Ilustração: Mitti Mendonça/Nonada

Nova pesquisa sobre clima e cultura traz matérias do Nonada como referência bibliográfica

Lançado no início de novembro, o relatório Cultura e Clima traz perspectivas sobre as relações entre o setor cultural e as mudanças climáticas, reunindo a literatura que existe sobre a temática, além de artigos de especialistas, ativistas e representantes de organizações da sociedade civil. A publicação foi realizada pelas organizações C de Cultura e Outra Onda Conteúdo, em parceria técnica com o Instituto Veredas, e apresentada para lideranças na COP29, que ocorreu no Azerbaijão. 

O relatório compreende a cultura como um importante elemento para o desenvolvimento de políticas verdadeiramente sustentáveis, reconhecendo o impacto das mudanças climáticas no patrimônio cultural material e imaterial, assim como como a potencialidade dos saberes das mais diversas populações de mover a discussão sobre Clima do campo individual e restrito para a coletividade.

O estudo traz como referência metodológicas projetos, análises e reportagens, dentre as quais se encontram as publicadas na editoria de clima e cultura do Nonada. Elas aparecem mencionadas na área de metodologia da publicação ao lado de organizações como  Climate Heritage Network, Unesco e Icomos/Brasil. Ao todo, foram reunidas cerca de 200 evidências encontradas a partir de buscas manuais em sites de organizações de referência sobre Cultura, Clima e Patrimônio, assim como artigos científicos referentes ao tema. 

Eduardo Carvalho foi um dos organizadores do relatório. Ele conta que no início, quando as discussões sobre o trabalho começaram, pretendia realizar uma grande pesquisa. O produto final tomou outro caminho, visto a literatura ainda escassa sobre cultura e clima no Brasil. Era preciso levantar o máximo de informações sobre a pauta, catalogando o que existe em relação à política cultural e projetos. “É tudo muito não sistematizado. A gente quis sistematizar esse material”, explica o organizador.

Para além da indissociabilidade entre Cultura e Clima, Eduardo Carvalho enxerga na Cultura uma plataforma para fazer com que as pessoas engajem por meio da emoção e da empatia: “As pessoas estão entendendo o que são as mudanças climáticas porque elas estão sentindo isso no seu dia a dia, no bolso. Se fala daquilo que apareceu no jornal, mas não se fala mais quais são os desdobramentos sobre isso. Além de sintetizar o banco de informações levantadas, a pesquisa também indica recomendações e as exemplifica com iniciativas já existentes, mapeadas no mesmo documento.

Políticas Públicas e Expectativas

“Patrimônio Cultural e Ações Climáticas”, evento paralelo do G20 realizado em maio pelo MinC (foto: Filipe Araújo/MinC)

A pesquisa ressalta a necessidade de criação de modelos inovadores de financiamento das práticas de integração da cultura e clima, que devem ser um esforço colaborativo entre governos, organismos internacionais e organizações da sociedade civil envolvidas no investimento social e privado. No entanto, destaca que as mobilizações acerca da integração da cultura e clima estão concentradas em coalizões da sociedade civil, enquanto um vazio permeia o âmbito governamental, como consta nesta reportagem especial

“O estudo [Relatório Cultura e Clima] traz informações sobre políticas culturais que existem fora do país e projetos culturais ligados ao clima no Brasil. Boa parte das políticas culturais ainda não fomentam a ação climática de forma sistêmica e efetiva”, comenta Eduardo.   

Com a COP30 no horizonte, o organizador do relatório tem esperanças acerca do futuro de políticas públicas para Cultura e Clima. “O Ministério do Meio Ambiente já entendeu que precisamos usar a Cultura como plataforma. O Ministério da Cultura acabou de realizar o G20 aqui no Brasil, falando sobre essa pauta. Há uma movimentação muito forte dos grupos ligados à Cultura para que a Cop30 ocorra de forma potente”, diz.

Ainda que o relatório tenha uma preocupação com o Sul Global como um todo, Eduardo espera que ele provoque um diálogo para que ocorra uma aceleração no debate sobre a temática no Brasil. “O Brasil vai ficar em evidência em vários aspectos por causa da conferência climática do ano que vem e a cultura deve ser, com certeza, uma das grandes potências, uma das formas de, de fato, facilitar a conversa entre sociedade e governos que vão lá negociar”, comenta.

Editoria de Clima e Cultura no estudo

Em janeiro de 2024, o Nonada lançou uma revista dedicada a Clima e Cultura e desde então conta com uma editoria focada na cobertura de assuntos referentes à temática. Ainda que exista um forte vínculo entre as mudanças climáticas e os saberes, detentores e trabalhadores da Cultura, ele é pouco evidenciado e muitas vezes assume uma posição secundária no debate. 

O Nonada aparece como uma das organizações utilizadas na metodologia, ao lado de entidades e coletivos como o Climate Heritage Network, o Art’s Council England e o ICOMOS/Brasil. As matérias da editoria de Clima e Cultura do site estão presentes na pesquisa.

As reportagens da organização são referenciadas a fim de embasar os dados levantados pelo relatório, visto que em grande parte discorrem sobre os impactos já percebidos por trabalhadores da cultura, como a reportagem sobre o trabalho de artistas de rua em meio a crise climática e a série realizada com o apoio do Pulitzer Center que cobriu a situação de comunidades sub representadas após as inundações no Rio Grande do Sul, denunciando as imensas perdas culturais provocadas pela má administração da crise. O especial Cultura e Justiça Climática, um debate urgente ajudou a embasar a insipidez de políticas públicas voltadas para a dinâmica Cultura e Clima, assim como a matéria sobre greenwashing e medidas adotadas por eventos culturais.

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Estudante de Jornalismo que acredita em uma leitura da realidade a partir das expressões culturais. Tem especial interesse pela imagem, religiosidades, perspectiva queer e jogos eletrônicos. Flerta com o cinema, organizando e participando das curadorias do Cineclube Vestígio em Porto Alegre.
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