
O Nonada inicia a sua cobertura do Oscar 2013 com o filme Django Livre, indicado a Melhor Filme, melhor ator coadjuvante, melhor roteiro original, entre outros. Acompanhe-nos para ficar por dentro dos filmes que tem chances (ou não) de levar alguma estatueta para casa.
Quentin Tarantino provavelmente não teria sido um bom pintor e se tentasse escrever livros as chances de dar realmente certo não seriam muito grandes… E se ele fosse músico? Difícil… Só se atacasse como DJ de alguma festa com muita black music, porque, convenhamos, ele sabe escolher trilhas sonoras. Mas o que interessa é que, felizmente, Taratino acabou fazendo cinema. Só mesmo dispondo da imagem, de música, de diálogos ágeis, de atores, de farsa, enfim, do fazer cinematográfico ele seria apto a misturar e manejar diferentes gêneros, criando um estilo único.
E se falar de Tarantino é falar de uma marca, podemos dizer que Django Livre, filme mais recente do cineasta, segue a linha do aclamado Bastardos Inglórios, de 2009, ao tratar de vingança. Não apenas a vingança passional, digna de vários outros filmes e analisada por vários outros diretores; a vingança aqui é mais profunda, de cunho histórico. Se em Bastardos Inglórios, Tarantino colocou judeus para caçar alemães nazistas na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, em Django Livre estamos a dois anos da Guerra Civil Americana, época de alto nível de segregação racial, de negros escravizados. E temos Django, o nome do herói e também nome de um antigo filme de faroeste que Tarantino reverencia e homenageia, que deve seguir sua epopéia atrás da sua esposa desaparecida ao mesmo tempo em que enfrenta (com tiros, com imposição e aceitação social) uma sociedade ultra preconceituosa.
É irônico e muito inteligente como o cineasta faz justamente do personagem alemão King Schultz, um caçador de recompensas, o grande aliado e o homem que dá a alforria e, logo, a esperança para o negro Django. Essa dicotomia ganha um fôlego ainda maior se comparada ao seu filme anterior. Temos aqui um alemão que acolhe o personagem negro, um dos povos que mais tarde seria perseguido pela Alemanha nazista que sustentaria o discurso de “raça superior”. A relação entre Django, interpretado no ponto por Jamie Foxx, e o alemão é um dos aspectos mais interessantes do filme, porque em dado momento suas crenças e atitudes parecem se inverter, tornando a produção ainda mais interessante.
Lembrando que Tarantino trabalha muito com estereótipos nesse filme, ainda mais porque é de estereótipos que os dois gêneros cinematográfico que o longa homenageia ficaram conhecidos. Está presente em Django Livre as belas cenas a cavalos e os close-ups dos filmes de faroeste e está presente também a sensualidade e as extravagâncias dos protagonistas do gênero Blaxploitation. Tudo, é claro, com aquela violência por vezes estilizada, por vezes mais escrachada.
Mas Django Livre, assim como a maioria dos filmes de Tarantino, não se leva muito a sério e esse é o seu maior trunfo. Apesar do tema soturno da escravidão, o filme é realmente muito engraçado, com ótimos diálogos, principalmente na figura do alemão Schultz, não é à toa que Christoph Waltz foi indicado ao oscar de melhor ator coadjuvante novamente. Seu personagem é a roda que faz girar a maioria das relações do filme e raramente é ofuscado quando está em cena. A boa notícia é que Leonardo Di Caprio conseguiu fazer um vilão à altura da excelente galeria de vilões de Tarantino, Calvin Candie é mau na medida certa, isto é, seu orgulho fala mais alto que sua coerência, o que nos filmes do Tarantino sempre leva a um final perturbador.
Por vezes, o filme pode ficar um pouco cansativo, principalmente antes da chegada do terceiro ato, quando conhecemos Calvin Candie. Mas logo, já somos fisgados novamente pelas belas atuações e as sempre cenas tensas construídas com maestria por Tarantino. E isso já deveria ser motivo para dar uma ida ao cinema.