Céu é sua própria estrela na turnê Tropix

Céu trouxe a Porto Alegre o show de seu novo álbum Tropix (Foto: Gisele Endres/Nonada)
Céu trouxe a Porto Alegre o show de seu novo álbum Tropix (Foto: Gisele Endres/Nonada)

No último sábado (8), uma noite quente de outubro, o Opinião estava preparado para receber Céu. A cantora lançou o álbum Tropix (2016) recentemente, que passei a ouvir toda semana de tanto que gostei. Se Céu já consegue demonstrar sua criatividade sonora em estúdio, ao vivo a cantora paulistana faz isso ainda melhor.

A casa de shows encheu repentinamente. As mesas e cadeiras foram ofuscadas pela plateia, de maioria jovem adulta, que sabia bem o que queria fazer ali: dançar pra caramba. A cantora iniciou o show com “Rapsódia Brasilis”, última música do álbum novo e que caracteriza bem o Tropix: uma mistura de música eletrônica, funk, samba, rock, reggae, entre outros gêneros musicais. É um som bem difícil de definir. Céu percebeu seu valor quando foi intensamente ovacionada pela plateia, e ela, visivelmente emocionada, retribuiu da mesma forma. Depois, vieram as famosas e dançantes “Perfume do Invisível” (fez parte da trilha sonora da novela Velho Chico, da Globo) e “Arrastar-te-ei”, do mesmo álbum. Foi nessa hora que a artista mostrou que tem uma presença de palco tão sensual quanto espontânea, e sua voz é aveludada, afinada e potente, sem necessidade de filtros.

O álbum é uma mistura de ritmos que vai do reggae, passa pelo eletrônico e chega ao samba (Foto: Lia Thomas)
O álbum é uma mistura de ritmos que vai do reggae, passa pelo eletrônico e chega ao samba (Foto: Lia Thomas)

Representando o disco Caravana Sereia Bloom (2012), Céu tocou agogô em “Contravento”, música cheia de gingado que lembra canções populares nordestinas. Na intensa “Amor Pixelado”, a cantora arrepiou em transitar, com facilidade, entre duas oitavas diferentes. Além de linda e criativa, Céu também é uma ótima cantora. “Cangote”, uma das músicas mais conhecidas do CD Vagarosa (2009), ganhou, ao vivo, “uma roupagem Tropix”, como ela mesmo disse. Particularmente, eu preferi a versão do disco Ao Vivo (2014), mais swingada.

Até que sua banda, composta por Pupillo na bateria (sim, o que toca na Nação Zumbi), David Swan na guitarra, Lucas Martins no baixo e João Leão nos teclados entoaram os primeiros segundos da minha música preferida dela, “Varanda Suspensa”, acompanhada por gritos de “Fora Temer” da plateia. Tá bem claro que esse foi o melhor momento do show. Céu também cantou a nostálgica “Chico Buarque Song”, cover da banda Fellini (“em homenagem a São Paulo”, disse ela), e a calma “Camadas”, de autoria dela e da banda goiana Boogarins, ambas também lançadas no Tropix. Para fechar o destaque das músicas novas, “A Nave Vai” seria facilmente dançada numa boate nos anos 80, com elementos eletrônicos e um ritmo bastante quadrado, porém sem ser uma música chata (aliás, ela é excelente).

O pout-pourri “Malemolência” e “Lenda” também foi um ponto alto do show, visto que são músicas  populares (que também já fizeram parte de trilhas sonoras de novelas), além de terem ritmos contrastantes, deixando a mistura mais interessante. No bis, Céu mostrou a sua forte influência do reggae, chegando a cantar Bob Marley [“Concrete Jungle”, gravado em seu primeiro CD, auto-intitulado (2005)] e “Sonâmbulo”, do Vagarosa.

O milagre de Céu é juntar os melhores elementos sonoros de diversos ritmos, e fazer algo inimitável. Ser original é difícil, mas ela não precisa se esforçar pra isso. Não é sempre que uma música gravada consegue ser reproduzida ao vivo, tanto em técnica quanto em emoção. Aliando letras profundas, presença de palco, autenticidade e carinho com o público, ela e sua banda me surpreenderam. Sem Céu, meu céu não teria ganhado mais uma estrela.

A cantora ficou conhecida com músicas como "Malemolência" (Foto: Gisele Endres/Nonada)
A cantora ficou conhecida com músicas como “Malemolência” (Foto: Gisele Endres/Nonada)
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Editora, nordestina, nômade e entusiasta de produções autorais. Gosta de escrever sobre música e qualquer coisa que seja cultura.
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