Ouvidoria: 20 perguntas para Zoravia Bettiol

Foto: arquivo pessoal

A série Ouvidoria desta semana traz uma entrevista com Zoravia Bettiol, artista plástica, designer e arte-educadora. Nascida em Porto Alegre, RS, em 1935, ela é uma das primeiras artistas visuais a se inserir no mercado da arte no estado. Com temáticas atreladas à preocupação com o meio ambiente e à cultura popular, aos 65 de carreira, ela continua inquieta.

Zoravia participou de 151 exposições individuais e mais de 400 coletivas, em Bienais, Trienais e exposições importantes internacionais entre 1959 e 2020 na América do Sul, Europa, EUA e Japão. A mais significativa foi a retrospectiva Zoravia Bettiol – O Lírico e o Onírico no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, em 2016. Suas obras estão em acervos dos principais museus e centros culturais do mundo como o Metropolitan Museum e o Brooklyn Museum, ambos de Nova Iorque; o Kunstindustriemuseet, de Oslo, Gabinet des Estampes Bibliothéque Nationale de Paris e o Museum of Modern Art, de Kyoto.

Recebeu os prêmios ABCA 2018, na categoria Homenagem pelo conjunto da obra, Prêmio Lideres e Vencedores 2012. Categoria Expressão Cultural. Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul e Federasul, Porto Alegre, em 2012, 2º Prêmio Joaquin Felizardo, em Artes Plásticas, em 2008, Comenda Pedro Weingärtner, por serviços prestados à comunidade. Concedido pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre, em 2002. Foi homenageada em 2015 com a criação do Instituto Zoravia Bettiol que preservará sua arte além de difundir cultura e artes visuais.

Leia abaixo a entrevista na íntegra e aqui todas as demais entrevistas da série Ouvidoria.

Quando e como começou tua carreira?

Eu considero minha participação no 6º Salão do Instituto de Belas Artes, na sessão de pintura, em 1955, quando terminei o curso de habilitação em pintura, o inicio de minha carreira artística.

Principais exposições:

Realizei 150 exposições individuais e amis de 400 coletivas sendo que as mais significativas, individuais, foram: Zoravia Bettiol – O Lírico e o Onírico realizada no MARGS em 2016 e a mostra Arte Têxtil de Zoravia Bettiol no Museu de Arte e Industria de Oslo na Noruega, em 1984 e as mostras coletivas Evento Têxtil 85, em 1985 no MARGS e que itinerou em museus de Florianópolis, Curitiba, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo em 1986, a exposição Figura – Internationale Buchkunst Austellung em Leipzig, na Alemanha, em 1971 e a IV Bienal Internacional de Tapeçaria em Lausanne na Suíça, em 1969.

Como você descreveria sua essência enquanto artista?

A história do ser humano, seus sonhos, inquietudes, afetos, a justiça social e o ambientalismo são temas recorrentes em minha obra.

O que mais irrita na cena cultural?

As contratualizações das instituições públicas, o corte das verbas nas áreas de pesquisa, educacional, artística e cientifica e as verbas cada vez mais vergonhosas e diminutas para a área cultural.

Quais qualidades são imprescindíveis a um artista?

Penso que a inclinação para uma determinada área artista, seu estudo aprofundado, o trabalho continuado para ser um profissional e a perseverança são imprescindíveis para um artista.

Qual o momento de maior dificuldade que já passou na carreira?

Foi ter deixado a minha mudança durante 15 anos em deposito no Brasil e sendo que muitas das minhas obras de arte, móveis e objetos terem sido destruídos e roubados. Isto aconteceu durante 7 anos que vivi em São Paulo e os 8 anos que morei em São Francisco, na Califórnia.

 E de maior felicidade?

É eu estar produzindo arte ininterruptamente há 65 anos e vivendo do meu trabalho.

 Um artista não deve… Apoiar regimes fascistas.

 Cinco coisas que mais te inspiram a criar (vale tudo):

As cinco raízes mais importantes do meu trabalho são: o lirismo, a mitologia, o ambientalismo, a área social e a lúdica que às vezes aparecem separadamente e às vezes associadas entre si.

Acredita em arte sem política?

O ser humano é um ser social e politico e nas obras de arte acaba aparecendo estes posicionamentos relacionados ao artista que as criou.

 Qual seria o melhor modelo de financiamento da arte?

Alongaria-me muito em abordar o modelo de financiamento da arte. O Brasil já investiu 6% dos seu PIB, grande parte em renuncia fiscal, na cultura. Hoje investe 4% do PIB. Uma boa comparação é a Coreia do Sul, que obteve o Oscar de melhor filme, com o filme Parasita, por exemplo, que investe 8 vezes o valor investido no Brasil.

Existe cultura gaúcha?

Existe a arte realizada no Rio Grande do Sul por artistas de diversas formações, tendências, e que abordam as mais variadas temáticas.

 Que conselho você daria a Jair Bolsonaro?

Não vou perder meu tempo com um ser desiquilibrado, ignorante e cruel. Ele já conquistou seu lugar como o pior presidente do mundo, com sua politica genocida, que se acentuou muitíssimo durante a pandemia da Covid-19 e, com incentivo à destruição dos povos indígenas e a destruição da Amazônia.

Todo artista tem de ir onde o povo está?

Com as redes sociais a divulgação da obra dos artistas é mais rápida e mais fácil do que há anos atrás. Mas estar onde o povo está seria necessário que a escola e as famílias abordassem a obra dos artistas. Assim formaria um público interessado no conhecimento.

Ser brasileiro é…. Lutar pela justiça social, contra o racismo, pela educação pública e de qualidade, pela saúde pública, contra a destruição da Amazônia e pela democracia e soberania nacional.

 O que você mudaria no jornalismo cultural?

Mais espaço tanto na mídia escrita como falada para divulgar o que é produzido pelos nossos artistas. Que os jornalistas que se dedicam a área cultural sejam mais preparados para exercer esta especialização e que o público mais visado sejam as crianças, os adolescentes e os jovens.

Um livro: Vidas Secas do Graciliano Ramos.

 Um espetáculo: O ótimo espetáculo Grande Sertão Veredas do Grupo Galpão que é uma instalação da Bia Lessa com um excelente elenco, ressaltando o ator Caio Blat.

 Um álbum: Caravanas, de 2017, do sempre renovado Chico Buarque.

 Um filme: O belo e instigante filme O Paraíso Deve Ser Aqui com direção de Elia Suleiman.

 

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