Uma conversa sobre nanismo, acessibilidade e cultura com Lelei Teixeira

Ester Caetano
Foto: TVE-RS/reprodução

Sempre que estavam receosas de sair à rua, ir a algum evento social ou mesmo encarar o primeiro dia de trabalho, Lelei Teixeira e sua irmã Marlene parafraseavam Drummond e diziam uma para a outra “vamos ser gauche na vida, que é o que nos resta”. Era no apoio mútuo que elas encontravam coragem para enfrentar situações adversas. Muito unidas, juntaram a expertise de Lelei no jornalismo e o conhecimento de Marlene, graduada em Letras, e planejavam lançar um livro juntas quando Marlene morreu, em 2015. Lelei deu continuidade ao projeto, finalmente publicado em 2020. 

Além do gosto pela arte, ambas compartilhavam o fato de terem nanismo. E este foi um dos motes que levou Lelei, jornalista com ampla experiência e atuação no setor cultural, a terminar a obra, um ensaio memorialístico. Lançado em dezembro de 2020 em Porto Alegre, “E fomos ser Gauche na Vida” teve sua primeira edição já  esgotada. 

Conversamos com a autora sobre a representação das pessoas com nanismo na cultura, a falta de acessibilidade nas cidades, sobre as memórias de sua vida ao lado da irmã e sobre o direito de ser quem quisermos, independentemente da normatividade que se é imposta.  

Nonada Jornalismo – Bom, para início o termo certo para se usar é pessoa com nanismo?

Lelei TeixeiraNão vejo problemas na palavra “anão” mas as pessoas acham que, no termo geral, “pessoas com nanismo” é mais representativo. A palavra “anão” é muito estigmatizada e usada de forma inadequada em muitas situações. A expectativa é que a gente recupere a palavra no que ela é verdadeiramente. 

Nonada – Quais foram os maiores impasses e dificuldades na vida tanto profissional, pessoal, social por ser uma pessoa com nanismo?

Lelei Teixeira Acho que a grande dificuldade desde de o início foram sempre os olhares na rua, os olhares em ambientes em que eu não era conhecida. Eram olhares muito diversos, alguns acolhedores, outros de admiração, de espanto. Na verdade eu sempre enfrentei esses olhares e me dei conta bem mais tarde do significado. Inicialmente eu me sentia acuada, mas não entendia a razão.

Só mais tarde, quando comecei a ler sobre nanismo, a ter contato com outras pessoas com nanismo, a falar com a minha irmã, um ano mais velha, também com nanismo, percebi. Foi, então, que começamos a falar muito sobre isso. De onde vem esse olhar? Inclusive coloquei no livro um texto da minha irmã, que encontrei em uma das agendas dela, que perguntava: “De onde vem esse olhar que me afasta de mim?” Um olhar que assustava. “Quem sou eu que as pessoas tem que olhar tanto?”. A partir daí a gente começou a refletir sobre o nanismo. Começamos a estudar a ler muita coisa relacionada ao nanismo, não com a profundidade que a gente gostaria, mas acho que o suficiente para entender que essa questão é secular, vem de muitos, muitos anos. Como é o preconceito de modo geral, estrutural, arcaico, velho e a gente não conseguiu ainda mexer com o que move tanta discriminação. E vivemos em uma época em que ascendeu.

Nonada – Tu e tua irmã começaram um levantamento sobre o modo como as pessoas com nanismo são retratadas na cultura, certo?

Lelei Teixeira  Era muito incipiente ainda e eu não consegui dar conta. Começamos a ver filmes onde os anões apareciam de forma estigmatizada. Não um preconceito consciente, deliberado. As pessoas não se dão conta que aquela figura, naquele filme, daquela maneira, está reforçando o preconceito. A gente levantou vários filmes do Federico Fellini, em que apareciam mulheres anãs, homens anões e era uma aparição rápida. Mas a gente não conseguiu concluir esse levantamento. Era Marlene, eu e dois amigos também muito interessados em participar com a gente nessa pesquisa. De certa maneira eu comecei a entender que também na arte muitas vezes o anão é representado de forma estigmatizada. 

Eu vi um filme, já faz tempo, chamado o “O Agente da Estação” (com Peter Drinklage), um filme lindo. Nele, o anão se sente incomodado com os olhares. Foi o primeiro filme que eu vi que mostrava o anão com sentimento como qualquer outro, não aquela figura bizarra, para o riso. É um filme que eu tenho guardado. Teve outro filme que me marcou muito, que tem cenas que são no circo, lugares de espetáculo. Tem um anão que ficava sempre solitário, olhando para alguma coisa. Aí as pessoas ditas “normais” começam a perceber e vão lá e o derrubam, acabam com a fantasia, com o que ele estava imaginando. São poucos [filmes]. De maneira geral, eu acho que é muito pouca a presença do anão, das pessoas com nanismo como pessoas, digamos, com sentimentos iguais as outras pessoas. Como pessoas que se apaixonam, como pessoas que se decepcionam, que trabalham, que vivem uma vida e um cotidiano completamente normal, eu sinto falta disso ainda hoje, em vários aspectos. 

Nonada –  Em relação à sua fala sobre os anões estigmatizados no início do levantamento, como você avalia a representação nos dias de hoje? Como as pessoas com nanismo são representadas, abordadas? Com que tom?

Lelei TeixeiraPessoas com nanismo, por mais que exista um movimento forte no Brasil, ainda são tratados como bizarras, como figuras estranhas. Dou um exemplo relacionado às crianças, porque eu vivo isso cotidianamente. Crianças se aproximam com muita curiosidade, criança é curiosa, curiosidade é uma coisa boa. E elas querem pegar na minha mão, no meu braço, me perguntam “por que tu é pequena?”, ou por conta da minha idade, “ah tu é uma velhinha pequena”. Inicialmente isso me incomodava, e eu resolvi conversar com as crianças. É incrível, quando tu conversa, tu dilui toda aquela curiosidade que pode parecer debochada. A criança é curiosa naturalmente e quando tu explica, a criança passa a conversar contigo como qualquer outra pessoa, porque a curiosidade foi satisfeita. Eu já vi mãe de criança que se aproxima de mim e a mãe dá um puxão na criança e diz: “não fala com ela”. Eu falo “se ela está curiosa, deixa ela perguntar”. 

Eu sou uma pessoa com nanismo, é impossível negar isso, a não ser que eu viva dentro de uma bolha, escondida e não saia pra nada. Então isso tem que ser enfrentado, isso tem que ser dito, isso tem que ser falado. A partir do momento em que esse grupo de pessoas com nanismo começou a se reunir, a gente tem aqui no Rio Grande do Sul a mãe de uma criança com nanismo que escreveu uma cartilha chamada “nanismo para as escolas”, uma cartilha incrível. Com sete, oito anos de idade, eu não tinha ideia do que eu tinha, de por que eu era diferente das outras crianças. E existia toda aquela questão histórica de esconder, minha mãe ouviu muito essa frase, “esconda suas filhas, coloca no convento das irmãs carmelitas”. Minha mãe contava isso indignada, ela nunca pensou em esconder suas filhas. 

Nonada – O que significa o “esconder” na época?

Lelei Teixeira Era para esconder porque não eram pessoas socialmente aceitas na época. Não acredito na questão da preservação, porque eu acho que tu preservas enfrentando e não escondendo. Então eu acho que essa frase “coloca no convento das carmelitas” é muito significativa. Quem é que me perguntou se eu queria ir para o convento? Quem é que me perguntou se eu queria ser escondida? E os meus pais eram muito enfáticos, a minha família no geral sempre foi muito enfática, nós íamos para as ruas, brincávamos como qualquer criança brinca e era uma vida muito livre. Claro que sempre tinha eventualmente aquele olhar que barrava. Eu, quando morava em São Francisco de Paula, devia ter sete ou oito anos, tinha um café na esquina que quando eu passava na ida para a escola tinha um garçom que ficava rindo de mim. Eu não entendia aquele riso, fui entender mais tarde. Claro que nesse momento a gente tem que enfrentar, perguntar. porque isso dilui o preconceito. O preconceito se coloca porque a gente não reage, a gente fica com medo. 

Nonada – Quando você fala de olhares e preconceitos, quais foram as consequências deles em sua vida?

Lelei Teixeira Eu acho que inicialmente me bloqueou, não saberia dizer em qual momento, mas certamente me bloqueou. Mas no pessoal, no mais íntimo, e no profissional eu nunca senti um preconceito, nunca. Eu posso ter ouvido alguns comentários, talvez um poucos desagradáveis, posso ter percebido alguns olhares. Mas na condução da profissão, na relação com pessoas, eu trabalhei muito com pessoas. Então eu me dava muito com uma série de pessoas que eu convidava para dar entrevistas nos programas e tal e eu nunca senti que alguma pessoa tivesse alguma reação quando me visse. Ouvia algumas piadas, isso é inevitável, mas eu sempre reagi de uma forma legal. Eu trabalhei com pessoas que me respeitavam muito e isso me ajuda também.  

Nonada – Hoje em dia, a sociedade debate muito a respeito das pessoas com deficiência, da luta contra a gordofobia, a questão da raça e outras causas. Por que o debate sobre o nanismo não avançou tanto quanto essas outras causas?

Lelei Teixeira Eu acho que o nanismo nunca foi considerado um problema. Eram pessoas estigmatizadas, mas eram vistas como pessoas para divertir. São vários exemplos que usam o anão como um símbolo. Então, se essas pessoas tinham 1,10m ou 1,20m não interessava, elas vieram para divertir a sociedade, para ser a figura do servir. Tem uma brincadeira que se chama “arremesso de anões”. Que é um absurdo, porque os anões são usados para brincadeira, eu vi um depoimento de um anão que recebia para isso e dizia que era a forma dele de ganhar dinheiro. Ele não precisava passar por isso. 

A gente tem que reagir a isso, porque eu posso ter qualquer profissão, eu não preciso ser o anão que vai divertir as outras pessoas, nao preciso ser o anão do circo, eu posso trabalhar em uma empresa, posso ser o anão que está em uma peça de teatro, posso ser o anão que está no filme. A gente tem que abrir mão desses nichos, porque é através desses nichos que é impossibilitado ser. Não, eu posso ser o que eu quiser no lugar que eu quiser. Não posso aceitar esse enquadramento. No momento em que as pessoas começaram a se dar conta disso e a trabalhar com isso, essa questão ficou muito mais clara para quem tem nanismo. É muito bom que as pessoas pensem em acessibilidade, lutem por inclusão. Precisamos entender que a gente vive em uma sociedade diversa, somos todos diferentes, cada um com sua particularidade. 

Nonada – Existe uma descredibilidade, na questão profissional ou pessoal, para com as pessoas com nanismo?

Lelei Teixeira Existe sim, tenho um exemplo bem simples. Fui em uma loja, com duas primas de tamanho normal, eu fui comprar uma blusa para mim e falei com a menina que me atendeu. Ela não me olhou e ela falava com a minha prima: “ela quer comprar isso, como ela gosta?” Minha falou: “pergunta pra ela”. Quando a minha irmã estava viva e íamos para alguns coquetéis, brincávamos com isso, dizíamos uma para a outra “vamos ficar conversando, temos muito assunto, se está difícil participar da roda, vamos ficar nós duas”. 

Nonada – Como é ser uma pessoa com nanismo e trabalhar no meio artístico?

Lelei Teixeira Eu não sei se tu lembras de uma novela [“O outro lado do Paraíso”] na Globo, que tinha uma personagem anã. Era uma novela com a Marieta Severo, era uma mãe tiraníssima que botou a filha para estudar fora porque tinha nanismo. Quando a filha voltou, ela a levou para o interior do interior, para que as pessoas não vissem a filha. E a personagem estava tão conformada naquela condição e eu comecei a receber muitas mensagens de amigos que estavam vendo a novela, de pessoas que me conheciam e estavam olhando a novela “ela tem que reagir, essa menina é muito humilhada, não pode deixar isso acontecer”. Escrevi um texto sobre a personagem e coloquei no blog e pedi para que um amigo pudesse fazer chegar até alguém da novela.

De alguma maneira, esse texto reverberou e a personagem deu uma virada, não quero dizer que isso tem a ver com o meu texto nem nada , talvez estivesse prevista essa virada. Mas a personagem começou a se posicionar como uma pessoa com nanismo, a sair dos esconderijos, a sair daquilo que a mãe queria e a personagem deu uma virada linda. Isso ajuda a entender esse ponto dentro da arte. Quando ela não se coloca naquele papel que o anão sempre faz, se coloca uma pessoa que vive como qualquer outra pessoa vive, que namora, se apaixona, chora, sofre, que tem amigos, que bebe.

Tem uma coisa que eu ouvi muito: viver existindo. Todo mundo quer existir, isso é um direito e viver existindo é ser respeitado em qualquer meio hierárquico. Eu acho que a gente vive um momento muito difícil porque tudo que é ligado a acessibilidade e inclusão está sendo colocado em xeque. Acho que vem aí uma luta bem grande para não perder o que a gente já conquistou. Essa lei de acessibilidade e inclusão que eu acompanhei bastante, e é uma lei que agora está em xeque. Nosso presidente está querendo acabar com tudo. Esse ano que está começando certamente será um ano de lutas para manter aquilo que conquistou e para seguir nessa batalha de inclusão, acessibilidade e respeito à diversidade. A sociedade é tão padronizada que ela não aceita que fuja desse modelo que foi instituído, que é teoricamente o modelo da perfeição. Somos todos diferentes, temos nossas imperfeições e a vida é isso! 

Nonada – Quais são os principais problemas nas estruturas das cidades em relação à acessibilidade?

Lelei Teixeira De um modo geral as cidades não têm acessibilidade. A sociedade partiu de um padrão de normalidade, não se trata também de que uma hora pra outra vai mudar tudo e se tornar tudo acessível. Às vezes é difícil. Mas se trata de ter boa vontade. Tenho uma experiência de banco que é bem interessante, porque não acesso em nada, o guarda do banco que eu sempre vou começou a se inquietar com aquilo. Um belo dia, chego no banco e ele está com uma escadinha para eu subir no balcão se eu precisar alcançar o caixa eletrônico. Eu falei para ele “que bom, o banco se deu conta”. E ele disse “não, não foi o banco que se deu conta, eu comprei essa escadinha porque venho te acompanhando a tempo e acho que você precisa”. A atitude foi dele, não foi da instituição porque a instituição não olha. A inclusão não vai só ajudar as pessoas que têm problemas, ela vai ajudar a todos. São conceitos que a gente tem que trabalhar muito, poderia ser uma coisa tratada objetivamente, mas o governo sempre empaca. Raramente algum discurso político vai incluir a questão da acessibilidade. 

Nonada – Quando a gente fala sobre a diversidade, o diferente toma o lugar do oposto. Você já se sentiu rejeitada no seu meio profissional?

Lelei Teixeira No trabalho nunca me senti assim. Bem no início da minha vida profissional, que eu estava começando a faculdade, eu queria trabalhar, fui no centro da cidade e vi que tinha um salão de beleza que estava precisando de atendente. Foi um impacto quando eu cheguei. Outra vez, a editora Globo avisou que tinha vaga para revisões de textos, para estagiários em revisão de texto. A gente iria aprender e talvez iria ficar trabalhando lá. Era tudo feito por telefone, fiz o teste e eu fui chamada para fazer uma entrevista. A pessoa que me entrevistou ficou impactada quando me viu e todo o discurso dela foi ”tu precisas terminar a faculdade, não é legal fazer estágio agora, trabalhar agora”. Depois, bem mais tarde, ficou evidente para mim que ele tomou um choque quando me viu, não iria me dar a vaga por melhor que eu tivesse ido no teste. 

Quando eu comecei a pensar sobre o nanismo, quando eu comecei a estudar, a conversar com minha irmã sobre isso, e quando a gente fez o projeto de escrever um livro, a gente foi se dando conta disso, de que todas essas renúncias iniciais têm a ver com o preconceito estrutural. A minha irmã fez Letras, era professora e não queria dar aula, porque ela achava que ao entrar na sala de aula os alunos não iriam respeitá-la. Mas ela teve que encarar. Eu acho que a gente tem que vencer essas pequenas barreiras no cotidiano. Quando eu comecei a trabalhar, eu pensava que não iria dar certo, que as pessoas iriam rir de mim. Na primeira vez que entrei na redação de um jornal, que foi na Zero Hora, eu achava que todo mundo ia me olhar e ninguém olhou, estava todo mundo ocupado com  o seu trabalho. O chefe me chamou, me disse o que eu teria que fazer e eu fui fazer. Então a gente é trabalhada por essa memória de que as pessoas vão te olhar, que as pessoas vão te marginalizar. A gente tem que ir adiante. Se a gente recuar, se encolher, realmente vai dar asas ao problema. 

Nonada – Como tu avalias o impacto do livro “E Fomos Ser Gauche na Vida”?

Lelei Teixeira O impacto que o livro gerou e os retornos que eu recebo do livro dariam um outro livro. É impressionante. Tenho pessoas que me mandam mensagens diariamente, no celular, no whatsapp, no facebook. As pessoas estão me agradecendo porque estão impactadas com a história que eu conto, com a maneira que eu conto, as pessoas dizem que não é um texto agressivo, é muito natural e engraçado às vezes. Para teres uma ideia, a primeira edição do livro está esgotada. Ele chegou no mercado editorial na última semana de dezembro e eu já estou partindo para fazer a segunda edição. O retorno é simplesmente maravilhoso e o que me faz muito bem é que as pessoas estão entendendo o que é o nanismo e como é viver com o nanismo, como é encarar essa via diária. 

Eu uso esse título “E fomos Ser Gauche na Vida”, que é um poema do Carlos Drummond de Andrade, que minha irmã usava muito quando a gente sabia que a nossa saída na rua em algum momento ia ser difícil, que enfrentar o primeiro emprego ia ser difícil. A minha irmã trouxe esse poema e leu para mim, e a gente brincava “vamos ser gauche na vida”, é o que nos resta. O livro está acendendo luzes para muitas questões relacionadas ao preconceito, à inclusão, à necessidade de acessibilidade e apontando para um olhar diverso. Somos todos diversos, somos todos diferentes. Eu brinco com uma frase de uma música do Caetano Veloso que diz “que de perto ninguém é normal” e é verdade, de perto ninguém é normal, todos temos as suas diferenças, os nossos problemas. O que eu quero dizer com o livro é que a sociedade não pode padronizar as vidas, não pode padronizar os corpos. 

Nonada – Lelei, quais são as atitudes que a sociedade deve ter para que tenha uma maior inclusão para as pessoas com nanismo na sociedade?

Lelei Teixeira Eu acho que a primeira coisa é a fala, eu acredito muito no poder da fala da palavra. É não esconder, é explicar, é dizer. Isso começa com as crianças, dizer que essa pessoa é assim porque ela tem nanismo, essa pessoa é assim porque ela é cega. A gente não pode negar a informação, no momento em que se nega, está se semeando o preconceito. Não tenho nenhum problema que as pessoas parem e me perguntem, que as mães expliquem na minha frente o que é o nanismo. Porque eu acho que assim a gente vai diluindo toda a possibilidade de criar fantasmas. A fala desmonta os discursos pré moldados, os discursos circulares feitos por uma sociedade que é preconceituosa, que aponta pessoas com nanismo como figuras grotescas ou figuras para o riso. As expressões que a gente ouve, “tem salário de perna de anão”, os “anões do orçamento”, que era [como chamavam] aqueles políticos do baixo clero. Isso é puro preconceito, usar a palavra da pior forma possível. Atualmente, eu reajo muito a esse uso da palavra “anão” dessa forma, porque eu acho que a palavra tem muita força.                           

Esta reportagem é uma produção do Programa de Diversidade nas Redações, realizado pela Énois – Laboratório de Jornalismo, com o apoio do Google News Initiative.

Compartilhe
Jornalista engajada nas causas sociais e na política. Gosta de escrever sobre identidade cultural, representatividade e tudo aquilo que engloba diversidade.
Ler mais sobre
homem puxa artista com cadeirante em uma performance em cima de um palco
Direitos humanos Reportagem

Plataforma mapeia artistas com deficiência, mas instituições culturais ainda precisam avançar

Direitos humanos Notícias Políticas culturais

Unesco sugere salário mínimo a todos os trabalhadores da cultura

Culturas populares Direitos humanos Entrevista

Como a cultura do brincar pode ajudar na aprendizagem e alfabetização das crianças