“Queria um disco leve, agradável, até bobo mesmo”, diz Cícero

Cantor lança seu novo álbum em Porto Alegre em show no bar Opinião (Eduardo Magalhães/divulgação)
Cantor lança seu novo álbum em Porto Alegre em show no bar Opinião (Eduardo Magalhães/divulgação)

No próximo sábado (25) o cantor Cícero subirá ao palco do Opinião para sua terceira apresentação na Capital. Completando quatro anos de carreira em 2015, o carioca é considerado um dos representantes da nova MPB. Compositor, arranjador e produtor, ele iniciou sua carreira solo encantando muitas pessoas com Canções de Apartamento, em 2011. Seu projeto intimista, influenciado por nomes da Bossa Nova, como Tom Jobim e João Gilberto preencheu a lacuna do público jovem que necessitava de poesia cantada.

Em 2013, Cícero lançou Sábado, projeto que foi de encontro com a obra anterior. Um contraponto que foge da “maldição” do segundo álbum. Uma proposta diferente, que dialogou com Canções, mas mostrou outro lado do artista. A poesia foi mais a fundo e, além da parceria com Bruno Schultz, contou com a participação de Marcelo Camelo e Bruno Giorgi.

Dessa vez A Praia será a protagonista da noite. Lançado no mês de março, o novo projeto recebeu críticas positivas da imprensa e dos fãs. Porto Alegre é o segundo destino da nova turnê, que passa antes por Curitiba. O show acontece às 21h no Bar Opinião (José do Patrocínio, 834). Para quem tem interesse em sua música, os três álbuns estão disponíveis em seu site: www.cicero.net.br. Cícero respondeu algumas perguntas ao Nonada, confira:

Nonada – Em Canções, você viveu um momento de euforia, por ser uma sensação na música brasileira. Mesmo sim, manteve os pés no chão e não se deixou levar pela viralização de seu primeiro álbum, pois gostaria de se encontrar como artista. Depois de Sábado e agora com A Praia você acha que evoluiu como artista?

Cícero – Tento não pensar muito em evolução e retrocesso, mas em interesse. Tento me manter interessado em compor, arranjar, produzir, fazer coisas novas. Não que essas coisas novas sejam passos adiante em relação ao que eu já fiz, mas são coisas que ainda não fiz e abrem novas perspectivas. Não gosto muito de rotina e isso se aplica na hora de fazer discos também.

Nonada – No começo da sua carreira, fazer um disco de produtor era uma realidade. Apesar de usar estúdio para cuidar mais do som no seu terceiro projeto, hoje esse formato de álbum é só uma opção?

Cícero – Sim, é mais uma opção. É uma forma de registrar a idéia, de apresentar um trabalho, mas não a única. Um registro precário de celular pode ser muito mais interessante do que um disco que custou uma fortuna pra fazer. Pelo menos eu sinto isso ouvindo discos e mais discos. Gosto disso. A idéia voltando a ser o centro das atenções. Não confundo com descuidado gratuito, mas sempre acreditei que as grandes idéias não estão necessariamente nas grandes produções. Acho que hoje em dia está mais legal do que antigamente nesse sentido. Todo mundo que acredita numa idéia pode levá-la adiante sem que precise da benção de um diretor artístico de uma gravadora que pensa em várias outras coisas além da idéia. Como já fiz disco com celular e com laptop em casa, senti uma vontade natural de chegar em outros lugares, de arranjo principalmente, e o estúdio veio como uma abertura de possibilidades e não de encerramento.a praia

Nonada – A Praia teve inspiração na saudade do clima carioca, já que você se mudou para São Paulo. A proposta foi levar a praia para quem ouvisse o álbum?

Cícero – Não exatamente a praia, mas a leveza e descompromisso que a idéia de praia me passa. Uma descompressão na forma de lidar com tudo. Queria um disco leve, agradável, até bobo mesmo.

Nonada – Não existe amor em SP?

Cícero – Existe. Em SP e em qualquer lugar.

Nonada – Como o tempo de estrada te influenciou? Agora que você já fez turnês nacionais e internacionais.

Cícero – Curtia o processo de transformar uma idéia em um disco. Hoje gosto também da idéia de transformar um disco em um show. A estrada me deu mais uma área de atuação para a criatividade. Me sinto mais estimulado do que quando só pensava em fazer um disco. Agora penso no disco e em como tocar ele ao vivo.

Nonada – Atualmente, a tecnologia fez com que muita coisa se reinventasse, como na música. Desde o seu primeiro álbum, vocês disponibiliza o download do seu trabalho. Você acha que essa iniciativa ajuda a dialogar com o público?

Cícero – Mais do que isso. Ajuda a estudar formas de viabilizar as coisas no atual panorama da música. O mundo está se transformando numa terceira coisa que vai ser logo mais sob o ponto de vista musical. Mais do que o download gratuito, acho que o fato dos meus discos estarem no meu site é o grande lance. As plataformas de streaming daqui a pouco vão entrar na mesma crise que as gravadoras entraram na década passada, eu acredito. Não vejo nenhuma vantagem nesses sites, mas também não os vejo como inimigos. Dialogar com o público eu acho mais tranquilo, porque como meu público é jovem, está bem ligado nas novas formas, tendências, etc. Ele encontra o que quer e pra ele eu só preciso estar ativo, vivo, criando.

Nonada – Além dos álbuns, você disponibiliza encartes das canções. A partir desse material, podemos ver a poesia que você canta. A ideia dos teus projetos é sempre mostrar esse cuidado? Por exemplo, a diagramação das letras.

Cícero – Sim. Acho que é mais do que cuidado, é parte mesmo da obra. São coisas que dialogam, mas que também são independentes em outros aspectos. Gosto disso.

Nonada – Como foi o convite para integrar a trilha sonora do filme “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”? Longa que representou o Brasil na categoria de filme estrangeiro no Oscar e ganhou outros prêmios, como o Festival de Berlim.

Cícero – Uma alegria. Quando recebi o convite e o roteiro achei demais fazer parte. É um tema que tem mesmo que ser inserido com naturalidade no inconsciente coletivo, e o filme fez isso muito bem.

Nonada – Qual é a expectativa para turnê d’A Praia?

Cícero – Tocar bastante e me divertir!

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Editor, apaixonado por Carnaval e defensor do protagonismo negro. Gosta de escrever sobre representatividade, resistência e identidade cultural.
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