Foto: Natasha Jerusalinsky

Artistas promovem festival gratuito sobre arte e política em Porto Alegre

“O que pensa você do Brasil de hoje?” Em junho de 1968, anos de chumbo, o dramaturgo Augusto Boal fez essa pergunta aos artistas de São Paulo. O resultado foi a primeira Feira Paulista de Opinião, espetáculo que ocorreu no Teatro de Arena. Agora, 50 anos depois, a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, em parceria com o Memorial Luiz Carlos Prestes, chamou os artistas porto-alegrenses a pensarem a situação atual da cidade e do país.

Até o dia 29 de julho, o novo espaço cultural de Porto Alegre está de portas abertas aos mais de 50 artistas e coletivos – identificados com a esquerda do espectro político – que responderam ao chamado. São atividades diárias, desde exibição de filmes nacionais, apresentações de teatro e mesas de debate sobre literatura, todas gratuitas. A programação foi aberta no último domingo (15), com um cortejo. “No golpe midiático-jurídico-parlamentar que vivemos hoje, os artistas se encontram na sua maioria desorganizados e isolados. A arte continua sendo potencialmente política e acredito que a nossa Feira seja uma oportunidade dos artistas de Porto Alegre de uma forma organizada e solidária colocarem para a cidade e o país a sua Opinião sobre os tempos difíceis que estamos vivendo”, destaca Paulo Flores, um dos fundadores da Tribo.

Artistas saíram em cortejo na abertura do festival (Foto: Natasha Jerusalinsky)

Em uma cidade que viveu episódios recentes de censura institucional e de grupos obscuros, “é fundamental que a arte se posicione a todo momento e agora mais do que nunca nessa onda conservadora e de pensamento fascista que se espalhou pelo Brasil. Citando Carlos Marighella: ‘É preciso não ter medo, é preciso ter a coragem de dizer”, diz Paulo.

A proposta de reunir os artistas – e o público – identificados com a função social da arte é recorrente em Porto Alegre, que recentemente realizou eventos de protesto contra o governo de Michel Temer em espaços públicos, além do ato contra a censura ao Queermuseu. A Feira de Opinião se diferencia por trazer uma programação extensa, ao longo de 15 dias, que pode movimentar o calendário cultural da cidade. Vale lembrar que, no ano passado, neste mesmo mês, o Festival de Inverno de Porto Alegre trazia nomes do outro lado do espectro político para palestrar na cidade, financiados com verba pública. Agora, artistas porto-alegrenses, em um movimento de resistência, apresentam ao público sua visão sobre o Brasil, refletindo sobre temas como desigualdades social, racismo e a questão indígena. A Feira de Opinião de Porto Alegre é patrocinada por sindicatos da capital.

Novos ares para o jornalismo

O Brasil de Fato, publicação fundada em 2003 pelo MST no Fórum Mundial Social de Porto Alegre, acaba de lançar sua publicação gaúcha. O jornal, que já tem edições em alguns estados, apresentou o tabloide porto-alegrense na Feira de Opinião nessa terça-feira (17) e terá distribuição gratuita. “Sua própria presença já significa a oferta de um enfoque diferenciado dos fatos, permitindo uma pluralidade que a mídia empresarial promete na propaganda e sonega na realidade”, afirma o jornalista Ayrton Centeno, um dos editores do jornal.

SERVIÇO:

Feira Brasileira de Opinião de Porto Alegre – ContraGolpe

Data: 15 a 29 de julho de 2018

Local: Memorial Luiz Carlos Prestes – Av Ipiranga, 10 (esquina com Edvaldo Pereira Paiva), Porto Alegre (RS)

Horário: Terças a sextas, das 15h às 22h, sábados, das 10h às 22h; e domingos, das 14h às 20h.

Entrada gratuita.

Programação

15 de julho – Domingo 

15h – Abertura da Feira Brasileira de Opinião com um Cortejo saindo da Rótula das Cuias e abertura das exposições de artes visuais, que segue aberta até o dia 29/7, de terças a sextas, das 15h às 22h, sábados, das 10h às 22h; e domingos, das 14h às 20h.
17h – Teatro “Mahagonny” e “Manifesto da Nau das Oito Cartas”, de Chico Machado;
19h – Show musical de Johann Alex de Souza e Simone Rasslan
17 de julho – Terça-feira 
16h – Debate “A Comunicação e o Golpe de 2016”, mediação Katia Marko, jornalista
Ayrton Centeno – Brasil de Fato
Rosina Duarte – Boca de Rua
Marco Aurélio – Sul21
La Garganta Poderosa

18h30 – Apresentação de Dança da Escola Preparatória de Dança da EMEF Loureiro da Silva: Nós (sapateado americano)

Curiosidade (dança contemporânea)

Havana (sapateado americano)

Laboratório da Dança: Mujer (dança contemporânea), We love Fredy (sapateado americano) e A partir (dança contemporânea)
19h30 – Ato Político Cultural – lançamento do Jornal Brasil de Fato RS, com apresentação do Grupo Unamérica, Pedro Munhoz;

20h30 – Cinema – Exibição do filme “O Processo”, de Maria Augusta Ramos

18 de julho – Quarta-feira

15h – Oficina de teatro Beckett

19h – Show musical com Felipe Azevedo, Beth Krieger, Flora Almeida, Roda Viva, Gustavo e Ligia, Ricardo Cordeiro e Florisnei Tomaz
19 de julho – Quinta-feira
18h – Dança – Coletivo Moebius
19h – Dança – Meme/Laco
20h – Cinema – Exibição do filme “Utopia e Barbárie”, de Sílvio Tendler

20 de julho – Sexta-feira

18h – Cinema – Exibição dos filmes “Raízes do teatro” e “Memórias do Silêncio”, de Pedro Lucas.
20h – Teatro: Povo da Rua | Ato Espelhado | Teatro Grillo | Corpos e Sombras
21 de julho – Sábado
10h – Histórias e músicas da MPB para Crianças, com a Banda Carmelita

11h30 – Oficina de ilustração com Laura Castilhos

Poesia para crianças – conversa com o autor Alexandre Brito
14h – Palestra “A Arte de Ler” com Bolívar Almeida
15h – “Cenopoesia”, Teatro do grupo TIA
16h – Teatro “Eu não sou macaco”, com Deddy Ricardo
18h30 – Recital Poético Gente de Palavra
19h30 – Exibição dos filmes “O Veneno do Escorpião” de Pedro Lucas e “Jango”, de Silvio Tendler

22 de julho – Domingo

15h – Teatro Grupo Atrito
16h – “Populares temem a invasão das salsichas gigantes”, do Levanta Favela
18h – Cine Marighella – Lançamento do HQ sobre o curta Cine Marighella
19h – Araguaia

24 de julho – Terça-feira

15h – Oficina de teatro com grupo Comparsaria
17h – Dança – Maria Falkenbach e convidados

18h – Dança – Rita Lendê
19h – Exibição do filme “A Palestina Brasileira” seguida de debate
25 de julho – Quarta-feira
15h – Oficinade teatro Beckett
19h – Show musical

Poética Planetaria Subtropicalista
Josué Krug
Roberto Corbo
Censuradas do Rock dos Anos 80

Sex-teto
Johann Alex de Souza

26 de julho – Quinta-feira

18h – Teatro Panamá
19h – Filmes: Sul Engraxa as Botas
“Nhemonguetá”, de Eugênio Barbosa e Paola Mallman
“Retirantes”, de Maíra Coelho

Otto Guerra

27 de julho – Sexta-feira
Feira Gráfica

18h – Debate Voz política da poesia, Ronald Augusto e Renato Motta

19h – Poesia de Opinião
20h – Teatro “Brasil, Esculacho, Trash e Bagulho” do Levanta Favela e Ói Nóis Aqui Traveiz

28 de julho – Sábado

Feira Gráfica
10h – Histórias e músicas da MPB para Crianças, com Banda Carmelita Feira Gráfica
11h30 – Teatro de bonecos com Genifer Gerhardt
14h – Debate “As questões sociais na literatura infantil”, com Caio Ritter, Martina Schreiner e Christian David, com mediação de Laura Castilhos.
15h – Apresentação do espetáculo “Brincantes na rua”, do Circo Enquanto tiver Amor”
16h – Apresentação do espetáculo “ComDominio”, da Xandéia Comparsaria das Façanhas

18h – Debate “De 1964 a 2016 – Os Golpes e as riquezas do Brasil”, com o professor da Ufrgs e sociólogo Benedito Tadeu César e a liderança dos petroleiros, o engenheiro Edson Flores. Ao final do debate um Manifesto será escrito pelos artistas participantes da Feira Brasileira de Opinião – Porto Alegre – Contragolpe – 2018

19h – Show musical com Tânia Farias e Mario Falcão, Demétrio Xavier, Glau Barros e Encruzilhada do Samba

29 de julho – Domingo

14h – Beckett, apresentação da produção da oficina de teatro

15h – Espetáculo “Caliban – A Tempestade de Augusto Boal”, do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz

17h – Oficinau, Sarau Poético – Mário Pirata e convidados

18h30 – Leitura do MANIFESTO

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Nortista vivendo no sul. Escreve preferencialmente sobre políticas culturais, culturas populares, memória e patrimônio.
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