Nascido em Itabira, pequena e modesta cidade do interior de Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902, Carlos Drummond de Andrade é um poeta de marca maior. Completando exatos 110 anos do seu nascimento hoje, a Feira do Livro de Porto Alegre presta singela homenagem ao mineiro ao eleger a poesia como temática para esse último dia do mês. Nada mais justo, já que ele é considerado por muitos o maior poeta brasileiro do século passado. Fora isso, também ocorreu um seminário muito interessante abordando a carreira e vida do poeta de sete faces na Sala Oeste do Santander Cultural.
Nele, a estudiosa de sua obra e professora, Maria do Carmo Campos, e o professor e escritor Roberto Medina, juntamente com a mediação da também professora Regina Costa da Silveira, conversaram informalmente e declamaram poemas de Drummond. Maria foi a que mais falou, começou abordando algumas das características do poeta em uma carreira de mais de 50 anos de poesia. Segundo ela, a poesia de Drummond é interrogativa e afirmativa, o que gera um eterno ciclo, uma inquietação contínua consigo e com o mundo. “Ele está sempre se questionando em seu trabalho, até quando não deixa isso claro, é ele o outro do texto para quem ele se dirige. Normalmente tentando passar um recado para os seus próprios impulsos e desejos”, afirma. Ela lembra que um texto poético (ou o bom texto poético) não é raso, isto é, ele não se esgota na primeira leitura. É preciso ir mais fundo. “Assim que é a poesia de Drummon: há sempre que se voltar e que entender porque aprendemos e nos tornamos, pelo menos, mais humanos, mais sensíveis para nós e para o mundo”, acredita.
Drummond é multitemático, e os seus poemas fragmentados com muitos tons, ironias, perguntas, afirmações, mudanças de assunto comprovam isso. Um dos seus grandes temas é o mundo. Maria lembra que o poeta mineiro tinha medo de avião e que raramente viajou, não conhecendo muito do exterior. Mas então como ele escrevia sobre o mundo? “O mundo em sua obra é mais complexo do que podemos imaginar. Apesar de não ser tão viajado, ele tinha muito acontecimento do que ocorria, lia tudo que podia, tinha conhecimento de várias línguas, se tornando um grande tradutor. Juntamente ao questionamento e ao olhar para si, o seu mundo iria se abrindo, alongando”, explica.
Roberto Mendina mostrou-se um excelente declamador de poemas, exibindo o talento mais para o final do seminário. Escolheu alguns poemas de Drummond para ler, mas o que mais se destacou foi o já clássico “Vestido de Noiva”. Para Roberto, o que mais lhe toca na obra do escritor mineiro são as diferentes formas de como ele aborda o amor. Emocionado, fez uma bela leitura do poema que revela um diálogo entre mãe e filhas sobre um vestido e todo um acontecimento no passado do casal. Roberto também leu um poema que Maria fez em homenagem a Carlos Drummond de Andrade quando ela foi convidada a visitar a cidade de Itabira em 2002, durante os festejos do centenário do escritor. Perguntada por Regina como foi esse processo de escrita, Maria revela que a expressão poética é de difícil explicação porque não passa pela racionalidade. “Quem decifra o poeta é o leitor”, concluiu.
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