*Esta matéria integra o projeto LAB Futuro Ancestral: co-criando estratégias de mobilização, com realização do Nonada e do coletivo NoiteSuja e apoio do UMI Fund.
Será que dá para proteger o amanhã sem investir no agora? Essa pergunta, que parece simples, é a base de tudo o que o Instituto COJOVEM faz. Em cinco anos de atuação, a organização tornou-se uma das principais vozes da juventude amazônida. Não só lutam por justiça socioambiental, mas também garantem que os jovens sejam vistos como protagonistas da mudança, e não como um problema.
A COJOVEM (Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável) nasceu da união de jovens líderes periféricos, indígenas, quilombolas, extrativistas, e de comunidades urbanas. Um movimento que transforma sonhos coletivos em ações concretas. O trabalho se apoia em três pilares: advocacy, pesquisa e formação de base. Eles usam o diálogo e a ciência para influenciar políticas públicas e fortalecer os territórios, garantindo que o futuro da Amazônia seja construído com a participação ativa de quem vive na região.
Apesar de o Pará ter mais de 2 milhões de jovens, o que representa aproximadamente um quarto da população do estado, ainda não existe uma secretaria específica para a juventude. A pauta fica restrita a uma gerência, e a falta de investimento é desesperançoso: em 2023, o orçamento para a juventude foi de apenas R$ 70 mil para todos os 144 municípios paraenses. Em 2024, esse valor caiu para R$ 20 mil, o equivalente a menos de um centavo por jovem.
Com base nesse cenário, a COJOVEM lançou a campanha “Queremos Já! Secretaria de Juventudes do Pará”, pressionando o governo para criar uma estrutura institucional robusta, com orçamento e políticas que realmente funcionem. Uma pesquisa do instituto, “Fala, Juventudes do Pará” (2023), mostrou a dura realidade da exclusão, em 22 anos, apenas 36 políticas públicas mencionaram a juventude, sem deixar um legado estruturante. O estudo revelou problemas sérios, como a falta de acesso digital, insegurança alimentar, pouca participação política e a urgência de gerar renda e trabalho.
O Instituto se tornou um elo entre as pautas amazônicas e os espaços de decisão no Brasil e no mundo. A equipe já participou de mais de 10 conferências internacionais do clima, levando propostas sobre adaptação, transição justa e o tema de perdas e danos. No Brasil, eles se articulam para influenciar políticas que levem em conta os desafios específicos da juventude da Amazônia Legal. A presença do instituto na criação do primeiro Fórum de Juventudes na International Conference on Chemicals Management (ICCM) e no Internet Governance Forum (IGF) mostra como eles conseguem colocar a Amazônia no centro das discussões globais sem nunca perder a conexão com a base, nos territórios.
A ciência é a espinha dorsal do trabalho da COJOVEM. Nos últimos anos, se dedicaram em publicar artigos, relatórios e livros que se tornaram referências para quem estuda a juventude, a desinformação e as mudanças climáticas na região. Entre as publicações, estão o artigo científico “Políticas Públicas e Meio Ambiente”, o livro Agenda de Políticas Públicas, Projetos e Programas para Enfrentar os Desafios Climáticos do Pará” e o relatório “Combate à Desinformação na Amazônia Legal”. Essas publicações fortalecem o debate acadêmico e alimentam o trabalho de advocacy, transformando dados em propostas concretas.
Além disso, o instituto desenvolve projetos como o “Jovens Pesquisadores Amazônidas para a Realidade Climática (JOPA)”, um programa de formação que capacita jovens entre 16 e 29 anos em pesquisa, análise de dados e produção de artigos. E quando penso na minha trajetória no Instituto, lembro que tudo começou por ele. Eu buscava um espaço para aprender a pesquisar a Amazônia com dados abertos, especialmente sobre mudanças climáticas.
E o JOPA me deu essa oportunidade. Mais do que isso, o projeto me mostrou que a ciência não precisa ficar restrita a pequenos círculos acadêmicos. Ela pode, e deve, estar a serviço da sociedade, transformando dados em propostas concretas para o debate público e a incidência política.
Esse olhar foi um divisor de águas para mim, levando-me a integrar ao Instituto. Hoje, com muito esforço e responsabilidade, tornei-me parte da coordenação do núcleo de pesquisa, atuando para que a ciência que produzimos dialogue diretamente com a realidade amazônica e com as juventudes que a constroem no cotidiano.
Além do JOPA, outros projetos reforçam esse propósito coletivo. Como a parceria com o Instituto Besouro no “Horizontes para Jovens Indígenas” que já capacitou mais de 300 jovens em empreendedorismo focado na sociobioeconomia, em diversas terras do Pará, ampliando horizontes de autonomia e sustentabilidade. Enquanto o documentário “A Maré Tá pras Juventudes?” proporciona a visibilidade das vozes dos jovens que denunciam a exclusão digital e a emergência climática. Essas iniciativas mostram como o Instituto não apenas pesquisa a realidade, mas a transforma junto com os territórios.
Outro eixo estratégico é o combate às fake news. A COJOVEM participou da criação do relatório “Amazônia Livre de Fake”, que investigou redes de desinformação e discurso de ódio. O estudo revelou como a desinformação tem sido usada para enfraquecer as lutas ambientais, invisibilizar comunidades e desacreditar organizações sociais na Amazônia.
Para o Instituto, a juventude não é uma promessa para o futuro, mas uma força ativa e presente na defesa da Amazônia. Em um cenário onde o Pará lidera o desmatamento desde 2006 e onde a crise climática afeta a saúde mental de 45% dos jovens em 10 países, o papel do instituto é vital em transformar a vulnerabilidade no protagonismo juvenil.
“Por um mundo onde ser jovem não signifique ter menos direitos. Somos a mudança que queremos ver no mundo”, assim essa frase resume a missão da organização, mostrando que a luta pela Amazônia não acontece só na floresta ou em grandes conferências, mas também na garantia de direitos, na construção de políticas públicas e na valorização das vozes jovens. A conservação do amanhã, como eles dizem, começa com um investimento firme no agora. Afinal, sem juventudes, não há futuro possível para a Amazônia, nem para o nosso planeta.