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Os domingos de união na Vila Isabel

Unidos da Vila Isabel-180
O branco, amarelo e azul tomaram conta, do público, do grupo show e da noite na Vila Santa Isabel

Texto Rafael Costa
Fotos
 Ismael Fonseca

Para quem reside em Viamão, a parada 32 não é simplesmente uma demarcação, como a 39 ou a 43. A parada 32 é o bairro Santa Isabel. O bairro tão próximo de tudo, e que só não pertence à cidade de Porto Alegre por triz de metragem. É uma das principais entradas do município. Próximo ao Campus do Vale da UFRGS, o bairro foi adotado como a Vila Santa Isabel, e assim, tradicionalmente é chamado pela maioria dos habitantes.

Curiosamente a escola de samba que nasceu na vila herdou o nome. Na rua Marcelino Pacheco, número 131, semi-escondida atrás de um ligeiro declive para esquerda, encontra-se a quadra da Unidos de Vila Isabel. Fundada em 7 de abril de 1979 e atualmente dirigida por Cléber Tavares, a Vila é a única representante de Viamão nos desfiles anuais das escolas de samba de Porto Alegre.

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A paixão por carregar o estandarte de sua escola é uma das emoções presentes no carnaval

Com suas cores: branco, azul e amarelo, a Tricolor de Viamão realiza ensaios semanalmente, aos finais dos domingos. Começando às 21h e se estendendo, no máximo, até à 1h da manhã. O preço dos ingressos varia de cinco a dez reais, dependendo da atração. No domingo do dia 17, a Vila Isabel recebia as cabrochas (musas da escola) da Imperadores do Samba e da Imperatriz Dona Leopoldina. No ensaio, a Vila Isabel contou com seu tradicional grupo show, composto de bateria denominada “Furiosa de Viamão” , a princesa da escola, casais de passistas, porta estandarte e os casais de mestre-sala e porta-bandeira. Quem dividiu as atenções com os demais foram os meninos da comissão de frente, que antes faziam somente ensaios técnicos, em outro dia.

A quadra da Vila Isabel fica num terreno que foi escavado há muitos anos. Este divide-se em uma área com brita, que serve como um pequeno estacionamento privado a funcionários ou convidados da escola. Mais a frente, sob uma cobertura de concreto, ocorre o fervo de fato. À esquerda, há o “Buteko da Vila”, copa que oferece bebidas e lanches, além de algumas mesas destinadas ao público. Há também um camarote para melhor visualização de toda a área do ensaio. Infelizmente, os banheiros são poluídos e de iluminação turva ligeiramente alaranjada. Lixeiras, somente nos sanitários. Todo o consumo do público fica espalhado pelo chão, e só é limpo no dia seguinte pelo caseiro da quadra.

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O casal de mestre-sala e porta-bandeira prendeu a atenção de todos na quadra

Já passava da meia noite e o ensaio estava a todo o vapor, cinco brasões da escola giravam intensamente. O branco e o azul eram as cores predominantes das fantasias. O amarelo, mesmo tímido, conseguiu se destacar em meio a sorrisos, sapateados e coreografias. Mais tarde, os destaques saíram de cena e a bateria descansou um pouco. A principal iluminação da quadra é destinada à pista do samba. Localizada em frente ao palco, o público rodiava o espaço delimitado pelos organizadores. Naquele instante, todas as lentes de câmeras e olhos se jogaram à apresentação solo do casal de mestre sala e porta bandeira ao som do violão da harmonia. Como o clássico do teatro mágico Bailarina e o Soldado de Chumbo, ambos desempenham um conto de apresentação, como um balé na pista.

Na sequência, se encaminhando para a finalização, o público tomou conta da quadra, se juntando aos destaques. O principal vocal da harmonia passou a ser feminino, e entoava músicas de Anitta e Ludmila. De repente, o carnaval virou uma grande festa de charme com tamborins e surdos ritmando a melodia carioca. O povo respondeu no mesmo nível: com passos coreografados.

Com o tempo, a quadra foi ficando mais vazia, pois estávamos a uma hora e meia de uma segunda-feira. A Furiosa de Viamão fez um arrastão, saindo de seu lugar ao lado do palco para o centro, encerrando todas as atividades ao fresco ar descoberto. A diversão foi garantida para o público, sendo a maioria, moradores da própria Vila Isabel. Muitos negros, poucos brancos, diversos gostos, a mesma alegria. Assim foi, segue e vai a família Unidos da Vila Isabel.

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