Cristal: “Trabalhar com música é um desafio a cada semana”

Foto: Alisson Batista

A trajetória de Cristal começou em rodas de poesia nas ruas de Porto Alegre em 2017. Dois anos depois, ela estreava no rap com o single “Rude Girl”, e logo após “Ashley Banks”, hit que abriu portas para a artista trabalhar com o fenômeno Djonga na música “Deus Dará”. Depois de ter lançado singles como “$incera” e “Joia Rara” com seu parceiro e produtor musical MDN Beatz, a rapper lançou este ano seu primeiro – e aguardado –  EP, “Quartzo”.

No EP, recheado de letras intimistas e influências do samba e da MPB, a rapper fala sobre o processo de ver sua arte chegando a cada vez mais espaços. Não à toa, a palavra sonho aparece em faixas como “Lá em casa”, na qual ela lembra do acolhimento que sempre teve na família para seguir a carreira. “Se eu me perder eu vou voltar pra casa/pretinhos me esperando lá”. 

Em artigo para o Nonada, a artista escreveu sobre sua trajetória e sobre a arte de viver de cultura no Brasil. “Hoje com uma equipe formada por pessoas da minha família, amigos e pessoas de confiança, eu vejo a cada objetivo e a cada trabalho concluído que é possível viver do sonho”, diz. O depoimento está também na nossa revista impressa. Saiba mais aqui.

Vivendo de arte

Por Cristal

A primeira vez que mostrei as minhas composições ao público de fato foi em 2017, em um evento da escola que envolvia a produção de um livro de poesias. A minha letra foi a escolhida para ser recitada aos pais e professores no dia. No mesmo ano, comecei a acompanhar e participar dos Slams (competições de poesia falada), e então a minha visão sobre arte e o sobre o que eu almejava com ela começou a crescer.

As rodas de poesia fizeram pontes para os meus primeiros trabalhos como artista, participei de oficinas em escolas, palestras em universidades, abertura de shows, festivais e até mesmo atuações no cinema. Todas essas vivências me fizeram refletir sobre a possibilidade de trabalhar fazendo arte.        

As propostas de eventos e convites começaram a aumentar e as responsabilidades com o que eu ia apresentar mudaram meu planejamento, meu discurso, meus objetivos. Foi um “agora ficou sério!”. Sempre tive minha mãe ao meu lado durante essas experiências de trabalho, então fomos aprendendo juntas e na marra a nos organizar enquanto toda essa loucura acontecia. Houve um momento em que eu tinha eventos toda semana, às vezes, ensaiava meus textos e estudava para as provas de matemática ao mesmo tempo, o que foi complicado, mas com o tempo consegui conciliar. 

Em 2019, lancei meu primeiro single “Rude Girl”, logo depois “Ashley Banks” e começou uma nova fase de apresentações, agora como rapper e nos palcos, cantando. A minha arte trazia prosperidade para minha casa, para nossa mesa, eu via no meu sonho uma forma de sustento também, então com toda a base e estrutura que tínhamos criado com os Slams, começamos a criar outras estratégias e organizações para um novo trabalho, e um novo produto: a música. 

Nunca foi fácil, desde os primeiros eventos até os mais recentes. É muita “porta na cara”, dificuldades, incertezas, e sacrifícios, infelizmente não basta sonhar e a carreira artística não é tão “glamourosa” e “pronta” como imaginamos. Aprendi com o tempo que é fundamental um estudo da própria arte: “Onde quero chegar?”, “Para quem eu quero falar?”, “Como vou falar?”, “Com quem eu vou falar?” e principalmente um estudo externo sobre o mercado que envolve a sua arte: “Como minha música vai chegar nas pessoas?”, “Como eu vou lançar?”, “O que eu preciso?” “Qual o meu objetivo?”, Etc…

Hoje com uma equipe formada por pessoas da minha família, amigos e pessoas de confiança, eu vejo a cada objetivo e a cada trabalho concluído que é possível viver do sonho – não é fácil e nem sempre bonito, mas é possível. Nem sempre os artistas têm o apoio dos familiares ou amigos, mas saber o que se quer é um grande passo para alcançar o objetivo. 

Atenção e estudo são fundamentais para defendermos nosso trabalho, nossa arte, nossas ideias com propriedade e não sermos passados para trás, assim como a humildade para aceitar que estamos em constante aprendizado para explorar os assuntos, sair da zona de conforto. Trabalhar com música, com a arte, para mim é um desafio a cada semana, a cada dia um novo objetivo, um novo obstáculo, uma nova situação para dominar ou para viver.

Este artigo integra a Revista Nonada: sobre viver de cultura. Saiba como adquirir sua edição. 
Compartilhe
Ler mais sobre
cultura negra hip-hop
Ler mais sobre
Processos artísticos Reportagem

Corpo tem sotaque: como mestra Iara Deodoro abriu caminhos para a dança afro-gaúcha

Culturas populares Reportagem

A resistência do rap e do Hip-Hop no interior do Rio Grande do Sul