A cultura alimentar presente em cinco regiões do Brasil e como ela é manifestada nas escolas brasileiras é o foco do Pratinho Firmeza, um guia que traz estratégias educacionais de escolas públicas das cinco regiões do Brasil voltadas para o direito à alimentação saudável na infância. A publicação é uma realização da Énois Laboratório de Jornalismo, que convidou os veículos Carta Amazônia (PA), Nonada Jornalismo (RS), Nós Mulheres da Periferia (SP), Teatrine TV (MS) e Tejucupapos (PE) para se juntarem à iniciativa.
A primeira edição do Pratinho Firmeza foi feita nas periferias de São Paulo, trazendo a conexão entre as receitas de família, o lugar das crianças na cozinha e as possibilidades de comer bem e a preço justo com as crias nos rolês periféricos. Agora, a publicação coloca o espaço da escola como centralidade do debate.
Para muitas crianças que vivem em situação de insegurança alimentar, em sua maioria nas periferias do nosso país, a refeição escolar pode ser a única do dia. É tamanha a responsabilidade que, no período de isolamento social na pandemia da Covid-19, muitas escolas públicas brasileiras chegaram a distribuir cestas básicas e outros tipos de alimentos para as famílias de estudantes, como garantia de alimentação enquanto as aulas estavam suspensas.
Cecília Amorim, coordenadora do Pratinho Firmeza Brasil, destaca a importância da alimentação como ferramenta de transformação social. “Sou uma pessoa que vem de escola pública, de uma família sem recursos financeiros. E então a alimentação das escolas pra mim era a principal refeição do dia. Repensar a merenda escolar, como faz o guia, é importante para combater a insegurança alimentar que existe ainda hoje”. O Pratinho Firmeza Brasil é viabilizado por meio de Lei de Incentivo à Cultura em âmbito federal e tem patrocínio do RD Saúde. A versão impressa do guia será lançada em breve pela Énois e as iniciativas parceiras.
A realização do guia também marca a comemoração de 15 anos da Énois, em 2024. A organização que atua fortalecendo o ecossistema do jornalismo local celebra esses expressivos anos de caminhada fazendo aquilo que representa a essência do seu trabalho: realizar em rede e impulsionar o jornalismo diverso quando o assunto é território, raça e gênero.
O que você encontra no guia
Prefeituras e vereanças serão eleitas em outubro em todas as cidades brasileiras e a educação infantil pública é responsabilidade das gestões municipais. Você sabe a quantas anda o debate da merenda escolar na sua cidade?
O que o Pratinho Firmeza Brasil mostra é que dá para fazer muita coisa bacana quando o assunto é escola pública e direito à alimentação saudável na infância, o que precisa é a garantia de estrutura, investimento e iniciativa do poder público.
Com uma linguagem lúdica que dialoga diretamente com as crianças e jovens, o livro é guiado pela personagem fictícia Ayó, uma menina negra, de 6 anos. Ela é uma criança com deficiência física e, por isso, está sempre acompanhada da sua cadeira de rodas enquanto conduz a narrativa Pratinho Firmeza Brasil.
Ayó se apresenta, começa explicando o que é uma horta e a sua relação com a terra desde pequeninha e também como ela se dá na horta da escola.
É desse ponto de partida que ela nos leva para as reportagens feitas pelas cinco iniciativas de jornalismo local parceiras da Énois no projeto, nas cidades de Belém (PA), Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), Campo Grande (MS) e Camaragibe (PE).
As reportagens focam nas crianças e suas relações com a alimentação no âmbito escolar e são acompanhadas do quadro “O caminho da merenda”, que traz detalhes sobre o planejamento, a produção e o fornecimento da merenda em cada uma das cinco escolas.
Você confere também uma receita regional que faz sucesso com a criançada. É alimentação saudável, reivindicação de direitos e políticas públicas e diversidade regional da nossa cultura alimentar. Ao final do guia, você encontra o jogo de tabuleiro “O que tem no pratinho?”, que tem o objetivo de fazer as crianças e suas famílias refletirem sobre o que é ou não um alimento saudável.
O Prato Firmeza
O Prato Firmeza é o primeiro guia gastronômico a mapear restaurantes, bares, lanchonetes e carrinhos de comida das periferias brasileiras. Em suas três primeiras edições (2017, 2018 e 2019), trouxe estabelecimentos que estão fora do radar da gastronomia da cidade de São Paulo, a partir do olhar de jovens repórteres locais formados pela Escola de Jornalismo da Énois. Sempre com um olhar sensível, local e diverso.
Em 2020, a quarta edição do Prato Firmeza deu um passo muito significativo, aproximando os debates levantados pelo programa à luta antirracista. Com uma equipe 98% formada por pessoas negras, mapeou empreendimentos de pessoas negras, contando com produção jornalística dos coletivos Agência Mural, Alma Preta, Periferia em Movimento, Preto Império e Vozes das Periferias e parceria com a Feira Preta.
Em 2021, o projeto recebeu o Prêmio Jabuti na categoria Economia Criativa, pelo Prato Firmeza Preto. E também organizou junto com data_labe e LabJaca o Prato Firmeza RJ (Rio de Janeiro). Já em 2022, em parceria com PerifaCon e redação do Alma Preta, foi realizado o Prato Firmeza Geek, que apresentou cozinheiros inventivos do universo nerd, das periferias de São Paulo.
Em 2023, o guia ganha abrangência nacional com a edição “Prato Firmeza: um diálogo entre campo e cidade”, que evidenciou o caminho que o alimento faz até chegar em estabelecimentos de comida das periferias de 10 capitais do Brasil, abordando também a temática da agricultura familiar e produtores locais. No mesmo ano, a Énois também lançou o Pratinho Firmeza SP.