Ilustração do livro "Amoras", de Emicida (Aldo Fabrini/divulgação)

Conheça livros infantis que falam sobre diversidade no Brasil atual

“A literatura desenvolve a alteridade”. Pesquisadora das literaturas infanto- juvenis, Ana Paula Cecato define assim a importância dos livros infantis que retratam diferentes realidades e abordam, desde cedo, debates sociais que formam o nosso país. “A literatura tem uma dimensão formativa em relação às existências humanas, pois afirma as identidades plurais”, explica a curadora e mestra em Letras.

Escritores com Sônia Rosa e Daniel Munduruku cultivam há décadas uma atuação na produção literária para infância, escrevendo histórias do povo negro e dos povos indígenas. O letramento racial, a formação do Brasil a partir de outras perspectivas, o rompimento de estereótipos de gênero e a formação da língua portuguesa são questões que podem ser introduzidas desde a primeira infância. “Por isso, a importância da curadoria, em conhecer a produção editorial, mas, para isso acontecer, é preciso ter acesso a ela, em livrarias, bibliotecas e escolas”. Para a pesquisadora, a mudança deve ser acompanhada de políticas públicas

Com a chegada da Lei 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas do país, as bibliotecas, bibliografias e currículos escolares precisaram mudar. Ainda que a mudança siga acontecendo, Ana avalia que os livros de literatura infantil já são muito diferentes de décadas atrás. “Mesmo com o contingenciamento de alguns investimentos, os projetos pedagógicos de educação antirracista têm sido multiplicados nas escolas, e a produção literária circula bastante, inclusive com a participação de autores e autoras nas escolas”, explica a pesquisadora.

É por isso, reflete, que programas que promovam o encontro entre autores e estudantes são importantes para a atualização de acervos nas bibliotecas das escolas e para que escritores e escritoras visitem as escolas municipais. Ao acessar histórias com personagens, histórias e autorias nas quais a criança se reconhece, pode ser uma forma de apresentá-la de modo positivado e sem estereótipos para assuntos estigmatizados pela sociedade. “Somos seres que se relacionam com outras pessoas cujas histórias e existências são diferentes da nossa, e, pela literatura, podemos ampliar nossa visão de mundo”, sintetiza Ana.

O Nonada Jornalismo traz algumas sugestões de livros para ler com as crianças e abordar novos assuntos:

O jabuti não tá nem aí, de Dalton Paula e Itamar Assumpção
Foto: divulgação

No segundo livro da coleção de inéditos “Itamar para crianças”, o compositor, cantor e instrumentista Itamar Assumpção brinca com as características dos jabutis e parte delas para imaginar as mais divertidas suposições: e se o bicho tocasse sax? Ou bateria? Se desfilasse no carnaval? E se alguém tivesse a ideia de para a igreja ou para a escola o jabuti levar?. Com as rimas e imagens bem boladas que eram características de suas músicas, Itamar aproxima-se mais uma vez do universo infantil por meio do seu encantamento pelos bichos. O jabuti não tá nem aí um livro sobre os animais, é claro, mas também sobre o respeito à natureza e o desejo de paz. O livro é ilustrado por Dalton Paula, celebrado artista plástico brasileiro que investiga as influências da diáspora africana na cultura e história do nosso país.

Guayarê: o menino da aldeia do rio, de Yaguarê Yamã
Foto: divulgação

O que é um adulto para você? Para o povo maraguá, uma criança se torna adulta entre os treze e quinze anos de idade. Essa passagem é celebrada com rituais que já são uma tradição da aldeia. No livro de Yaguarê Yamã, o menino Guayarê, de apenas 7 anos, vai lhe contar esse e outros costumes da etnia maraguá: como organizam suas atividades do dia a dia, a vida às margens do rio Abacaxis e o modo como se divertem em meio à natureza.

Da minha janela, de Otavio Junior
Foto: divulgação

O narrador deste livro narra cada coisa, pessoa e animal que vê da sua janela em uma favela do Rio de Janeiro. Dela ele vê cores, traços, gestos, objetos e bichos cujas vidas podem ser parecidas ou diferentes da sua, mas com certeza têm algo a ensinar. Com uma narrativa sensível e ilustrações cheias de vida e movimento, Da minha janela é um convite a todos os leitores para olharem para as vidas que nos cercam mas, muitas vezes, passam despercebidas. Foi vencedor do Prêmio Jabuti 2020 na categoria Infantil.

O tabuleiro da baiana, de Sonia Rosa
Foto: divulgação

O tabuleiro da baiana, livro que pertence à coleção Lembranças Africanas, traz para o universo infantil a graça e o encanto desse personagem tão típico do cenário brasileiro: as vendedoras de quitutes que ficaram conhecidas em todo o país como “baianas”. As roupas, o tabuleiro e os pratos típicos da culinária baiana são sua “marca registrada”

​Kabá Darebu, de Daniel Munduruku

Foto: divulgação

“Nossos pais nos ensinam a fazer silêncio para ouvir os sons da natureza; nos ensinam a olhar, conversar e ouvir o que o rio tem para nos contar; nos ensinam a olhar os voos dos pássaros para ouvir notícias do céu; nos ensinam a contemplar a noite, a lua, as estrelas…”​Kabá Darebu é um menino índigena que nos conta, com sabedoria e poesia, o jeito de ser de sua gente, os Munduruku.

Vovó veio do Japão, de Janaina Tokitaka, Raquel Matsushita, Mika Takahashi e Talita Nozomi
Foto: divulgação

Quatro vovós imigrantes carinhosas ― e cozinheiras de mão cheia ― estão prontas para participar de todas as brincadeiras das netas e ensiná-las sobre a cultura japonesa de um jeito divertido. Nessas pequenas aventuras repletas de carinho, quatro meninas se divertem com suas avós, que nasceram no Japão e sabem muito bem como agradar suas netas: com brincadeiras, histórias e deliciosos quitutes. Em cada uma das narrativas, você vai conhecer um pouco da cultura do Japão, além de aprender receitas com um toque brasileiro. No fim, você vai sentir que o outro lado do mundo está muito mais perto do que imaginava. Afinal, quem nunca brincou de origami ou se divertiu comendo com palitinhos?

Rosa é cor de menina?! Existe isso? , de Bruna Fontes
Foto: divulgação

O livro nasceu de uma pequena birra da filha da escritora, Isabela, que, aos 3 ou 4 anos, se recusou a usar uma calça jeans para ir para a escola, por ser azul. “Por isso, nada mais natural do que dedicar esta história a ela, Isabela, que me desafia diariamente a pensar “fora da caixa” e que, mesmo sem querer, me fez cogitar a possibilidade de expor minhas ideias para o mundo. Por ela, aqui estou”, explica Bruna Fontes.

Amoras, de Emicida
Foto: reprodução

Na música “Amoras”, Emicida canta: “Que a doçura das frutinhas sabor acalanto/ Fez a criança sozinha alcançar a conclusão/ Papai que bom, porque eu sou pretinha também”. E é a partir desse rap que um dos artistas brasileiros mais influentes da atualidade cria seu primeiro livro infantil e mostra, através de seu texto e das ilustrações de Aldo Fabrini, a importância de nos reconhecermos no mundo e nos orgulharmos de quem somos – desde criança e para sempre.

Parla, Palavra, de Rogério Trentini e Gustavo Duarte
Foto: divulgação

Os poemas deste livro brincam com a língua portuguesa e, ao trocar letras e palavras de lugar, criam novos sentidos, inventam imagens inusitadas e provocam o leitor a refletir sobre a língua portuguesa. Se você troca o “r” de lugar, “palavra” se torna parlava. E é isto que os poemas deste livro fazem: desmembraram, remontam, embaralham e viram do avesso muitas palavras da língua portuguesa. Assim, elas ganham novos significados, tornam-se charadas ou formam imagens que antes a gente nem sequer pensaria. Com ilustrações de Gustavo Duarte, estes poemas mostram que quando as palavras são o personagem principal, tudo que a nossa criatividade permitir é possível.

Viva as unhas coloridas!, de Alicia Acosta
Foto: divulgação

João gostava muito de pintar as unhas, até que riram dele na escola. Nesse mesmo dia, seu pai decidiu pintar as unhas também. Uma história inspirada em fatos reais que estimula a aceitação e a valentia, e promove a liberdade e a diversidade através do respeito pela diferença.

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Repórter do Nonada, é também artista visual. Tem especial interesse na escuta e escrita de processos artísticos, da cultura popular e da defesa dos diretos humanos.
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