A arte-educadora Shion L (Foto: divulgação)

“O sistema busca que artistas produzam para ontem sobre o que muitas vezes querem esquecer”, diz a arte-educadora Shion L

No livro Descolonizar o Museu, Françoise Verger fala da necessidade de se perguntar “Por que não?” em instituições de arte para que mudanças estruturais aconteçam. A arte-educadora e artista Shion L faz diariamente essa pergunta dentro do Museu de Arte Moderna do Rio De Janeiro, onde trabalha para que o setor educativo seja integrado a outras áreas. 

Pesquisadora e articuladora cultural, Shion é historiadora da arte e compõe a equipe de Educação do MAM Rio, trabalhando na escrita e gestão de projetos contínuos, residências e programas públicos. Foi coordenadora da Residência AniMAM: Pesquisa em Artes, projeto que apresentava artistas de forma criativa para crianças. Em sua formação, reúne passagens em instituições como Parque Lage, PUC-Rio, UERJ, MoMA e Universidade de Harvard. 

Shion enxerga o setor educativo como lugar de pensamento crítico e criação. É, por isso, que frequentemente realiza projetos em que convida artistas e públicos a fazerem coisas pela primeira vez. Em entrevista ao Nonada Jornalismo, a historiadora menciona a visão histórica que se tem no país sobre o educativo como um setor apenas ‘executor’. 

“Acredito que o setor de educação carrega historicamente no Brasil uma posição pouco participante das produções de pensamento dentro dos museus”, explica. Por isso, observa que é tarefa dos Educativos contemporâneos proporem novas relações, assim como das curadorias e direções acolherem. “É essencial porque traz para o museu uma noção de caráter, onde as exposições são entendidas também como espaços de estudo, de fabulação e de formação. A curadoria busca, muitas vezes, flertar com esse lugar, mas ela não chega sozinha.” 

A novidade mais recente de sua trajetória é que, a partir de janeiro, Shion assume a coordenação do Bloco Escola, sede mais antiga do MAM, inaugurada em 1958, e é criada para colocar em prática o Seminário de Estudos da Unesco sobre a função educativa dos museus. A prática que torna indissociável criação artística da atividade pedagógica tem origem na história do Museu, já que o experimentalismo sempre foi um de seus pilares. Basta lembrar dos célebres Domingos de Criação, criados em 1971, no auge da ditadura militar, em que o crítico e curador Frederico Morais, propunha atividades para  milhares de pessoas na área externa e nos jardins. 

Em sua pesquisa artística e educativa, Shion se interessa também pelos estudos de gênero, imagem e pedagogias dissidentes. Para ela, as travestilidades são intrisicamente tecnológicas e pedagógicas. A pesquisadora olha com cuidado para a forma como pessoas trans e travestis têm sido recebidas pelo sistema de arte. Mais do que a manutenção de interesses temporários, Shion defende um museu que saiba ir além das imagens. Deseja que espaços de arte se interessem na criação de novas metodologias e relações. Por que não?  

Confira a entrevista completa: 

Nonada – Qual projeto você mais se orgulha de ter feito no museu? 

Shion L –  Eu tenho alguns que gosto muito. Todos os meus projetos prediletos são atividades em que eu estava embarcando em metodologias novas, trabalhando com artistas que estavam fazendo coisas pela primeira vez. Um projeto que me marca é a segunda edição do AniMAM: Pesquisa em Artes, uma residência para artistas na área do audiovisual. 

Ela é uma residência que começou comissionando alguns trabalhos audiovisuais, com temáticas escolhidas pelo setor de educação, e que na sequência tornou-se um projeto de formação. Compreendemos que ele poderia ter um caráter de acompanhamento crítico e desenvolvemos uma série de grupos de estudos. A primeira edição do AniMAM, no ano passado, inicia com nomes notáveis, tanto das artes visuais quanto da música, como P.V Dias, Letrux, MC Tha. Acho que esse foi um grande sucesso de um projeto de educação no museu, porque também traz a curadoria como interface, pensando um dispositivo artístico-pedagógico através de um trabalho curatorial também. 

Foto: divulgação

O MAM traz essa oportunidade de pensar a intersecção entre educação e curadoria, e acho que é uma característica muito forte do meu trabalho também. Agora, com muita felicidade, estamos com a segunda edição da residência que está com edital aberto até o final do mês. Estou super entusiasmada com as temáticas que estão sendo elencadas para essa edição, ansiosa para compartilhar com o público, e para seleção. 

Também gostaria de compartilhar, em primeira mão com o Nonada, que este mês assumo a coordenação do Bloco Escola. Esse é também um marco na minha trajetória, no meu trabalho educativo. Não imaginei que eu pudesse estar à frente da representação de um bloco tão importante, localizado no primeiro prédio a ser construído no museu. Não imaginava que aos 27 anos estaria fazendo isso também. Tenho refletido e ficado muito contente, pensando quais serão os caráteres dos cursos e projetos formativos que quero trazer junto da equipe. 

Nonada – E fora do museu, conte um projeto que você se orgulha de ter feito?  

Shion L – Nos últimos anos, estive centrando meu trabalho em pesquisa. Me envolvi em pesquisa acadêmica, mas, de uns tempos para cá, venho me distanciando um pouco do formato científico. Mais do que um trabalho notável, gostaria de compartilhar um pouco sobre esse trânsito do meu trabalho fora do museu, porque ele marca muito esse momento em que estou desenvolvendo minha própria poética e pesquisa artística também. Tenho interpretado literatura como arte contemporânea, por isso o meu trabalho de escrita vem se colocando.

Um trabalho que gostei muito de fazer no ano passado foi a participação em uma edição do Correio Monstro, um periódico da Marina Lattuca, uma grande amiga e artista. Foi um espaço em que consegui trazer uma escrita menos científica, menos curatorial, menos crítica, para um lugar um pouco mais poético. Isso tem me interessado muito. 

Nonada – O que você tem criado recentemente enquanto artista? 

Shion L – Obrigada por essa pergunta. A gente vem passando por um período no mercado de arte, no sistema de arte de forma geral, de uma certa insistência da imagem. Tenho pensado muito sobre isso nos meus processo de educação e de pesquisa. Imaginar tem sido mais interessante do que inventar imagens. Escrevo, faço exercícios semanais de escrita, algumas coisas mais íntimas, que talvez surjam em publicação até o final de ano. Tenho investigado um formato de escrita que está mais para literatura do que para crítica. 

Nonada – Como educadora, você sempre atuou no setor educativo? Como foram seus movimentos dentro do MAM?

Shion L – Entrei no Museu em 2019. Foi um período muito diferente do que a gente tem hoje, e pude acompanhar esse processo de transformação no Museu – diria até um certo reposicionamento no calendário cultural da cidade. Ver essa mudança de programação do MAM e também de pessoas que começaram a articular outras frentes de pensamento foi um processo muito engrandecedor.

Sempre tive relação com o setor de educação, e ainda estou nele. Meu trabalho é majoritariamente nele, mas se tratando do MAM Rio, temos uma dinâmica de trabalho bastante diferente das outras instituições, porque a educação assina textos curatoriais, participa do desenvolvimento de verbetes críticos das exposições, e desenvolve formação para novos curadores. Essa é uma grande novidade trazida pela residência Territórios Curatoriais, em que tive a oportunidade de compartilhar coordenação. O MAM traz a possibilidade de a gente pensar nessas intersecções, então a minha prática em educação é muito permeada por outros campos. 

Foto: divulgação

Nonada – É interessante ver a sua atuação e perceber que, no desenvolvimento dos projetos, a educação é entendida também como criação. Você poderia comentar sobre a conexão entre os setores do Museu, já que muitas vezes acabam sendo segmentados, ou hierarquizados, nas instituições de arte? Por que a conexão entre as áreas é importante? 

Shion L – Acredito que o setor de educação carrega historicamente no Brasil uma posição pouco participante das produções de pensamento dentro dos museus. Ele é tido como um setor apenas ‘executor’. Então, acredito ser tarefa de um educativo que tem uma proposta densa também propor essas relações e, claro, de uma geração artística e curatorial acolher isso. É essencial porque traz para o museu uma noção de caráter, onde as exposições são entendidas também como espaços de estudo, de fabulação e de formação. A curadoria busca, muitas vezes, flertar com esse lugar, mas ela não chega sozinha. 

Quando o Educativo participa dos processos de desenvolvimento curatorial, poético, junto aos artistas e pesquisadores, a gente consegue chegar em um trabalho muito sofisticado de formação. Nossa ideia é pensar nas exposições como grupos de estudos, como foi o caso dos projeto Estudos Vivos, que é desdobramento do programa Acervo em Foco, que aconteceu no ano passado. Quando a educação está aliada às outras áreas do museu, como a museologia, torna-se possível ter uma horizontalidade que é buscada em todas as instituições. E, não só isso, mas  também um lugar de autoria, criação, participação nos processos de criação de pensamento do museu.  

Nonada – No ano passado, você assinou um artigo cujo título é “Que os museus nos ofereçam mais que imagens”. Você sintetiza de forma complexa a necessidade de se pensar a presença de pessoas trans e travestis nos museus para além de suas representações nas paredes. O que você vem pensando sobre esse assunto? 

Shion L – Eu estava pensando sobre o artigo esses dias também e me fazendo a mesma pergunta: o que ficou depois que eu consegui compartilhar aquilo que estava pensando em janeiro do ano passado? Eu acho que o meu trabalho é uma resposta a isso. A gente vem passando por um período nas artes visuais em que a identidade se tornou uma grande curiosidade. Vemos artistas precisando produzir a respeito de suas dores, e acho que isso é um processo neoliberal muito doloroso. Eu me via sempre questionando se em algum momento eu precisaria me cooptar também por essa agenda, principalmente trabalhando em uma interface de educação e curadoria, e no desenvolvimento de processos de formação. 

É uma pergunta que a gente pode trazer para o agora também, pensando na virada de interesse das instituições culturais por temas como ecologia e sustentabilidade. Eu me pergunto: onde as travestis estarão nesse cenário? Visto que elas não estão mais tão interessantes assim para o mercado de arte. Isso nos traz uma reflexão sobre um sistema que busca que as artistas produzam muito para ontem a respeito de suas próprias agendas – e isso é muito cruel, pois, muitas vezes, elas estão representando coisas que buscam esquecer. 

Isso tem um diálogo direto com o que conversamos no início da entrevista, sobre a certa relutância que tenho com a imagem nesse momento. Tenho olhado muito para música, para a escrita, para outras linguagens que nos oferecem capacidade de imaginar para além da figura. De acordo com o que eu estava trazendo nesse artigo, me interessava saber o que os museus estavam devolvendo para essas pessoas, para nós, a partir do momento em que ele começava a negociar imagens e narrativas. 

Quando a gente olha para o aspecto trabalhista e para o percentual de gênero das instituições, vamos que a resposta é muito fria. Cheguei à conclusão que devolvia-se muito pouco. As travestis estavam integrantes de uma programação que servia para uma espécie de ‘reidratação’ das instituições, porque elas [as instituições] precisavam fazer isso. Mas em que medida contribuem com as carreiras delas ou com a própria segurança dessas pessoas? O mercado de arte sempre passou por dilemas éticos em termos de suas poéticas e aqueles que produzem essas poéticas. 

Nonada – Nesse mesmo artigo, você diz que a “travestilidade é fundamentalmente tecnológica e pedagógica por consequência”. Como você enxerga a questão da tecnologia? 

Shion L – A travestilidade é uma produtora de tecnologias nata. Ela está sempre obrigada a recorrer a tecnologias de corpo, de comunicação, de pensamento. A travestilidade é uma produtora de novas epistemologias e é, por consequência, pedagógica. O que eu trago hoje para o meu trabalho, dentro e fora da instituição, é uma tecnologia de percepção e educação. Isso está presente não só em mim, mas em muitas outras que produzem hoje e na história do Brasil. Não à toa, também nas artes visuais, a identidade artística esteve atrelada à travestilidade, de maneira a gerar uma série de problemas de interpretação em relação a isso. 

Pensar tecnologias pedagógicas, em uma certa recusa da imagem, traz para a gente também algo que é inevitável: a presença de um corpo travesti em um espaço institucional, cotidiano, e afetivo, é consequentemente transformador. Ele traz para gente um convite a se pensar em outras formas de relação. 

Foto: divulgação

Nonada – Falando em Territórios Curatoriais, por que é importante formar novos curadores? E, ainda, jovens curadores de regiões periféricas do Rio de Janeiro, como vocês têm feito no setor educativo. 

Shion L – Você trouxe um dado que acho importante. A gente está tentando pensar em projetos com pessoas jovens-adultas, e também pessoas idosas. O nosso desejo é trabalhar não só com aquilo que o mercado de arte entende como um jovem artista ou jovem curador, mas que a gente consiga também trazer outros repertórios para a discussão.

Pensar em Territórios Curatoriais no MAM, que se localiza no Parque do Flamengo, traz para a gente uma série de dilemas de acesso e pertencimento. Por isso, foi muito importante ter intelectuais de regiões periféricas do Rio de Janeiro para que a gente pudesse construir outros sentidos sobre esse espaço. Tivemos na Residência um coletivo super interessado, interdisciplinar, assim como pessoas que já tinham alguma prática e outras que estavam iniciando. Em Territórios Curatoriais, há um desejo muito grande que perguntas sejam respondidas, não pelo Museu, mas pela educação. 

Acredito que a  importância de formar novos curadores se dá pela desmistificação desse campo, que é cheio de mitos e ilusões. Nossas discussões tratam sobre uma responsabilidade que é trabalhista, educativa, e também essencialmente ética e estética. Acreditamos que a curadoria também é formadora de relações de trabalho.

Como exemplo, a gente teve uma série de ciclos de formação internos com as equipes do Museu. Tivemos uma formação específica comigo e com Daniel Bruno, em que separamos alguns estudos de caso acerca das cartas abertas e das notas de repúdio às curadorias das Bienais e das instituições de arte. Me interessou muito trazer o questionamento: será que esses jovens curadores e pesquisadores querem encabeçar projetos que se encerram em uma carta de repúdio? 

Fizemos uma roda de conversa, dentro de um panorama de formações que já estavam acontecendo, e trouxemos essa discussão sobre esse que é um sintoma dos setores de educação. O erro é também muito pedagógico. A gente tem hoje uma certa perspectiva hierárquica entre curadoria e educação, mas, com o passar dos anos, eu tenho visto cada vez menos sentido em uma curadoria que não está pensando processos formativos. 

Nonada –  Em uma live realizada durante a pandemia, você comenta sobre o projeto Zona Aberta, e sobre a proposta de apresentar para uma criança pela primeira vez a palavra “travesti”. Como foi esse projeto? 

Shion L – O Zona Aberta é um projeto de ateliê aberto, um espaço de formação que acontece na área externa do MAM. Ele não foi pensado só por mim, mas por um grande grupo de educação, e a partir do interesse de criar um espaço mais convidativo de práticas pedagógicas e artísticas. O Zona Aberta trouxe uma série de ações, e muitas vezes, quando estavam sob minha condução, me interessava trazer esses dados das primeiras vezes. Não só pelo ineditismo, mas porque começou a me interessar convidar artistas para fazerem coisas pela primeira vez. Que pudesse ser um projeto de formação para os artistas dentro do museu e para mim também. Esse exemplo que você cita traz essa teia de pensamentos. 

Comecei a perceber que no campo das artes e da arte-educação havia uma certa evasão das travestis. Eu começo a entender por que há um certo arrancar da infância e desse lugar de vulnerabilidade. A tecnologia que você me perguntou antes está relacionada a isso também. No meu trabalho como educadora e com mediação, começou a me impactar a maneira como essa palavra surgia, a maneira com que eu me responsabilizava pela forma como ela iria surgir, e também pelo modo como eu me colocaria diante das reivindicações das crianças. 

O Zona Aberta traz essas oportunidades de conversa e encontro. Muitas vezes, elas são efêmeras. Vão acontecer ali, no Museu, e as pessoas vão sair e alguma coisa vai acontecer depois. Na história do MAM, o experimentalismo é uma das grandes características, se pensarmos no Bloco Escola, na década 70, ou nos Domingos da Criação.

Eu acredito que isso também é uma grande questão na contemporaneidade, mas atravessada por outros repertórios, cotidianos, e outras maneiras de se experimentar. Para a programação de janeiro desse mês, pensei em uma programação alinhada com o Mês da Visibilidade Trans, então estamos com oito edições com participações de artistas de dentro e fora do acervo, propondo ações pela primeira vez. 

Isso para mim é muito bonito, porque às vezes eu me sento com os artistas para conversar, e noto que tenho um certo receio e medo. Eu falo que está tudo bem, e que está todo mundo fazendo pela primeira vez também – até mesmo as pessoas que estão chegando. Quando a gente trabalha com alguma artista da cena Ballroom no Rio de Janeiro e ela faz alguma ação nos pilotis do Museu, as crianças de patins e skate estão passando por ali – mesmo que não participem da ação. Isso tem um fator pedagógico muito grande, que é da ordem do encontro, do desencontro, e que é também de algo que não é acadêmico, mas que é uma produção de sentido muito forte. 

Nonada – Ao lado de Renata Sampaio, você conduziu o AniMAM, uma série de filmes de animação para primeira infância com conteúdos de arte moderna e contemporânea. Qual o papel da educação de dialogar com as formas possíveis de ser criança? 

Shion L – Quando comecei a trabalhar com projetos de educação para infância, uma pergunta que eu fazia muito era: “com quais crianças eu quero conversar?”, ou então “com quais crianças o Museu não está conversando?”.

Nas primeiras edições, nos interessava trabalhar com temas que eram hegemônicos, mas que a gente pudesse trazer uma abordagem que não fosse elogiosa para que isso gerasse um certo revisionismo de um tema para crianças. É um desafio muito grande, porque às vezes para nós, pessoas adultas, pensar a revisão de temas pode ser complexo. Então, como a gente consegue fazer isso de maneira generosa? 

Os artistas tinham a liberdade de trazer os próprios questionamentos, a partir de um acompanhamento crítico meu e da Renata Sampaio, onde estaríamos observando essas decisões. Na edição sobre a obra de Maria Martins, como falar de uma artista que pesquisou muito sobre as poéticas da Amazônia, mesmo sem nunca ter pisado lá? Como pensar essa temática? Foi quando convidamos Arthur Braganti e Auá Mendes, que é uma travesti amazônica, para pensar essas narrativas que a artista trazia para a obra. A revisão não é literal, porque as crianças dialogam não diretamente com as obras, mas com a produção de artistas contemporâneos.

Isso foi que vimos edição sobre Abdias Nascimento, em que convidamos a equipe do Estúdio Roncó, e a MC Tha e Mahal Pita, para pensar Abdias, geometria simbólica, e todos os elementos da composição de uma macumbaria, muitas vezes colocados em lugar de marginalidade. Precisamos nos perguntar “como agenciar a chegada dessas imagens?”.

Acho que esse é o lugar da educação. É semelhante ao que conversamos sobre a primeira vez que uma criança ouve a palavra travesti. Como essa palavra é agenciada? Posso te responder com muita certeza que é de uma forma muito diferente da qual ela foi agenciada para mim. Então, pensar maneiras de agenciar palavras, imagens, objetos, de forma geral, é a grande potência desse projeto. 

Nonada – Quem te inspira para criar? 

Shion L – Poderia citar um artista com quem tenho trabalhado e que me inspira muito: Élle de Bernardini, uma grande companheira, que me inspira pessoalmente e o meu trabalho. No campo teórico, Paul Preciado, que me acompanha e está sempre próximo das minhas percepções. E, ultimamente, também tem me inspirado estar próxima das pessoas que eu amo. Isso tem me feito imaginar muita coisa. Estar próxima dos meus pais e dos meus irmãos me inspira profundamente. 

Nonada – Você poderia compartilhar um desejo para o ano? 

Shion L – Espero que esse ano a gente possa produzir mais, sendo menos cooptada por outros desejos. 

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Repórter do Nonada, é também artista visual. Tem especial interesse na escuta e escrita de processos artísticos, da cultura popular e da defesa dos diretos humanos.
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