Ilustração: Mitti Mendonça/Nonada Jornalismo

Nonada cria editoria sobre Clima e Cultura e lança revista temática

Com a temperatura global atingindo 1,48°C acima da média em 2023, o setor cultural já sente as consequências da emergência climática. Grandes eventos são impactados pelo calor extremo, prédios históricos considerados patrimônio cultural são destruídos em enchentes e artistas de rua sofrem com os fenômenos decorrentes da crise. 

Ainda assim, a cultura pouco se mobiliza para integrar as ações contra as mudanças climáticas. Embora a intersecção entre clima e cultura já seja discutida mundialmente, no Brasil o assunto ainda é novidade para o governo, para as empresas e para os profissionais do setor, como mostramos nesta reportagem especial. No ano passado, houve um começo promissor com o lançamento de um grupo de trabalho com mais de 20 ministros da Cultura, em evento co-presidido pelo Ministério da Cultura do Brasil na programação da COP28, em Dubai.

Mas ainda há um caminho árduo pela frente para que a cultura seja de uma vez por todas considerada um ator mobilizador – e para isto, também precisa assumir seu papel como mitigador dos impactos. Um exemplo é a busca de alternativas sustentáveis ao uso de combustíveis fósseis em geradores de energia, muito usados em eventos culturais. 

Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), são necessárias ações urgentes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A queima de petróleo, carvão mineral e gás natural precisa cair 43% até 2030 e ser eliminada completamente até 2050. A meta é essencial para que a temperatura global fique dentro do limite de 1,5°C acima da média, índice considerado seguro para a vida na Terra.

Neste cenário de urgência global, o Nonada Jornalismo acaba de criar uma editoria específica para cobrir a intersecção entre a cultura e as mudanças climáticas. A editoria Cultura e Clima passa a integrar a lista de eixos temáticos prioritários da organização, ao lado de Políticas Culturais; Processos Artísticos; Culturas Populares; Direitos Humanos e Culturais; Memória e Patrimônio; e Comunidades Tradicionais.

A novidade pretende dar solidez e continuidade à cobertura que o Nonada vem fazendo desde 2021, com reportagens sobre a movimentação de organizações da sociedade civil que pleiteiam a inserção da cultura nas discussões globais sobre o tema, além de matérias sobre o patrimônio cultural já impactado pelas mudanças. 

Entre as pautas que pretendemos abordar com a criação da editoria, estão as alternativas a geradores por queima de combustíveis fósseis usados em eventos culturais e a pegada de carbono de empresas culturais, a gestão correta de resíduos, o impacto para artistas residentes em áreas periféricas e também para artistas de rua, o papel da arte na conscientização sobre a crise, o protagonismo das comunidades tradicionais na luta pela Justiça Climática e o papel do poder público na criação de políticas culturais que incentivem a atuação do setor cultural no processo de descarbonização.

Paralelamente à editoria, o Nonada lança em janeiro uma revista temática sobre Cultura e Justiça Climática, que traz uma reportagem especial sobre o tema, além de perfis, entrevistas e outras matérias que abordam temas como o protagonismo indígena na cultura e o patrimônio cultural das periferias. A revista será distribuída gratuitamente em Belém (PA), Porto Alegre (RS), Fortaleza (CE) e Recife (PE). 

Como o Nonada contou nesta reportagem, nas últimas duas décadas foram registrados diversos eventos climáticos que destruíram bens históricos ou até mesmo inundaram cidades históricas, como foi o caso de São Luiz do Paraitinga (SP) em 2011. Mais recentemente, em 2022, Ouro Preto (MG) também vivenciou os impactos da crise. Nos últimos anos, também mostramos como os biomas Pampa, Mata Atlântica e Cerrado vem sofrendo as consequências da ausência de Justiça Climática e como as culturas das comunidades indígenas e quilombolas são essenciais para garantir o futuro do planeta.

Um relatório do Instituto Clima e Sociedade (iCS) recomenda que “organizações da sociedade civil devem participar de forma ativa da construção de políticas de mitigação e adaptação de mudança do clima em diferentes áreas”. É apenas com uma mobilização célere, transversal e interseccional – que considere fatores raciais, de classe e gênero – que teremos sucesso nessa luta.

Como organização da sociedade civil, o Nonada Jornalismo se soma a essa agenda urgente e faz uma chamada à ação para que nossos leitores também se engajem na mobilização.

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