Ein Prosit pela tradição alemã

TEXTO Débora Backes (dehbarboza@gmail.com)

Um pé para fora do vagão. Um passo na terra onde os costumes alemães se misturam com os de diversos outros países. O desembarque na principal estação de Munique, na Alemanha, já apresenta características diferentes do que no restante do ano. Não só no momento de sair do trem, como em todo o trajeto, figuras peculiares se apresentam pelos numerosos vagões. Elas não chamam atenção apenas pelos cabelos loiros, pele extremamente branca e olhos claros, mas pela roupa curiosa. Dirndls e Lederhosen, os trajes típicos alemães são vistos já nas primeiras horas de viagem em direção a cidade sede da Oktoberfest. Vestido com saia rodada, camisa com ombros estufados e avental. Dessa forma é composto o Tracht – palavra que significa vestimenta folclórica – feminino chamdo de Dirndl. Para os homens, calça até o joelho com suspensor Rios (Lederhose), camisa branca, meias compridas e chapéu. Claro que como em qualquer tradição, há improvisos e adaptações, mas nada muda em essência. A Oktoberfest continua sendo a festa mais esperada do ano. Entre os dias 18 de setembro e 4 de outubro, alemães e estrangeiros se vestiram para celebrar os costumes germânicos no campo do Theresienwiese.

Foram dezessete dias para comemorar os 200 anos, o Jubiläumsfeier, da maior festa típica alemã. Mesmo assim, durante estas duas semanas e meia, o recorde de público não foi alcançado. Segundo a organização do evento, em 1985, 7,1 milhões de visitantes estiveram na Oktoberfest, o que deixa os 6,4 milhões de visitantes deste ano para trás. Dentro deste grande algarismo se encontram alemães, italianos, americanos, ingleses, australianos e, entre outras nacionalidades, brasileiros. Apesar de tanta mistura de idiomas e nacionalidades, a maior parte dos participantes da festa é alemã originária do próprio estado da Bavaria, do qual Munique é a capital, somando 72% do público. Os estrangeiros somam 19%, entre os quais os italianos são os que mais visitam a festa. De fato, ao colocar os pés nas tendas organizadas para abrigar os apreciadores de cerveja, o italiano é a língua que predomina depois do alemão. A organização do evento não pode estimar uma porcentagem para o número de brasileiros, mas o português não deixa de ser ouvido durante a festa.

Como em toda tradicional celebração alemã, a cerveja não pode faltar. Na Oktoberfest este não é um problema, a bebida é de sobra. Em um corredor dentro do enorme parque estão dispostas as 14 tendas das principais marcas de cervejas alemãs, entre elas Paulaner e Hofbräu. Não há muitas opções para os que bebem menos, já que até estes se rendem a bebida típica. O conhecido caneco que contém nada menos que um litro de chope, chamado de Masskrug, é a pedida para os apreciadores da bebida e para os que não se importam em tomá-la em temperatura ambiente. Só é possível fazer o pedido em uma das mesas dentro dos galpões, tarefa quase impossível a primeira vista. Pessoas amontoadas em cima das cadeiras em volta de uma quantidade incontável de copos, essa é a visão do caos que harmoniosamente se transforma em festa. Para a estudante brasileira em intercâmbio na Alemanha há um semestre, Lélis Larissa Scharb, de 22 anos, a organização para comprar cerveja foi um problema: “Os pavilhões estavam cheios, muita gente ficou do lado de fora, onde não vendiam cerveja. Quase fomos para a Oktober e não tomamos nem a cerveja de lá. Por sorte em um dos pavilhões, logo na entrada, as garçonetes traziam (bebidas) de dentro das tendas”. A situação foi a mesma enfrentada pelos brasileiros residentes na Alemanha Leandro Michieleto, Engenheiro Químico de 26 anos, e Cristiano Wildner, estudante de Jornalismo de 23. Dessa vez, as manias alemãs atrapalharam o caminho dos dois amigos rumo ao lendário caneco de um litro, o Masskurg: “O problema é que os alemães já têm suas tendas preferidas em um ritual que se repete todos os anos e eles são capazes de ficar um dia inteiro lá. Por isso, a rotatividade não é o forte das mesas”. É possível fazer uma reserva com antecedência para não perder lugar nas tendas. Por 35 euros, preço não tão razoável para alguns.

Não foi a toa que o consumo de cerveja desta última comemoração foi maior do que nos anos anteriores: em torno de sete milhões de Masskrugs foram vendidos. Isso já era possível imaginar ao ver os corredores das imensas tendas ou o tal parque de diversões. Pessoas sorrindo de olhos fechados com um caneco nas mãos cantavam a música clássica para o momento crucial do Protsi, palavra que em alemão significa brinde. “Ein Protsi, ein Protsi der gemütlichkeit”. Canecos se batem freneticamente e o líquido amerelo voa por todos os lados. Não há graça em um brinde sem ser acompanhado por um pequeno banho de cerveja. Copos quebrados com a força do tal brinde. Sem problemas, o objetivo é beber cada vez mais.

Entretanto, a festa mais tradicional da cerveja não foi feita somente para isso. Soa irônico, mas não deixa de ser verdade. Crianças acompanhadas de seus pais também aproveitam o espírito da festa, o que é possível notar durante uma tarde no campo do Theresienwiese. “Imaginava que a Oktoberfest fosse uma festa voltada para o chope”, comenta a brasileira Lélis Scharb, “Mas a Oktober é, além da cerveja, uma festa muito parecida com as feiras, expo-feiras no Brasil, com muita coisa para vender, artesanato,  lanches, guloseimas típicas da Alemanha. Um lugar para a família”. O Engenheiro Químico Leandro também relata ter se impressionado com a quantidade de famílias que frequentam a festa: “Apesar de ter o maior número de bêbados por metro quadrado, a Oktoberfest é um evento muito família. A quantidade de alemães circulando com crianças por todos os lados é impressionante”.

Nestes e em outros aspectos a grande festa alemã deixou boas impressões na maioria dos relatos. A mistura dos idiomas, as diversas bebidas e guloseimas alemãs, as músicas e roupas típicas e o sentimento eterno de festa encantaram a gaúcha de 21 anos, Martha Nast, que veio para Munique para estudar alemão. Vestida com o Dirndl rosa, a jovem de cabelos loiros e olhos claros, como uma verdadeira alemã, mostra ter superado suas expectativas: “Eu já tinha uma ideia pré-elaborada de ouvir falar e ver fotos, mas realmente me surpreendi. Achei sensacional o clima de festa e do pessoal cedendo lugar, conversando contigo como se te conhecesse há tempos”.  Para quem já tinha ido a Oktoberfest do Brasil, foi impossível deixar de comparar. Cristiano Wildner, natural de Venâncio Aires, esteve no evento realizado em Santa Cruz do Sul e diz que o espaço reservado para as danças típicas e exposições sobre os costumes alemães é maior na cópia brasileira. Porém, não deixa de declarar por ele e pelo amigo que o acompanhou durante os dois dias de festa: “Somos unânimes em afirmar que voltaríamos ano após ano”.

Para quem quer se aventurar na Oktoberfest oficial…

Todo grande evento tem seus preparativos, não somente para quem organiza, mas principalmente para quem participa. Para presenciar um grande evento como a Oktoberfest de Munique não seria diferente. Hospedagem e transporte são os principais requisitos para quem quer se candidatar a festa. No primeiro tópico deste currículo vem a grande questão: Onde ficar durante os dias da Oktober? Albergues são as opções mais baratas, como em qualquer outro lugar na Europa, entretanto os preços aumentam durante o período da festa. Segundo o funcionário do albergue Haus International, Florian Thuy, o preço da estadia aumenta 80% durante este período do ano. Em outros albergues da capital bávara, segundo relata Thuy, o preço chega a aumentar até 200%. Mesmo com os preços elevados, é díficil conseguir lugar para se hospedar de última hora. Portanto, o melhor é fazer as reservas com grande antecedência. De acordo com uma das funcionárias da organização da Oktoberfest, Tanja Dürheimer, muitas reservas já são feitas entre os meses de janeiro e abril. Isso evita preços mais elevados e a preocupação em não haver lugar para ficar.

Outra opção são os campings da própria Oktoberfest, com barracas e trailers para os que realmente não se importam com uma hospedagem mais simples. O preço das barracas varia conforme os dias da semana é nelas é possível acomodar até quatro pessoas. Durante a semana o custo por noite é de 58 Euros. Sexta e sábado o preço aumenta em dez Euros. Já os trailers custam 130 Euros por noite durante a semana, e 140 durante para o final se semana. O camping é organizado pela própria Oktoberfest e fica localizado a poucos minutos de onde a magia atrás da cerveja acontece.

Para os ainda mais aventureiros que se encontram em cidades próximas de Munique a solução é simples: bate-e-volta. Foi o que fez a estudante Lélis Scharb, residente na cidade de Tübingen, em Baden-Wüttemberg, estado vizinho da Bavaria. Ela e outras três amigas foram de trem até a cidade sede do evento e voltaram no mesmo dia. Porém, a experiência foi, como se esperava, desgastante: “Ir e voltar no mesmo dia foi muito cansativo, talvez por ser o último fim de semana (da Oktoberfest). Os trens foram e voltaram completamente cheios. Sorte que conseguimos um banco, muitas pessoas passaram as quatro horas de viagem em pé”.  Disposição e paciência são as palavras chaves para quem quer fazer o mesmo. Para aqueles que querem passar apenas alguns dias, é preciso pensar bem na data e escolher com calma os melhores dias da semana. Finais de semana são mais cheios e difíceis de encontrar lugares nas tendas, por exemplo. Para a estudante Martha Nast sem dúvidas os dias de semana foram as melhores escolhas, já que o número de visitantes diminui. Outra boa dica para não quer deixar de desfrutar da tradicional bebida alemã sem preocupações é levar somente o essencial. Documentos importantes, dinheiro em excesso podem ser deixados em casa. Atenção com os pertences também é uma boa ideia, já que por ser uma festa grande se torna fácil de perder objetos ou de eles serem roubados, apesar da segurança. Mas a preocupação termina por ai. No resto, é só vestir o Tracht, comprar um Masskrug eapreciar a cultura alemã.

Compartilhe
Ler mais sobre
história Oktoberfest
Ler mais sobre
Curadoria Processos artísticos

Com látex, madeira e chinelo, artistas visuais criam novos mapas decoloniais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *