Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Retratos da Leitura: maioria da população brasileira não lê livros, diz pesquisa

Você conseguiu ler algum livro nos últimos três meses? Pela primeira vez desde que a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil passou a ser realizada, o número de não leitores (53%) é maior que o de leitores (47%). Os resultados da 6ª edição da pesquisa, realizada pelo Instituto Pró-Livro, foram publicados na última terça-feira (19) e evidenciam uma percepção geral já existente no cenário educacional do país: a de que o Brasil lê pouco – e tem lido cada vez menos. 

Num momento histórico, onde a jornada de trabalho 6×1 é amplamente discutida em âmbito nacional, a falta de tempo é a principal razão que distancia os brasileiros dos universos que só nos livros se encontram. Entre as pessoas que não leem, 33% dizem que o principal motivo para não ter lido nenhum livro nos últimos 3 meses foi a falta de tempo, enquanto 32% afirmam que não gostam de ler.

O estudo revela que o Brasil perdeu quase 6,7 milhões de leitores de 2019 para cá. Comparando com os resultados da pesquisa anterior, a queda foi proporcional em todos os segmentos sociais abrangidos: escolaridade, classe, gênero, região e idade. De acordo com a socióloga Zoara Failla, coordenadora da pesquisa, “as redes sociais e a internet estão roubando o tempo do livro”. 

Para a pesquisa, leitor é aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro de qualquer gênero, impresso ou digital, nos últimos 3 meses. Já o não leitor é aquele que não leu nenhum livro, ou parte de um livro, nos últimos 3 meses, mesmo que tenha lido nos últimos 12 meses. A iniciativa ouviu 5.504 pessoas em 208 municípios brasileiros.

Em tempos de feeds, de algoritmos e de estímulos constantes potencializados por cores vibrantes, a atividade da leitura, que exige tempo e modos diferentes daqueles que estamos acostumados ao usar nossos celulares, fica cada vez mais para o alto da nossa estante de prioridades, difícil de alcançar. A pesquisa indagou aos participantes o que gostam de fazer no tempo livre. A grande maioria prefere utilizar a internet e as redes sociais. O estudo indica que a proporção de respondentes que são usuários de internet é de 88%.

Cresce número de pessoas que leem a Bíblia regularmente

Sua filha ou o seu filho tem entre 5 e 10 anos? Ela ou ele tem mantido hábitos de leitura? Um dado que chama atenção na pesquisa é a diminuição do público leitor desta faixa etária, em comparação com os dados do último estudo. O grupo é o que mais perdeu leitores entre todos os grupos etários presentes na pesquisa. 

Ainda que a perda de leitores tenha sido evidenciada em todas as classes sociais indicadas no estudo, a classe C foi a mais impactada. O percentual de leitores de 53% deste grupo baixou para 46%. A classe C é a terceira que menos compra livros, ficando atrás apenas das classes D/E. 

A Bíblia se manteve como o livro mais lido e também mais conhecido, ocupando o primeiro lugar nesse índice desde a primeira edição da pesquisa. O número de pessoas que costuma ler o livro de forma regular aumentou para 38%, um acréscimo de 3 pontos percentuais em relação a 2019. A Bíblia foi citada por 46% das pessoas entrevistadas que não estão estudando no momento e por 26% entre as que estão estudando. 

Outro cenário que permaneceu o mesmo, ainda que também impactado pela redução do número de leitores, é o de gênero. As mulheres seguem lendo mais do que os homens. A queda no número de leitores do gênero masculino (de 50% para 44%) foi maior que no número de leitores do gênero feminino (de 54% para 49%). Quanto à influência e formação dos leitores, as responsáveis pelo incentivo à leitura foram predominantemente mães ou responsável do gênero feminino.

O estudo ainda contemplou a percepção social acerca das bibliotecas, em que prevalece a noção de que se trata de um lugar para pesquisar ou estudar. De 2007 para cá, cada vez mais pessoas indicaram a não existência de uma biblioteca pública em sua cidade ou bairro. A frequência de visitação às bibliotecas também diminuiu: 75% dos entrevistados afirmaram que não frequentam esses espaços. Para quem costuma ir às bibliotecas, as escolares são as mais frequentadas, seguidas das públicas. 

A visão em torno das bibliotecas permanece restringida à noção de que é um ambiente do silêncio, da individualidade, de ocasiões extraordinárias. Para enfrentar essa percepção e garantir maior adesão da população a esses espaços, é preciso repensar os modos de integrar a sociedade em ambientes socioeducativos. Zoara Failla ressalta a importância de se articular um trabalho conjunto entre professores, bibliotecas (através do bibliotecário) e a família, cuja importância no processo de ensino e continuidade de aprendizagem é essencial. 

Zoara Failla destaca que se encontram mais leitores nas famílias onde os pais leem para os filhos, onde tem livros em casa e também onde se recebe o livro como presente. Mas essa realidade ainda é distante para muitas famílias do Brasil.

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Estudante de Jornalismo na UFRGS. Repórter em formação. Gosta de escrever sobre o Outro. Na mesa de cabeceira há sempre um romance. Cearense no Sul.
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