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Visão Periférica: uma biblioteca que expande os horizontes

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A bibliotecária Andréia e o fundador da Visão Periférica, Sidney (Foto: Lidiane Bach/Nonada)


No alto do Morro Santana, o maior de Porto Alegre, tem-se uma visão total – ampla e periférica. Foi com base nisso que Sidney da Costa Bispo teve a ideia de expandir essa visão à comunidade da Vila das Laranjeiras: montou, em sua própria casa, uma biblioteca comunitária, a Visão Periférica.

Sidney estudou até a sétima série e, talvez por isso, seu interesse pela leitura tenha surgido há menos de cinco anos. Ele trabalhava numa loja de eletroeletrônicos em um shopping e frequentava, na hora do intervalo de trabalho, uma livraria. Enquanto era vendedor, Sidney tinha outros planos: desenvolver um modelo de negócios. Mas ele percebeu que lhe faltava algo mais. “Percebi que me faltava muito em questão de conhecimento”, diz ele. E foi assim que ele se transformou. E resolveu transformar o mundo ao seu redor.

Livros infantis, CDs e um violão fazem parte do acervo da biblioteca (Foto: Lidiane Leandro/Nonada)
Livros infantis, CDs e um violão fazem parte do acervo da biblioteca (Foto: Lidiane Leandro/Nonada)

O fator que mais o motivou a fazer a Visão Periférica foi o nascimento de sua filha, Cecília, hoje de um ano e meio. “Com a paternidade, percebi o quão importante seria, de alguma forma, buscar uma mudança pela minha filha e pela geração que a acompanha e as gerações seguintes”, afirma Sidney.

A biblioteca começou a se concretizar há dois anos, quando o ex-vendedor ia para os pontos mais movimentados de Porto Alegre para divulgar a iniciativa e aumentar seu acervo. Foi assim que Sidney conseguiu alguns de seus apoiadores: seu amigo Júlio Dias, a ocupação Kuna Libertária, a rádio comunitária Voz do Morro, os voluntários da comunidade e a bibliotecária Andreia, da Lomba do Pinheiro. “Eu acho interessante trabalhar com projeto social porque as pessoas que estão ao redor valorizam muito o trabalho de quem ajuda. Eu gosto muito de ajudar”, diz ela. Hoje, tem apoio financeiro e pedagógico do Redes de Leitura – associação de bibliotecas comunitárias, que é ligada à ONG Cirandar – e do Instituto C&A.

A Visão Periférica fica na garagem da casa de Sidney, que mora com mais quatro pessoas. É um espaço ainda pequeno e modesto, mas que oferece muita cultura: livros, filmes, CDs e um violão – tudo proveniente de doações. São oferecidas também oficinas, quase todos os dias: contação de histórias, leitura com crianças, produção de sabão com óleo de cozinha usado e oficina gastronômica. No dia em que fomos lá, a atividade era fazer brigadeiro de morango. O público da biblioteca é, no momento, composto por crianças e adolescentes, mas o espaço é destinado a pessoas de todas as idades, diz Sidney. “O critério básico de seleção dos livros é manter os que são literários”.

A oficina de HQs é uma das atividades frequentes (Foto: Visão Periférica)
A oficina de HQs é uma das atividades frequentes (Foto: Visão Periférica)

Mas ela ainda não está pronta. Falta pouca coisa, diz Sidney. “Falando em estrutura física, falta terminar o reboco externo da parte da frente e da lateral – porque, quando chove, umedece – e a gente tem poucos livros ainda, cerca de 250”. Por isso, Sidney e Andreia estão vendendo uma rifa para arrecadar dinheiro para o término da obra e também para divulgar o espaço. “Como eu faço artesanato, eu sugeri que o prêmio poderia ser as almofadas que eu faço, porque não ia dar prejuízo. Depois disso, aumentou o fluxo de pessoas aqui. E acho que, daqui pra frente, vai aumentar muito. Conforme a gente vai falando, as pessoas vão fazendo doações também”, afirma Andreia.

A Visão Periférica também promove ecotrilhas literárias, que são trilhas embaladas por poesia e que terminam com o pôr-do-sol do alto do Morro Santana, onde tudo isso começou. A Vila das Laranjeiras agradece.

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