Tati Quebra Barraco: “Cheguei onde eu queria chegar quebrando tudo”

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Texto e entrevista Luana Casagranda e Thaís Seganfredo

Fotos Nádia Campos Alíbio

Cada vez mais consumido pelas classes média e alta, o funk vem ganhando espaço também em casas noturnas de Porto Alegre, onde há pouco tempo só o rock e o pop tinham vez. Foi nesse cenário que Tati Quebra Barraco se apresentou no último sábado, 25. O palco do antigo Beco, hoje Anexo B, deu lugar a uma das vozes pioneiras das mulheres entre o funk.

Antes de Tati subir ao palco, djs animavam a casa com muito pop e funk melody. O público, em sua maioria jovens de pouco mais de 18 anos, não parecia ansioso. Alguns aparentavam desconhecer que, em poucos minutos, um símbolo do poder do funk estaria diante deles. Com o hino “Boladona”, Tati chegou para quebrar tudo e, sem perder o fôlego, cantou por 1 hora desde seus mais consagrados hits como “Dako É Bom” e “Fama de Putona” até novas do CD Se Liberta, como “Os direitos são Iguais” e “Tô Pegando Pai, Tô Pegando Filho”.

Nesta breve conversa feita antes do show, na pista debaixo da casa – fechada só para Tati-, ela conta como está sendo sua experiência com o Lucky Ladies, reality show no qual ela acompanha e coordena um grupo de jovens funkeiras. A cantora também fala do novo CD, relembra o início da carreira em 1997, e garante: “Hoje ninguém vai acabar com o funk”.

Nonada – Há mais ou menos dois anos o funk não tinha espaço em casas como essa. O que tu acha do funk estar ganhando esses espaços?

Tati – Desde que eu comecei, eu sempre cantei só pra playboy, em boates… sempre foi assim. Só que hoje a gente tá ultrapassando essas barreiras, tá conseguindo chegar nos nossos objetivos. Hoje ninguém vai acabar com o funk. O funk atinge vários lugares, a comunidade, a favela, os endinheirados, milionários, quem tem pouco dinheiro. Hoje todo mundo curte funk, então acredito que a gente conseguiu ultrapassar essas barreiras aí que a gente vinha enfrentando.

Nonada – Quando tu começou a tua carreira, tu foi uma das primeiras mulheres, se não a primeira mulher a cantar funk, como foi esse início?

Tati – É, a primeira mulher foi a MC Cacau, ela cantava com o MC Marcinho. Eles eram marido e mulher na época, e foi um sucesso na década de 90. Depois sim surgiu a Tati Quebra Barraco, só que a MC Cacau era melody e meu funk é mais pesado.

Nonada – E de onde vinha tua inspiração? Como tu começou?

Tati – Então, na verdade a gente começou a brincar na comunidade. Eu fiquei 3 meses sem namorar e eu fiz uma música brincando, deu certo e tô aí.

Nonada – E qual foi essa música?

Tati – “Me chama de cachorra que eu faço au au”. E aí então nunca mais parei. Eu comecei em 97 e tô aí até hoje.

Nonada – E hoje teu novo CD tem uma pegada mais melody, mais pop.

Tati – É, o Se Liberta.

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Com hits como “Boladona”, a funkeira cantou por cerca de 1 hora

Nonada – Como tu faz pra não perder a essência proibidona da Tati Quebra Barraco?

Tati – A gente não pode perder nossa essência porque na verdade a gente costuma falar que quando faz show, show ao vivo é uma coisa, na televisão a gente não toca o que toca no show. Então, infelizmente, tem que cantar, até porque a gente tem conta pra pagar e precisamos trabalhar. Se a gente quer que uma música alcance uma novela, como eu tive 4 músicas na novela América, tem que ir pra esse lado, mas não quer dizer que a gente vai perder nossa essência. Eu sempre falei, cantei, cheguei onde eu queria chegar quebrando tudo.

Nonada – Tua carreira estourou com “Boladona”?

Tati – Na verdade não estourou com Boladona, ela só me consagrou, porque eu já era estourada.

Nonada – E como tá sendo o Lucky Ladies agora, onde tu tá no comando de um reality show?

Tati – Então, o Lucky Ladies tá sendo muito bom não só pra mim como pra todas as meninas, porque quem já é conhecida vai se consagrar, e quem não é vai ficar consagrada. Eu já saí do Brasil, a (MC) Filé e a Sabrina já saíram, então é uma oportunidade pras outras meninas também.

Nonada – Existe a possibilidade vocês saírem juntas em turnê?

Tati – Sim, pode acontecer.

Nonada – E como foi a convivência nesse tempo?

Tati – Não é fácil, até porque as mulheres no funk não são unidas. Os meninos saem, jogam bola, se encontram depois dos shows. As mulheres só se encontram. Então um dos intuitos do programa foi unir mais as mulheres.

Nonada – Por que tu acha que isso acontece?

Tati – Tem mulheres no funk que acham que só elas podem brilhar e as outras não podem ter a oportunidade de cantar. Eu, Tati, não penso assim, eu acho que tem lugar pra todo mundo. Se vier pra levantar nossa bandeira do funk, que venha mais aí.

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Nortista vivendo no sul. Escreve preferencialmente sobre políticas culturais, culturas populares, memória e patrimônio.
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