desperta a reflexão sobre como se faz arte na região sem estereótipos. A mostra conta produções dos oito países da Pan-Amazônia, além da Guiana Francesa, além de artistas brasileiros dos nove Estados da Amazônia Legal. A curadoria é do coletivo feminista intitulado Sapukai, originalmente formado por Sandra Benites, Keyna Eleison e Vânia Leal. 

A exposição tem como tema e inspiração a obra do poeta amazônico João de Jesus Paes Loureiro, conhecido por defender o conceito do “dibubuísmo” amazônico, que explora a profunda relação estética e cultural entre as águas e os corpos que habitam esse território.

Para Lívia Conduru, produtora cultural e diretora executiva do projeto, a virada de perspectiva presente na exposição consiste em apresentar as multiplicidade nesse território chamado, tantas vezes genericamente, de Amazônia. Além disso, ela ressalta a importância de enxergar a região para além da fauna e da flora. “Não há floresta que se mantenha em pé, quando toda a sociedade que existe nela não é ouvida, não é ‘convidada’ a participar de maneira ativa do debate”. E elas acreditam que esse debate também deve fazer parte das artes.

Já a curadora e historiadora da arte Keyna Eleison destaca o fato de as obras escolhidas refletirem histórias individuais e coletivas dos artistas, assim como diferentes percursos artísticos. Grande parte dos artistas são interdisciplinares, isso é, não se restringem a uma única linguagem.

“Vai ser possível observar como as particularidades das obras conversam entre si. Essa lista de artistas constrói vários movimentos nesse sentido, várias personalidades nesse lugar, então, ela não tem uma definição fixa, está no movimento em si. É uma forma complexa e muito sofisticada de imaginar uma coletividade de trabalhos a serem apresentados num espaço. Não só num espaço como numa cidade, como em todo um território, que não é só um simples território, mas um território marcado pela água”, analisa.

Para Keyna, a Bienal busca romper com algumas ideias convencionais. “As cosmo-percepções, as soluções e as cosmovisões dos artistas conversam entre si. No entanto, esta é uma exposição que deseja trazer uma não conformidade em relação ao que a gente vê no encontro com a arte, mas, mesmo assim, não deixa de ser uma exposição de arte”, aponta.

O Nonada Jornalismo reuniu 8 artistas e coletivos de diferentes países que pertencem ao território amazônico. Confira abaixo: 

Sofia Salazar Rosales, do Equador 

Sofia Salazar Rosales (Equador) (Foto: divulgação)

Uma das mais jovens artistas da Bienal, Sofía Salazar Rosales, de 23 anos, inscrita na National School of Fine Arts, em Quito. Filha de um pai Cubano, e uma mãe equatoriana, Sofia costura elementos de sua ancestralidade e a história de seus territórios para produzir trabalhos escultóricos. O seu processo de criação de objetos está relacionado ao contexto social e econômico que eles evocam, e por isso, ela se interessa pela materialidade como forma de falar de questões pessoais. As noções de peso emocional e físico, presentes em um objeto, são elementos para debater como o apagamento colonial sobrecarrega os corpos. São fardos. 

Abel Rodriguez, da Colômbia 

Abel Rodriguez (Colômbia) (Foto: divulgação)

O trabalho artístico de Abel Rodríguez, ou don Abel, como é conhecido, começou antes de ele entender-se artista. Desde a infância, na Amazônia colombiana, ele teve afeição e treinamento para lidar com as plantas e suas sabedorias. Como conhecia diversas espécies e seus usos ritualísticos, foi este o caminho também de seus desenhos. Para além de arte, o artista que são formas de compartilhar o conhecimento que adquiriu ao longo da vida. A floresta e seu ecossistema são seus mais importantes retratados. 

NouN e T2i, da Guiana Francesa 

Manman Dilo, de NouN e T2i (Guiana Francesa) (Foto: divulgação)

O coletivo é formado pela artista visual NouN e pelo compositor e intérprete T2i. NouN é uma artista interdisciplinar, que transita entre pintura, desenho, fotografia e dança. Desde cedo, vive a cultura do Hip Hop em sua casa, e aborda em seu trabalho tensionamento sobre representação, olhando para as múltiplas identidades. Enquanto T2i também navega pelo universo musical do Hip Hop enquanto criação artística. Ele é considerado um grande nome afro-guianense e uma jovem referência da produção musical no país.

Lastenia Canayo, do Peru

Lastenia Canayo (Peru) (Foto: divulgação)

Lastenia Canayo – Pecon Quena significa “aquela que chama as cores”. Ela é uma artista e curandeira shipiba, da comunidade de Roroboya, Bajo Ucayali, na Amazónia. Suas pinturas representam os espíritos vegetais e animais (também chamados de proprietários), que regulam o uso de plantas medicinais e a comunicação entre os seres humanos e as forças não humanas. 

Foram sua mãe, Maetsa Rahua, e sua avó que a introduziram nas práticas artísticas. Por isso, a relação internacional e matriarcal é relevante em seu trabalho. Na cosmogonia shipiba, a natureza em todas as suas manifestações é povoada por seres guardiães com os quais homens e mulheres interagem socialmente. Seu trabalho, a partir da tradição que lhe dá origem, questiona a depredação e o abuso dos recursos naturais.

Keerveld, do Suriname 

Keerveld (Suriname) (Foto: divulgação) 

Miguel Keerveld é uma artista interdisciplinar, que atua também como curador e professor de escrita criativa. Seu trabalho foca na performance, na urbanização social e no debate sobre o que se entende por “favela”.  Keerveld está especialmente interessado na distribuição de conhecimento e nas atividades sociais enquanto forças políticas. 

Carlos Cruz Diez, da Venezuela 

Carlos Cruz Diez (Venezuela) (Foto: galeria Raquel Arnaud)

O pintor venezuelano Carlos Cruz é um artista venezuelano pioneiro da arte cinética – também conhecida como ilusão de óptica a partir do movimento. Ele passou sua carreira profissional trabalhando e ensinando, entre Paris e Caracas. Sua obra está representada em museus e sítios de arte pública internacional e é caracterizada por esculturas e pinturas que mudam de acordo a posição do espectador. Já expôs no Brasil, destacando-se uma mostra na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 2012, que também incluiu raros trabalhos figurativos do começo da carreira do artista. 

Elvira Espejo Ayca, da Bolívia

Elvira Espejo Ayca (Bolívia) (Foto: Equador)

Elvira Espejo Ayca é tecelã, narradora da tradição oral de sua terra de origem  (ayllu Qaqachaka, província de Avaroa, Oruro) , documentarista e poeta. Formada na Academia Nacional de Belas-Artes, em 2013 foi nomeada diretora do Museu Nacional de Etnografia e Folclore, em La Paz . Falante de aimará e quíchua, ela é coautora de várias publicações, incluindo Hilos sueltos: Los Andes desde el textil (2007), Ciencia de las Mujeres (2010), Ciencia de Tejer en los Andes: Estructuras y técnicas de faz de urdimbre (2012) e El Textil Tridimensional: El Tejido como Objeto y como Sujeto (2013).

Faísca, do Brasil 

Faísca (Brasil) (Foto: divulgação)

João Paulo Pereira, conhecido como Faísca, é um artista multidisciplinar natural de Belém. Tem o barro e a cerâmica como uma de suas principais linguagens, em diálogo com outras como o desenho, figurino e performance. Em seu trabalho, aciona diversos elementos das tradições religiosas de matrizes africanas, como o culto da Jurema e a Umbanda. 

Referências: 

http://34.bienal.org.br/artistas/7345 

https://21-22.anozero-bienaldecoimbra.pt/artists/lastenia-canayo-pecon-quena

https://www.pivo.org.br/residencias/participantes/elvira-espejo-ayca/

https://dasartes.com.br/materias/carlos-cruz-diez/ 

https://artviewer.org/sofia-salazar-rosales-at-bungalow/

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Repórter do Nonada, é também artista visual. Tem especial interesse na escuta e escrita de processos artísticos, da cultura popular e da defesa dos diretos humanos.
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