Metade dos trabalhadores da música perderam toda a renda em 2021

(Com informações da União Brasileira de Compositores)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Cerca de 50% dos profissionais da cena musical perderam 100% do que ganhavam com música antes da pandemia no Brasil. É o que aponta uma pesquisa realizada pela União Brasileira de Compositores (UBC) e a ESPM. Segundo o estudo, 25% dos entrevistados perderam até 50% da renda e os 25% restantes tiveram queda de até 80% dos rendimentos.

O levantamento traz ainda informações de como a pandemia forçou artistas que antes se dedicavam exclusivamente à música a buscarem outras fontes de renda. Se 46% seguem com renda totalmente proveniente da música, 18% afirmaram que começaram a procurar outras atividades por causa da pandemia, enquanto 35% afirmaram que já tinham outros trabalhos anteriormente. Entre aqueles que complementam a renda com outras atividades, a maioria trabalha também como motorista, professor, confeiteiro ou vendedor.

O estudo revelou ainda como a crise atingiu os diversos elos da cadeia produtiva do setor. Entre as empresas ouvidas pela pesquisa, cerca de 40% demitiram funcionários durante o período e 33% tiveram que diminuir os salários dos colaboradores desde que se iniciou o isolamento social. 

Entre os artistas, 89% afirmaram que passaram a ganhar menos dinheiro durante a pandemia. O dado representa um aumento em relação a 2020, quando 86% alegaram terem sofrido perdas. A apuração tem margem de erro de cinco pontos e ouviu representantes de todos os estados brasileiros. 

A pesquisa ouviu 611 músicos e 37 empresas ligadas ao setor. O perfil dos profissionais é majoritariamente de homens (84%), de 31 a 50 anos (57%) e com ensino médio (32%) ou superior (27%). Autores, instrumentistas, cantores e produtores são os profissionais mais comuns da cadeia produtiva, e a faixa de renda mínima que eles disseram necessitar para se manter varia entre R$ 2 mil (18%) e R$ 3 mil (18%).

Um caso que ilustra a situação do setor é do roadie Pique Coelho. Na profissão há 15 anos, ele foi aprender a pintar casas e apartamentos através de vídeos no Youtube. Em março, fez a primeira pintura no estúdio de um amigo. “Eu não sabia fazer nada, não sabia pegar um pincel, rolar um rolo, trocar uma resistência de chuveiro. Eu aprendi tudo sozinho”, conta. Além disso, ajudar os colegas de profissão que não puderam se sustentar tornou-se uma tarefa incansável. Uma das iniciativas foi criar um grupo de WhatsApp chamado “Unidos pela graxa”, a fim de arrecadar cestas básicas para roadies, iluminadores, técnicos de som e carregadores.

Essa e outras histórias de trabalhadores do setor estão documentadas no curta Quem Monta um Palco Vazio?, com realização do Nonada e direção da jornalista Jéssica Menzel. Assista na íntegra abaixo:

Otimismo

Apesar de números alarmantes sobre o impacto da crise na renda da categoria, a esperança em dias melhores também foi refletida na pesquisa. 53% dos ouvidos afirmaram que pretendem continuar trabalhando apenas com música, mas diversificando suas atuações neste mercado. Já 30% seguirão se dedicando à carreira da mesma maneira. Enquanto 3% disseram que pretendem seguir no mercado, mas diminuir a atuação com música e focar em outra profissão complementar. E apenas 2% disseram que pretendem deixar de trabalhar com música.

As perspectivas positivas dos artistas também são refletidas nas projeções dos músicos para volta das plateias. 39% dos ouvidos acreditam que os eventos terão grande adesão de público devido à demanda reprimida do confinamento. 34% acreditam que shows e eventos terão adesão controlada, seguindo os protocolos das agências sanitárias. E somente 11% afirmam que apresentações ao vivo terão baixa adesão de público devido ao medo de novas variantes.

Sandra Sanches, diretora do cRio ESPM, aponta a importância do estudo para as questões que envolvem o setor musical brasileiro, um dos mais importantes da economia criativa. “Os dados da pesquisa mostram que a pandemia criou inúmeros desafios para o crescimento do país e reforçam a necessidade de se pensar em soluções para a área”, diz Sanches. “O cRio ESPM, em parceria com a UBC, tem promovido diversos debates para contribuir com o desenvolvimento da atividade socioeconômica do Rio de Janeiro.”

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