Pioneiras da Arte no Rio Grande do Sul

Pioneiras da Arte no Rio Grande do Sul é um projeto de pesquisa que dá continuidade às matérias que já vínhamos realizando nos últimos anos, com o objetivo de (re)contar a história das primeiras artistas visuais do estado. Além da reportagem que segue abaixo, unimos em um livreto online especial uma pesquisa inédita financiada pelo FAC Digital RS, proposta por nossa editora Thaís Seganfredo, a matérias próprias já realizadas nos últimos anos sobre feminismo e arte no Rio Grande do Sul. O projeto conta ainda com uma enciclopédia inicial (que esperamos que possa ser sempre atualizada). Sabemos que o tema não se esgota em poucas páginas, mas esperamos contribuir para a visibilidade das mulheres na arte.

Financiamento: FAC Digital RS 2020 / governo do Rio Grande do Sul

Acesse aqui o livreto digital

 

Thaís Seganfredo

Foto de capa – recorte na obra “As Meninas”, de Alice Soares

O papel das mulheres na construção do sistema de arte no Rio Grande do Sul sempre foi invisibilizado, mas vem sendo resgatado por pesquisadoras e historiadoras nos últimos anos.  Entre o final do século 19 e meados do século 20, algumas artistas se destacaram em meio a um contexto no qual o trabalho não era bem visto como atividade entre as mulheres brancas de classe média (já as mulheres negras nem sequer tinham acesso aos ambientes acadêmicos). Por muito tempo, elas não eram permitidas nas escolas de Belas Artes do país e, quando passaram a frequentar esses espaços, precisavam pedir permissão ao pai ou ao marido. Aos poucos, começou a se tornar mais comum a presença de jovens mulheres nessas escolas. “Na época, estudar música ou artes plásticas no Instituto de Artes era uma formação pras moças de boa família, as moças ‘casadoiras’”, explica Blanca Brites, professora da Uiniversidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e doutora em História da Arte Contemporânea pela Université de Paris I.

Naquele tempo, a formação em uma escola de Belas Artes era possivelmente o único caminho para se inserir profissionalmente no sistema de artes visuais. Contudo, talvez por não terem a pretensão de seguir carreira na arte, diferentemente dos homens que eram seus colegas, ou por não serem levadas a sério no contexto machista e conservador, as mulheres eram frequentemente chamadas de amadoras pelos professores e críticos de arte que escreviam nos jornais locais. 

Revista do Globo (Foto – Rosane Vargas)

No Rio Grande do Sul, a Escola de Artes de Porto Alegre, cuja grande maioria do corpo discente era do gênero feminino, como contou o Nonada – Jornalismo Travessia nesta entrevista com a jornalista e mestre em História da Arte Rosane Vargas, esse padrão também se repetia. “A maioria das mulheres se formavam e não investiam em uma carreira porque não seria possível se casassem. A ideia de as mulheres trabalharem e investirem em sua vida profissional é um tema relacionado à postura machista, e impasses decorrentes deste, no Brasil, até os anos 1960, pelo menos”, observa a doutora em História e professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Úrsula Rosa da Silva.

Foi neste contexto que jovens pintoras e escultoras fizeram seu caminho na arte, sobretudo a partir dos anos 1940. Enquanto algumas alunas como Judith Fortes chegaram a expor em salões de arte mas não seguiram a carreira, outros nomes, como Alice Soares e Alice Brueggemann, romperam barreiras e inclusive contribuíram para a construção do mercado de arte gaúcho. “As Alices optaram por dedicar sua vida à arte e voltaram sua atuação para esta realização. Abriram um ateliê juntas, tiveram atuação em escolinha de arte, participaram de Salões e fomentaram o movimento artístico no RS”, avalia Úrsula. As conquistas, no entanto, se desenvolveram de forma lenta, uma vez que a sociedade era bastante conservadora naquele período.

Abrindo trilhas

“Corona e Suas Alunas”, de Alice Soares (crédito Acervo Artístico IA UFRGS)

Nas primeiras três décadas do século 20, as mulheres correspondiam a 76,3% do total de alunos da Instituto de Belas Artes do RS (que abrigava a Escola de Artes), segundo pesquisa de Rosane Vargas. A historiadora investigou se houve continuidade da carreira dessas alunas através do que os jornais publicaram na época. O resultado mostrou que os nomes das graduadas apareciam sempre nas áreas de colunismo social da imprensa (não raro de forma dependente do pai ou marido), enquanto os homens que se formaram eram mais comumente reconhecidos como artistas. “A presença das artistas fora dos espaços da Escola de Artes e, posteriormente, dos salões, era muito pequena. As exposições e a comercialização de obras ficavam, basicamente, restritas aos artistas homens”, diz. 

Neste cenário, mulheres como Judith Fortes chegaram a ensaiar uma presença mais atuante no sistema da arte, mas não deram continuidade à carreira. “A Judith não conseguiu o bloqueio dos artistas e professores homens, da misoginia existente em relação às mulheres”, acredita Blanca Brites. Uma exceção foi Amélia Maristany, que era casada com Luís Maristany, um importante pintor do estado, e construiu sua carreira ao seu lado, participando de exposições até em outros países. 

A geração seguinte, composta pelas alunas formadas nos anos 1940, foi precursora de diversas formas. Naquela época, as alunas que quisessem seguir carreira tinham que passar pelo crivo dos mestres, todos homens, que escolhiam as estudantes que consideravam ter mais talento. Foi o caso das aprendizes do espanhol Fernando Corona, por exemplo, que acabaram formando um grupo de privilegiadas e alcançando maior reconhecimento. Ainda assim, a desigualdade de gênero era evidente, como mostram os números da participação de mulheres no Salão de Belas Artes do Rio Grande do Sul, cuja média correspondia a 27,8% em relação aos homens, entre 1939 e 1962, conforme estudo de Rosane Vargas.

Entre aquelas que conseguiram se destacar nesses espaços, inclusive vencendo diversos prêmios, estão Alice Soares, Alice Brueggemann, Christina Balbão, Leda Flores e Dorothea Vergara. Elas formaram a primeira geração de artistas do gênero feminino a constituir o mercado de arte gaúcho, fundando ateliês e contribuindo para o surgimento de importantes instituições culturais no estado, como o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) e a Escolinha de Artes de Porto Alegre.

Foto das Alices e seus objetos de trabalho em mostra na Ufrgs (crédito Gustavo Diehl – UFRGS/Arquivo)

A professora Blanca Brites avalia que essas mulheres, sobretudo as Alices, fizeram “uma escolha para uma dedicação exclusiva. Para o homem era muito mais fácil casar, ter família e continuar fazendo sua vida profissional. Para a mulher não era assim simples. Isso só começou a mudar nos anos 1960”. A pesquisadora Úrsula Silva concorda: “A ideia de as mulheres não trabalharem e investirem em sua vida profissional é um tema relacionado à postura machista, até os anos 1960, pelo menos”, diz.  Por isso, foi apenas com grandes sacrifícios pessoais que elas conseguiram alavancar suas carreiras. 

Nas décadas seguintes, à medida que a sociedade passava a aceitar ideias mais progressistas, as mulheres começaram a cada vez mais serem levadas a sério nas suas carreiras enquanto artistas. No RS, as gerações posteriores foram alunas de algumas das mulheres que abriram portas na década de 1940. “Não digo que ficou mais fácil, porque fácil nunca é, a batalha é grande. No Salão dos anos 1970, ainda havia mais homens do que mulheres”, comenta a professora Blanca Brites.

Desta forma, professoras como Christina Balbão e Alice Brueggemann contribuíram muito para a formação das estudantes que se graduaram nos anos 1950. Uma dessas aprendizes foi a pelotense Maria Lídia Magliani, primeira aluna negra a se formar na Escola de Artes, em 1967. Depois de formada, a artista se mudou para o centro do país e, ao longo da carreira, participou de mais de 100 mostras individuais ou coletivas. Magliani acabou desenvolvendo uma obra com assinatura, baseada inicialmente na Pop Art e em representações da condição humana. Atualmente, a trajetória da artista e de suas precursoras vem sendo reconstruída através de espaços acadêmicos e projetos culturais, com o objetivo de visibilizar o protagonismo dessas mulheres na história da arte no Rio Grande do Sul e no Brasil. 

Entrevista com Úrsula Silva

Thaís Seganfredo – Quais eram os principais obstáculos para as mulheres que queriam seguir carreira no Brasil e aqui no RS?

Úrsula Silva – Antes do século XX, no Brasil e no mundo, de um modo geral, podemos dizer que as dificuldades para as mulheres que pretendiam se dedicar à produção artística são as mesmas. Até o século XVIII, as mulheres precisavam de permissão para ter algum acesso ao ensino das artes, quando não eram filhas, parentes ou casadas com um homem ligado ao cenário artístico. Temos várias autoras que trazem este estudo, Linda Nochlin, Michelle Perrot, Ana Paula Simioni. Então as artistas ganham permissão para frequentar as Academias de arte no final do século XVIII, mas não podem participar das aulas de estudos de nu, com o argumento de que não seria moral para as moças.

Whitney Chadwick, no texto Mujer, Arte y Sociedad (1992), menciona o caso da Royal Academy: Mary Moser e Angelica Kauffmann, que fizeram parte do grupo de fundadores da instituição inglesa, num dos registros das aulas desta academia, na pintura Os membros da academia real (1771-1772), de Johann Zoffany, na cena é representada uma aula de modelo nu, mas as alunas não estão presentes na aula, elas foram reduzidas à representação dentro da representação, pois aparecem apenas seus retratos na parede, pintados no canto superior da imagem.

Nas Escolas de Arte brasileiras, também tivemos esta proibição. No Rio Grande do Sul, as Escolas de Arte, como em Porto Alegre (1910) e Pelotas (1949), organizaram seus currículos a partir da Escola Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro. Como não podiam freqüentar as aulas de estudo de modelo nu, então as artistas se dedicavam aos gêneros permitidos como retrato, cenas de interior e natureza-morta.  

Além disso, a escola de artes era vista como um lugar de formação para pintar, desenhar ou tocar piano, habilidades ou qualidades vistas como importantes para o casamento. Então a maioria das mulheres se formavam e não investiam em uma carreira porque não seria possível se casassem. A ideia de as mulheres trabalharem e investirem em sua vida profissional é um tema relacionado à postura machista, e impasses decorrentes deste, no Brasil, até os anos 1960, pelo menos. 

Nesse sentido temos algumas artistas que se destacam como Amélia Pastro Maristany , com o tema da pintura de flores, e Hilda Goltz (1908-2009), que se dedicou à escultura. Em Pelotas, uma artista que se destacou como pioneira das artes mais geométricas e abstratas foi Inah Costa, que se formou na Escola de Belas Artes, foi para o Rio de Janeiro, estudou com Ivan Serpa, e retornou no final dos anos 1960 e abriu cursos, participou de exposições, lançou sua carreira e obteve reconhecimento, mas optou por não se casar.

Thaís – Como tu avalias o papel dos críticos de arte e dos professores na validação dessas mulheres enquanto artistas?

Úrsula – Os críticos que atuavam nos jornais do início do século XX, na sua maioria eram “amadores”, o que significa que escreviam sobre as exposições e artistas de um modo mais geral. O primeiro crítico de arte, contratado para esta função nos jornais, foi Ângelo Guido, que em 1928 assumiu esta tarefa junto ao jornal Diário de Notícias. Depois, em 1940, Aldo Obino passou a escrever também, junto ao jornal Correio do Povo. Ambos trazem textos sobre artistas mulheres, e sua atuação é muito importante para valorizar estas artistas e colocá-las no cenário do campo da arte do RS e do Brasil.

Pode-se dizer que, mesmo nos anos 1930 e 1940, Ângelo Guido não fazia diferenciações entre homens e mulheres nas questões de análise específica das obras. Sua abordagem considerava de igual modo a fatura, a capacidade expressiva e a “verdade” da obra. Muito embora, em alguns momentos é possível perceber certas “naturalizações” da linguagem no tocante às mulheres quando fala do “olhar feminino” ou de uma “sensibilidade feminina”. Mas ele não fazia diferenciação quando se tratava de legitimar artistas homens ou mulheres.

Thaís – Como era aplicado o termo “arte feminina” na época?

Úrsula – Os periódicos, revistas, jornais, até os anos 1940 trazem seções com temas femininos referindo-se ao “sexo frágil”. Em Pelotas a Revista Ilustração Pelotense sempre tinha artigos sobre o comportamento da mulher como esposa ou mãe, o que era ideal para determinadas situações com filhos ou a dedicação que deveria ter para com seu esposo. 

Esta fragilidade está vinculada ao modo como as ideologias apresentavam a mulher, e isso muito ligado também ao governo. Desde Júlio de Castilhos, final do século XIX, depois Borges de Medeiros e Getúlio Vargas, nós temos uma influência muito grande dos ideais positivistas no Rio Grande do Sul, que defendem a mulher como deusa do lar. Assim, a presença e atuação das mulheres nas artes era possível apenas em representações que mostrassem uma feminilidade dócil, caseira, voltada para os temas do lar, pintura de cenas do cotidiano, retratos e flores. Na exposição de 1935, do Centenário da Revolução Farroupilha, tivemos pouca participação de mulheres, mas as que participaram foi com esta temática.

Thaís – Na tua avaliação, o que pode ter contribuído para que artistas como as Alices conseguissem ingressar profissionalmente no sistema?

Úrsula – A Segunda Guerra também fez com que as mulheres tivessem um papel importante no mercado de trabalho, o que fez com que elas percebessem que tinham condições e poderiam desafiar quem discordasse de sua capacidade de produzir e se realizar profissionalmente.

Alice Soares e Alice Brueggemann se formaram na Escola de Artes e começaram a atuar nos anos 1950, com um campo artístico já mais constituído no RS, num panorama em que o espaço para exposições se ampliava, a Chico Lisboa com grande protagonismo, surgimento de Galerias, a crítica acontecendo nos jornais com a forte participação de professores do Instituto de Artes nestes campos todos. 

Mas, independente deste contexto, o fator importante é que elas optaram por dedicar sua vida à arte e voltaram sua atuação para esta realização. Abriram um ateliê juntas, tiveram atuação em escolinha de arte, participaram de Salões e fomentaram o movimento artístico no RS.

Enciclopédia das artistas pioneiras do RS

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(crédito Acervo Artístico IA UFRGS)

Em meio a tantas mulheres que se formaram na Escola de Artes de Porto Alegre, inclusive participando de salões de artes, nem todas conseguiram ou optaram por seguir carreira. Entre aquelas que desenvolveram uma maior maturidade artística e tiveram alguma inserção no mercado, selecionamos alguns nomes das artistas cujas obras estão em acervos públicos de arte presentes no estado. Confira um resumo de cada trajetória:

Alice Brueggeman

(Porto Alegre, RS – 1917 – Porto Alegre, RS – 2001)

Construiu uma trajetória na pintura, que aliou a arte figurativa à técnica da veladura. Como escreveu a professora e crítica de artes Neiva Bohn no Jornal do Margs, em 2001, Brueggemann “aprendeu a capturar para suas pinturas e desenhos o que havia de mais misterioso no espírito moderno. Suas obras foram sendo impregnadas por uma melancolia ímpar”. Alice se formou em 1944. Foi presidente da Associação Rio-grandense de Artes Plásticas Francisco Lisboa e participou de exposições coletivas pelo país, como o 14º Panorama de Arte Atual Brasileira (1983) realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Seu trabalho como artista foi reconhecido através de várias premiações. Abriu um ateliê com Alice Soares, que se tornou ponto de encontro de artistas e colecionadores.

Alice Soares

(Uruguaiana, RS – 1917 – Porto Alegre, RS – 2005)

Foi uma das primeiras alunas do curso a seguir profissionalmente a carreira, ajudando também na consolidação do sistema de arte do estado. Teve destaque com suas pinturas figurativas, trabalho que continha uma simplicidade compositiva que já demonstrava modernidade. No entanto, pode-se dizer que foi quando abandonou os pincéis e passou a trabalhar com desenho em carvão que Soares encontrou sua vocação, em um processo que culminou em desenhos modernistas nos anos 1960. Sua primeira exposição individual foi em 1959, no Margs, seguida de diversas exposições inclusive no exterior. Abriu um ateliê com a pintora e amiga  Alice Brueggemann.


Amélia Pastro Maristany

(Porto Alegre, RS – 1897 – Porto Alegre, RS – 1979)

Fez parte da primeira geração de alunas a alcançar projeção profissional, expondo e vendendo suas obras, em especial quadros retratando flores. Amélia se destacou como pintora, obtendo medalha de prata no Salão de Belas Artes em Porto Alegre em 1939. Desde o começo da década de 1920, já integrava exposições em cidades da Argentina e em centros culturais da Europa ao lado do marido, Luís. Críticos como Ângelo Guido avaliaram sua obra como “autônoma”. Em 1940, participou do Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, com menção honrosa. Sua última exposição ocorreu em 1971, em Porto Alegre.

Christina Balbão 

(Porto Alegre, 1917 – 2007)

Integrante da primeira turma de mulheres formadas em escultura no Instituto de Belas Artes, Christina Balbão foi uma mulher de muitos talentos. Iniciou na pintura, logo se encontrando na escultura, que a pesquisadora Maria Tereza Medeiros descreveu como “rica em belas e harmoniosas curvas, executada com objetividade e força, excluindo as superfícies lisas de suas figuras”. No entanto, foi fora dos ateliês que ela deu suas maiores contribuições à arte gaúcha. Integrante ativa do sistema de arte, Christina ajudou a fundar o Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Margs), do qual foi a primeira funcionária, contribuindo para a aquisição das primeiras obras do acervo. Incansável, também atuou no Theatro São Pedro e na criação da Bienal do Mercosul. Além disso, ela dedicou sua vida ao ensinando, se tornando professora titular da disciplina de desenho, formando uma geração de artistas gaúchos. 

Dorothea Vergara

(Porto Alegre, RS – 1923)

Estudou no Instituto de Belas Artes entre os anos 1942 e 1947, onde obteve graduação em Pintura e Escultura, atividade com a qual se destacou no mercado. Entre suas primeiras obras está a gravura Salamandra (1923), que compõe o acervo do Margs. Dorothea obteve destaque nacional, participando de exposições coletivas e salões ainda antes de ingressar na Escola. Recebeu medalha de ouro no Salão Nacional de Belas Artes, em 1945, e no I Salão Pan-Americano de Arte, em 1958, que ocorreu em Porto Alegre. A partir dos anos 1967, voltou sua atenção para a magistratura, quando fundou a disciplina de Escultura e Modelagem, na Escola Superior de Belas Artes Santa Cecília, em Cachoeira do Sul. A escultora também lecionou na Universidade Federal de Santa Maria e no Instituto de Artes. 

Hilda Goltz

(Cachoeira do Sul, RS – 1908 – 2009)

Uma das ceramistas pioneiras no Brasil, Hilda Gotz se formou no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre em 1940. Antes, porém, mostrou seu talento para a pintura, que ela já desenvolvia em seu município de origem, pintando lavouras arrozeiras da região. Em 1940, ela foi medalha de bronze na categoria pintura no 2.º Salão de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Pouco depois, começava sua carreira na cerâmica. Sua carreira dividiu-se entre a magistratura (foi professora de Cerâmica na Escola de Belas Artes da UFRJ a partir de 1949) e as exposições, em âmbito nacional e internacional. Em 1950, Hilda foi premiada no Salão Nacional de Belas-Artes e, em 1953, participou da histórica II Bienal de São Paulo.  Nos anos 1960, restaurou painéis de Cândido Portinari no Ministério da Educação. Em Brasília, também realizou um painel em cerâmica na residência do Ministro das Relações Exteriores em 1972.

Judith Fortes

(Porto Alegre, RS – 1896 – 19??)

Foi uma das primeiras alunas do Instituto de Belas Artes do RS, concluindo a graduação em 1922. Atuou como professora substituta da Escola, inclusive mantendo um curso preparatório para o vestibular de Artes Plásticas. Judith foi uma das fundadoras da Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa, em 1938. A pintora participou do Salão de Belas Artes do Rio Grande do Sul de 1939 a 1954. Pesquisa realizada pela mestre em História da Arte Rosane Vargas revela que Fortes era valorizada pelos críticos de arte, uma vez que Ângelo Guido afirmou que ela “revelou qualidades dignas de nota”. Pouco se sabe sobre a continuidade de sua carreira, que deixou algumas obras conhecidas, entre elas a pintura “Ciganinha”, adquirida pela Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, da UFIRs. 

Leda Flores

(Porto Alegre, RS – 1917)

Formada em Artes Plásticas pelo Instituto de Belas Artes, Leda Flores fez carreira como escultora e ceramista no estado. Em 1935 obteve medalha de ouro no Salão Farroupilha, Porto Alegre e participou de outros salões também no RS. Foi premiada no Salão Panamericano, em 1958. Uma de suas principais obras é “A Flautista” (1976), escultura ao redor da qual foi feita uma foto histórica de Fernando Corona e suas alunas. 

Marianita Tollens Linck

(Porto Alegre, RS – 1924)

Uma das fundadoras da Associação dos Ceramistas do Rio Grande do Sul (Acergs), Marianita dedicou sua vida à cerâmica, inclusive protagonizando a criação do curso de Bacharelado em Cerâmica do Instituto de Artes (IA) da Ufrgs. Também formada pelo Instituto de Artes, ela continuou seus estudos como bolsista nos Estados Unidos, Argentina e Japão, antes de voltar e fazer carreira em Porto Alegre. A partir de 1968, passou a integrar o corpo docente do Instituto de Artes da Ufrgs. 

Maria Lídia Magliani

(Pelotas, RS – 1946 – Rio de Janeiro RJ –  2012)

Maria Lídia dos Santos Magliani, apesar de pertencer a uma geração posterior em relação às primeiras alunas do Instituto de Artes, também foi pioneira. Primeira aluna Negra da instituição, Maria Lídia rompeu barreiras e construiu carreira quando saiu do estado e foi morar em São Paulo, Minas Gerais e depois Rio de Janeiro. Antes, cursou também pós-graduação na Escola de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS no final dos anos 1960. Durante o curso, realizou sua primeira exposição individual. Também expôs individualmente em espaços como o Museu de Arte do Rio Grande do Sul e Pinacoteca do Estado de São Paulo. Ao longo de sua vida, atuou como uma pintora, desenhista, gravadora, ilustradora, figurinista e cenógrafa.

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Nortista vivendo no sul. Escreve preferencialmente sobre políticas culturais, culturas populares, memória e patrimônio.
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