Cobertura Oscar 2013 | Tim Burton e suas influências

O Nonada segue a sua cobertura do Oscar 2013 com o filme Frankenweenie, indicado na categoria de Melhor Filme de Animação. Acompanhe-nos para ficar por dentro dos filmes que tem chances (ou não) de levar alguma estatueta para casa.

Emocionalmente inócuo, "Frankenweenie" expõe mais do que nunca as influências de Tim Burton. (Crédito: Disney/divulgação)

Frankenweenie (Idem, EUA, 2012)

Direção: Tim Burton

Roteiro: John August, baseado em roteiro de Leonard Ripps.

Vozes de: Charlie Tahan, Catherine O’Hara, Martin Short, Winona Ryder, Atticus Shaffer, Robert Capron, James Hiroyuki Liao, Conchata Ferrell, Tom Kenny e Martin Landau.

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Frankenweenie é uma síntese perfeita das melhores virtudes e das principais fraquezas de Tim Burton como realizador, escancarando duas facetas suas: a tendência cada vez mais notória à auto-repetição e o olhar impecável para o conceito visual de seus filmes. Mesmo falha, esta refilmagem (inspirada num divertido curta dirigido por Burton em 1984) acaba funcionando um pouco melhor do que os dois últimos trabalhos do diretor, os problemáticos Alice no País das Maravilhas e Sombras da Noite, ao trazê-lo num momento mais autêntico e relaxado em que evidencia sem reservas o estofo cinematográfico que o inspira há anos.

É verdade que Frankenweenie emprega diversas referências sutis (outras nem tanto) a clássicos do terror e produções B centradas em monstros, mas isso não deveria vir como surpresa: o próprio curta original tinha, como grande atrativo, a reverência formal que prestava ao Frankenstein comandado por James Whale em 1931 (que estabeleceu o cânone estético que marca o imaginário popular acerca da criatura de Mary Shelley até hoje). Observando sob este aspecto, essa animação traz Burton num bom momento na direção. Já o roteiro, como é frequente na obra do diretor, traz uma trama simplória: depois que seu cãozinho Sparky morre ao ser atropelado, o solitário Victor Frankenstein tenta expandir o uso de eletricidade que aprendeu na aula de ciências para ressuscitar o animal. No entanto, seus maldosos colegas procuram roubar os esquemas de Victor a fim de vencer a Feira de Ciências da escola.

(Crédito: Disney/divulgação).

Tim Burton nunca foi o melhor dos storytellers. Como comentei no texto de Sombras da Noite, poucas vezes o diretor foi capaz de criar um clímax realmente empolgante. Além disso, na maior parte das vezes os filmes de Burton capturam a imaginação do espectador num nível puramente racional, raramente conseguindo uma resposta emocional genuína. Aqui, o cineasta mostra um desequilíbrio entre a melancolia permanente de seus coadjuvantes e os ocasionais excessos de dramaticidade (há dois gritos de “Nãããããoooo!” idênticos no embaraço que provocam). Ao menos, a amizade entre Victor e Sparky – fundamental para que o filme funcione – soa sempre genuína, algo auxiliado por serem os personagens nos quais maior expressividade é investida – o que atinge seu ápice num dos melhores momentos do filme, quando o cãozinho, confuso e amedrontado, foge para o túmulo no qual foi enterrado.

Novamente situando sua história numa cidade pequena, Burton encontra tempo para incluir uma crítica velada à pequenez mental de vários de seus concidadãos ao trazer o professor de ciências apontando sem rodeios a imbecilidade de certos pais, que desestimulam a curiosidade das crianças ao insistirem em levar vidas intelectualmente medíocres por opção própria. Aliás, não é a primeira vez que o cineasta ridiculariza os partícipes do american way of life em seu sentido mais clichê: como os protagonistas são sempre outsiders, reaparece outro elemento recorrente em seus filmes, a turba irracional determinada a proteger seu mundo sem graça (uma descrição que também se aplica ao superior ParaNorman, com o qual Frankenweenie concorre pelo Oscar de Melhor Animação).

(Crédito: Disney/divulgação).

Retomando suas preferências gótico-expressionistas com força total (ressaltadas pela belíssima fotografia em preto-e-branco de Peter Sorg), Burton se entrega, em Frankenweenie, a uma torrente incontrolável de referências e homenagens, do “coque” da poodle Perséfone, que remete ao penteado de Elsa Lanchester em A Noiva de Frankenstein com uma mecha lateral branca (sua dona é batizada de “Elsa Van Helsing”) até o colega de Victor que é uma versão infantilizada de Boris Karloff, passando pelo professor de ciências claramente inspirado num dos maiores ídolos do diretor, Vincent Price; e a tartaruga batizada de “Shelley” (de Mary ou de Duvall, que interpretou a mãe de Victor no curta original). Da mesma forma, o divertido terceiro ato, que expõe as desastrosas experiências dos colegas de Victor, rende inspiradas citações a Godzilla e Gremlins – e, em outro momento, os pais de Victor assistem na TV a um filme de Drácula estrelado por Christopher Lee (que também apareceu em vários dos filmes de Burton na última década).

Sem se incluir entre os melhores títulos da filmografia de Tim Burton (Edward Mãos-de-Tesoura, A Noiva-Cadáver e, principalmente, Ed Wood), Frankenweenie traz o diretor num exercício de estilo já conhecido e pouco surpreendente, mas ao menos sem o piloto automático de seus filmes mais recentes. Mas urge que o cineasta entenda que ele, agora, é uma influência para cineastas que surgiram nos últimos anos, não sendo mais o único a investir em temáticas sombrias e personagens bizarros. E mesmo que seu estilo seja marcante, a eterna repetição logo o tornará indistinto de seus “filhotes”.

Ou é coincidência que Burton lance pela Disney o remake de um curta que o levou a ser demitido do estúdio por ser “inapropriado para crianças”?

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