La Digna Rabia: rebeldia em forma de cúmbia

La_Digna_Rabia-5
A banda surpreendeu o público com seu repertório, tocando a Marcha Imperial e Estoy Aquí

Texto Anna Veiga
Fotos
Erick Peres

Música, dança e combatividade. Essas são palavras que marcaram a última madrugada de sábado para domingo (21) no Batecumba, casa noturna localizada na rua João Alfredo, na Cidade Baixa, onde o Conjunto Musical La Digna Rabia subiu ao palco para não deixar ninguém da plateia parado. Com uma mistura de ritmos como cúmbia, ska e punk rock, a banda animou o público presente, cantando, em espanhol, músicas autorais e versões adaptadas de outros artistas.

Celebrando o lançamento de seu primeiro álbum completo, Conjunto Musical La Digna Rabia y el Increíble Baile Calavera, que está em pré-venda e tem previsão de lançamento para o mês de março, a banda não deixou de apresentar trabalhos de seus dois EPs, como “Copacabana” e “Ser Gobernado”. Vestidos com camisas estampadas – exceto pelo vocalista, que usava uma camiseta preta e um lenço vermelho dos Zapatistas (movimento mexicano inspirado na luta de Emiliano Zapata contra o regime de Porfirio Díaz e que ganhou maior visibilidade em 1994, quando tomou o controle de parte da província de Chiapas) – e interpretando as canções com toda a picardia que os ritmos permitiam, os músicos criaram um ambiente tomado pela latinidade, muitas vezes esquecida por nós, brasileiros.

Ainda durante o primeiro bloco, a banda – conhecida tanto pela sua qualidade musical quanto por seu envolvimento com os movimentos sociais – lembrou o que chamou de “aumento vigarista” das passagens de ônibus. Com uma crítica a esse reajuste, convidou os presentes a participarem do ato do Bloco de Lutas pelo Transporte Público, programado para esta segunda-feira, dia 22/2, às 18h. O grupo destacou que manifestar indignação na internet é importante, mas que, mais do que isso, o que realmente faz a diferença é ir à luta nas ruas. A parte inicial do show se encerrou com o romantismo do clássico Bésame Mucho, da mexicana Consuelo Velásquez e eternizada em vozes como a de Andrea Bocelli e Julio Iglesias.

La_Digna_Rabia-3
A cúmbia produzida pelos instrumentos de corda e sopro do La Digna Rabia embalaram a noite na Cidade Baixa

Após um intervalo de cerca de 15 minutos, La Digna Rabia voltou com ainda mais energia e músicas dançantes, provando que o show estava só começando. Acompanhada pelo coro de parte da plateia, aparentemente bastante assídua às apresentações, a banda cantou músicas como as inspiradas em junho de 2013 “Amanhã vai ser maior”, da qual foi gravado um clipe musical, realizado pelo Coletivo Catarse, e “Garota Black Bloc”, que conta a história (parcialmente verdadeira, segundo os músicos) de uma paixão iniciada em meio aos protestos, e que levou o público a dançar freneticamente em frente ao palco.

Quando anunciado o fim do show, como era de se esperar, o público pediu por “mais um”. Superando as expectativas, o conjunto tocou mais uma sequência de músicas, dentre as quais estava uma versão animadíssima da “Marcha Imperial” – momento no qual o vocalista empunhou um sabre de luz. Encerrando a apresentação e mostrando que La Digna Rabia pode agradar a diferentes gostos musicais, o hit “Estoy Aquí”, da cantora pop colombiana Shakira, surpreendeu àqueles que pensavam que a variedade de estilos transformados em cúmbia já havia se encerrado.

Foi uma noite animada, propícia para quem queria escutar um bom som e se divertir, mas sem nunca esquecer que, ao sair dali, ainda há muita injustiça a ser combatida. Um momento para celebrar a alegria de se viver em um país latinoamericano, mas sem deixar de lembrar que ainda há desigualdade social e que essa é uma realidade que só pode ser transformada com muita coragem e luta. E, claro, com uma dose especial de arte para revigorar as energias.

Compartilhe
Ler mais sobre
Direitos humanos Entrevista

“O racismo sempre fez parte do meu acolhimento no Brasil”, diz autor haitiano

Curadoria Processos artísticos

Conheça artistas que integram a mostra Brasil Futuro: as Formas da Democracia

Processos artísticos Resenha

“Em um bairro em Nova York” reflete o encontro de gerações de latinos por um olhar otimista