Ilustração: Aline Guimarães (@lineaaaa_)

Da história à matemática, professores levam culturas de matrizes africanas às escolas

Em meio a três atabaques de diferentes tamanhos, enlaçados com tecido azul, reluz um troféu dourado. O objeto é prêmio do Congresso Científico Sertão Preto, da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), e foi colocado em um lugar de destaque no Ylê Axé OyóMecêAlaketú Ogum Onirê, casa de Candomblé assentada no interior da Bahia. Foi pelas mãos do Ogã e professor de matemática Joseney Leite Conceição que o prêmio chegou até o terreiro. 

Dá também para dizer também o contrário: a vivência no terreiro levou Joseney até a pesquisa premiada, que uniu saberes iorubanos para o ensino dos conteúdos de matemática. Há 20 anos, ele é professor na cidade de Governador Mangabeira, na Bahia, e desde que começou a se especializar em educação no campo, tem levado para a sala de aula elementos da cultura dos povos de terreiro. “Eu vejo que na escola, muitas vezes, os conhecimentos tradicionais dos povos do campo e de terreiro, construídos ao longo de séculos, são deixadas de lado, em detrimento de um conhecimento racionalista e cartesiano”, diz.

O que ensina ainda são as aulas de fração, geometria e matrizes, comuns a um professor de ensino fundamental. A diferença é que ele tem encontrado novas maneiras para aproximar os estudantes desta disciplina que costuma ser o desafio de muitos. Ao inventar metodologias que são fundamentadas em culturas afro-brasileiras, Joseney faz viver a Lei 10.639, que este ano completa 20 anos de promulgação no país.

O exemplo premiado no Congresso foi um exercício que Joseney propôs, em que associa o conteúdo de matemática de matrizes à ritualística de obrigações presentes no Candomblé. Para ele, o “chão” do terreiro traz formas de ensino-aprendizagem que podem dialogar com a escola, inclusive em conteúdos práticos, como a sustentabilidade.

“Aqui no terreiro, a gente canta para usar determinada folha. Você precisa ficar de resguardo, em respeito àquela vida, àquela árvore que você tirou parte. Assim como na agroecologia, que a gente aprende na escola, e que fala deste respeito ao ser humano, à terra, à água, aos animais”, explica.

Prêmio recebido pelo professor Joseney está exposto ao lado de tambores no terreiro (foto: arquivo pessoal)

Joseney quebra os estereótipos do que seria um professor de matemática. Ele fica longe daquela figura distante do imaginário discente, que passa macetes de memorização e quer reprovar os alunos. Em uma atividade, ele conta que chegou, na sala, com seu cordão de contas no pescoço, um livro, e algumas folhas.

 “Quando os alunos foram chegando, olharam [com os olhos arregalados]: o professor vai fazer macumba?”. Joseney ficou quieto, observando os comentários, os silêncios, os olhares dos alunos que entravam. “A aula fluiu, e eu pensei que consegui provocar neles uma reação e dali partiu o conteúdo. Poderia ser uma pedagogia da provocação. Elementos que provoquem alguma questão, para que através disso a gente possa desconstruir um monte de coisas, inserindo nossas perspectivas de respeito, jamais de imposição religiosa”, explica o pesquisador. 

“Uma discussão que o trabalho de Joseney traz é tirar a matemática deste lugar que não se relaciona com nada”, analisa Jaqueline de Souza Pereira, que atualmente é professora do Programa de Pós Graduação da Universidade Estadual de Feira de Santana e orientou o trabalho de Joseney. “É um desafio muito grande nosso compreender que a Lei que obriga a discussão sobre cultura negra, afro-brasileira e indígena não é apenas para a área de humanas”, provoca. 

Matemática nas relações étnico-raciais 

Em outra ocasião, Joseney levou alunos do 5º ano para conhecerem o terreiro do qual faz parte. Foi um processo de negociação com a escola. “Expliquei para a diretora sobre a matemática dos Ibás, dos búzios, das formas geométricas que existem no terreiro. E também o desejo de quebrar esta barreira de que é algo negativo, porque conhecendo a gente acaba transformando e informando.” 

Após sucessivas conversas, ele conseguiu levar a turma, que durante a visita aprendeu sobre a matemática ancestral africana, sobre desenhos geométricos, círculos, retângulos e de que forma estes são organizados nas casas dos Orixás. Também puderam falar de materiais e suas características, como o ferro, que é ligado a Ogum. “Estávamos aprendendo sobre geometria plana e também mostrando que ali são várias Áfricas. É terra de Ketu, de Oxóssi, de Oxum. Cada ambiente vai trazer elementos de um país do continente africano e daqueles povos.” 

Jaqueline explica que  conversa com os professores sobre o papel da matemática na evasão escolar. “A gente fala muito de evasão, mas não olha para o que desmotiva ele. Em geral, quando alguém pergunta por que o aluno perdeu de ano, dificilmente vai ser por conta de história ou geografia. Ele perdeu em matemática. E como a gente lida com esse lugar e reflete? Cada vez mais, há necessidade de pensar a matemática neste contexto social”, diz a doutora em Educação pela UFBA.

A alimentação também pode ser um material de aprendizado, acredita Joseney. Este momento, normalmente visto de forma pragmática, da merenda, pode ser um espaço de reflexão e aprendizagem. “Sinto falta dos sons, dos cheiros, das comidas, nas escolas. A comida é um elemento que também acredito que exista um potencial muito grande de aprendizado”, sugere o professor. Abordar as frações e como cada porção de alimento entra é uma forma de inserir este conteúdo, e aproximar os estudantes. 

O professor acredita que esse pode ser um processo formador para todos os alunos. “Muitos estudantes são negros e negras, e mesmo que tenham outra identificação cultural e religiosa, que a gente respeita, que eles possam conhecer diferentes processos de construção.”

Aplicando a Lei nº 10.639, antes da Lei 

A professora Vanda Machado é pioneira na aplicação do ensino de culturas africanas nas escolas (Foto: divulgação)

Vanda Machado implementou a Lei nº10.639, antes de ela existir enquanto uma obrigatoriedade nacional. Ela tem mais de 60 anos de sala de aula e é doutora em educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Sua inquietação com o currículo das escolas começou cedo, quando morava no subúrbio de Salvador, Paripe, e observava que a comunidade só falava em suas origens ocidentais. Já nos anos 80, criou seu primeiro projeto, chamado Raízes Culturais, que falava de África e da Diáspora Africana nas escolas.

Na época, Vanda foi convidada para participar de um evento sobre educação em Nova Iorque, onde Mãe Stella de Oxóssi também estaria. Várias pessoas aconselhavam a professora a falar com a Mãe Stella e contar de seu projeto educativo, mas a pesquisadora ficou resistente, porque elas não se conheciam ainda. Demorou três dias para tomar coragem e, finalmente, conversar com uma das ialorixás mais reconhecidas do Brasil. “Eu não tinha ideia do que era o Candomblé”, conta. Quando falou com Mãe Stella, ela disse: “Quando chegar no Brasil, nós vamos conversar com Xangô.”

“Outro dia, fui lá e perguntei para ela: já falou com Xangô?”, conta rindo. “Mãe Stella, disse que não, que não era assim.” Até que chegou o dia de as duas irem no Ilê Axé Opô Afonjá, ao quartinho de Xangô. A Ialorixá, com as mãos cheias de búzios – conchinhas, nos olhos de Vanda que ainda não era iniciada na religião -, jogou. O projeto da professora tinha benção, sim, dos Orixás e podia seguir. “Tudo certo, quando você quer começar?”, disse a Mãe Stella de Oxóssi. 

Vanda entrou na escola Eugênia Anna, escola pública de Salvador, onde deu início ao Projeto Irê Ayó, um projeto político pedagógico que se tornou referência na inserção de conteúdos afro-brasileiros na escola. A instituição ficava – e ainda fica – dentro de um terreiro, mas apesar de dividirem o mesmo espaço, havia pouco diálogo.  

Desde o início, a pesquisadora acreditava que para haver mudança nas salas de aula, o primeiro passo deveria ser a formação das e dos professores. “Minha ideia era fazer uma educação em que a escola contasse sua própria história. Para isso, era importante que as educadoras entendessem qual era essa história. A formação era ininterrupta.” 

A primeira ação foi sair com as docentes, no final dos anos 90, caminhando pelo Terreiro. “Embora a escola seja dentro do terreiro, antes as professoras passavam com a mão virada para o outro lado para não olhar a Casa de Xangô.” Vanda levou todos para andarem no Ilê Ibó, casa de adoração aos mortos.

“Eu contava para as professoras a história dos nossos ancestrais, como eles eram líderes e guerreiros”, lembra Vanda. Era um dia de sábado, e o grupo caminhava e encontrava as mais velhas da comunidade que ao ver a escola andando dentro do terreiro, ficavam felizes. “As professoras ficaram perplexas com a visita”, recorda a pesquisadora. “Elas se espantaram porque só viram beleza.”

Vanda enfrentou dificuldades, que existem até hoje, como o fato de uma professora ter preferido se transferir da escola, do que integrar o projeto. “Mesmo na escola, se a diretora ou diretor cismar que não é para fazer, o professor não consegue executar a ideia”, diz. O Projeto Irê Ayó chamou atenção internacional, tendo sido apresentado em países como a França, Portugal e Cuba, e reconhecido como Referência Nacional pelo Ministério da Educação (MEC).

Iansã, criadora da Democracia 

Mural Iansã Criando a Democracia (Foto: arquivo pessoal)

Quando se fala no surgimento da democracia, os livros didáticos costumam associar as imagens dos gregos e da Antiguidade Clássica. No Projeto Irê Ayó, o que se faz é pensar novas formas de contar a história a partir de referências que não sejam apenas ocidentais. Em “Iansã criando a Democracia”, Vanda propôs aos alunos uma série de atividades a partir do mito africano de que Ossain,  divindade que sabe das folhas de cura, queria manter todo seu conhecimento para si. Os Orixás, revoltaram-se, pois queriam acessar também as plantas que poderiam auxiliar seus filhos. 

Foi o vento de Iansã que fez com que todas as plantas se espalhassem, e que fossem divididas, assim como é uma democracia, para toda comunidade. “Quando a gente conversa com as crianças, elas compreendem a organização que nossos ancestrais já pensavam. Era perto de uma eleição, e eu não tinha exemplo nenhum, palpável, para falar com as crianças sobre essa democracia, a que se conecta com a cultura e epistemologia afro-brasileira.” 

Para Vanda, a aprendizagem precisa sair do lugar da memorização e reprodução para tornar-se uma “aprendizagem significativa”. E isso só acontece quando há reconhecimento e proximidade com o que se apresenta na escola. “Quando nós não nos escutamos, nós corremos o risco de mergulhar em uma narrativa única, que não reflete aquilo que nós somos, que a criança é, que é o retrato da comunidade”, explica a pesquisadora. “Uma educação antirracista não é apenas para crianças negras. É para crianças brasileiras”, sintetiza. 

Axé Pedagógico 

Xirê em Iorubá significa roda, afeto, festa, brincadeira. Acreditando que é preciso convocar o corpo para o aprendizado, e as memórias ancestrais, a educadora Tamis Ferreira criou o projeto Xirê de Quintal, que realiza oficinas para crianças e “crianças grandes”, a partir de brincadeiras africanas. 

Tamis começou a desenvolver o Xirê logo no início da graduação de Pedagogia na USP, quando percebeu uma enorme ausência de abordagem sobre as relações étnico-raciais. “Eu comecei a me deparar com um currículo extremamente branco-cêntrico, eurocêntrico. Não encontrar os meus pares na bibliografia de curso me deixou neste desejo pulsante de construir uma trajetória afrocentrada de pesquisa.”

O quintal é uma imagem que Tamis traz para o nome do projeto, por enxergá-lo como um espaço de memória e afetividade, onde, principalmente a população preta, conecta-se com suas avós, com as festividades e com as ruas. A arte-educadora criou um Manual de Brincadeiras Africanas, um material para educadores, escolas e famílias, nascido a partir da pesquisa e também da experimentação dela em oficinas. 

A professora e escritora Tamis Ferreira (Foto: divulgação)

Atualmente, a pesquisadora está trabalhando para ampliar, reunindo mais brincadeiras, cada uma com curiosidades vinculadas a seus países de origem. “É um trabalho extenso de pesquisa, de tornar pedagógico, e da tentativa de imprimir um pouco das minhas experiências com as brincadeiras em roda, no Xirê de Quintal, e também reunir o que as crianças trazem. Sem os erês, as crianças, não é possível construir nada.”  

O que move o Xirê e as brincadeiras é o que Tamis nomeia como “Axé pedagógico”. Ela explica, que a partir das cosmologias africanas, o Axé é a energia impressa nos corpos pretos e diaspóricos, a ligação com a comunidade e a ancestralidade. “Acredito que Axé é epistemológico. São nossas construções, enquanto população preta, a partir de nossas sabedorias e tecnologias ancestrais.”

Ela enfatiza também a dimensão do compartilhamento. O Axé enquanto energia que tem seu sentido no movimento, na troca. “Os conhecimentos estão para além das religiões, porque estamos em um país laico. A gente gostaria de, de fato, um respeito, uma equidade, em relação às crenças como um todo”, explica. 

A educadora é também escritora do livro Ayó e as Formiguinhas, que conta a história de uma menina sapeca, que quer ser livre com sua família e amigos,  em uma escola quilombola. “Crianças pretas precisam ver outras crianças pretas sendo livres”, afirma a educadora.  

Ilustração do artista Obera’s para o livro Ayo e as Formiguinhas (Foto: reprodução)

Assim como Oxum, que a partir de seu espelho (abebé), mostra os diferentes reflexos de uma mesma pessoa, Tamis acredita na importância da literatura, cada vez mais, retratar estas imagens. “As crianças precisam se ver no espelho das páginas do livro. As crianças pretas e não-pretas aprendem a respeitar seus coleguinhas. Não apenas em maio, ou em novembro”, enfatiza. 

“O livro traz uma família preta feliz. A gente precisa dessa imagem também. Um pai presente, afetuoso, que penteia o cabelo da filha. Uma avó preta, que traz na oralidade das suas histórias, esta ancestralidade, este retomar do passado para o presente.”

Ossain para as Crianças 

O quintal é também um espaço significativo para o pesquisador Luiz Rufino. Prestes a lançar seu primeiro livro para crianças, sobre o Orixá Ossain, ele conta que escrever a obra foi como realizar um desejo antigo, e ter a possibilidade de mergulhar em suas memórias de infância no subúrbio do Rio de Janeiro. Vizinho de muitos terreiros de candomblé e umbanda,  Rufino brincava nos quintais com folhas, árvores e bichos. Era também rezado por benzedeiras e cultivava um grande fascínio grandioso por feiras. “A meu ver, Ossain está presente em tudo isso e tantas outras coisas que atravessam as infâncias”, diz o autor. 

O livro sobre Ossain faz parte da coleção da editora Arolê Cultural, que está lançando um livro infantil para cada um dos 16 Orixás comumente cultuados no Brasil. Já foram publicados obras de Exu, escrita por Mighian Danae; Ogum, por Luiz Antonio Simas, e Oyá Iansã, por Andressa Cabral. A editora é especializada em produções sobre o universo das comunidades de Umbanda e Candomblé.  

Livro da Coleção Conhecendo os Orixás (Foto: divulgação)

“Falar de orixás para as crianças é simples, pois estamos a falar de parte da cultura das populaçoes negro-africanas reconstruídas e praticadas cotidianamente no Brasil. Os orixás estão presentes na cultura do país, seja dentro ou fora dos terreiros, e as crianças reconhecem isso”, diz Rufino. 

A Arolê Cultural já havia publicado, em 2019, um livro precursor, que apresenta os orixás às crianças. “Conhecendo os Orixás: de Exú a Oxalá”, escrita por Waldete Tistão e ilustrada por Otávio Bressane, a obra conta visualmente as histórias dos Orixás, seus modos de ser, de apresentarem-se na natureza, suas comidas de preferência, nomes, e dias da semana em que são cultuados.  

O ponto de partida de Otávio para a elaboração das ilustrações foi o de que as forças da natureza se relacionam com cada uma das divindades, e não há como separá-las. “A encruzilhada é importante para representar Exu, assim como a estrada para Ogum, a caça para Oxóssi, o sol para Omolu, as plantas para Ossain, o ouro e a água em fluxo para Oxum, a névoa de Ewá, a tempestade em Iansã, o vulcão e a pedreira de Xangô, o branco de Oxalá”, explica. 

Orixás nas Escolas 

“Exu nas escolas”, canta Elza Soares no disco Deus É Mulher. A canção virou uma espécie de grito-protesto, que reivindica uma pedagogia outra, pautada pelo antirracismo e pela valorização das epistemologias africanas. Para Rufino, a abordagem destes temas é necessária. 

Autor dos livros Pedagogia das Encruzilhadas (2019) e Vence-Demanda: educação e descolonização (2021), Rufino acredita que as pedagogias devem tratar os traumas produzidos pelo racismo, sexismo, e colonialismo. “Tenho entendido que umas das principais tarefas da educação no Brasil é praticar a descolonização.” Segundo o educador, os terreiros, assim como outros espaços comunitários, caminham desde sempre nesta direção. 

“Nesse sentido, a noção de encruzilhadas, fundamental em Exu, seus mitos e práticas de saber, nos convoca ao diálogo responsável, à relação, à intimidade com a dúvida e vai ao encontro da máxima freireana que “o mundo não é, mas o mundo está sendo.”

Para ele, iniciativas como  a recém lançada coleção da Arolê impactam de maneira afirmativa o combate ao racismo. Ele acredita que estas obras, sendo lidas pelas crianças, apresentam uma diversidade do mundo, como sua possibilidade de pensá-lo e experimentá-lo. “A meu ver, é um equívoco fechar o debate como uma questão meramente religiosa. Essa tem sido a maneira que muita gente tem se posicionado para não se responsabilizar com o combate ao racismo.”

O que a Lei 10.639 formaliza é, na verdade, uma responsabilidade da escola, enquanto espaço formador. “A escola é um espaço que deve ser fiel à vida. Assim, ela deve estar disponível a acolher a diversidade que compõe a vida.”

“A escola não é o lugar de uma última verdade sobre as coisas, mas o lugar do diálogo, das aprendizagens, dúvidas, criatividade, responsabilidade com o outro e da alegria”, finaliza Rufino. 

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Repórter do Nonada, é também artista visual. Tem especial interesse na escuta e escrita de processos artísticos, da cultura popular e da defesa dos diretos humanos.
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